Virtualização
O texto digital constitui o protótipo da virtualização. O papel que podia amarelar-se com o passar dos tempos, a letra escrita à mão, a pressão no papel... Os significantes que habitavam o texto escrito perdem lugar. No ecrã, eles são filtrados , substituídos por outros significantes nada palpáveis. Um tipo de letra, uma imagem, um áudio, um texto formatado que dirá deste outro tudo aquilo que se pode construir a partir da rede de símbolos que me é transmitida. De concreto, só a máquina.
O hipertexto diferencia-se do texto tradicional por não comportar a linearidade. A metáfora utilizada para o primeiro é a de uma rede: o hipertexto enquanto tecido, compondo-se de entrelaces. Mas o texto tradicional também se constitui como uma rede. Se leio um livro é certo que conceitos, palavras ou nomes me remeterão à busca de um maior esclarecimento sobre eles. No texto tradicional os entrelaces existem, mas não são colocados de forma tão explícita e provocativa como no texto digital. Neste, entrelaces estão visíveis e provocam, aproximam e convidam a participar. É pela disponibilidade com que se apresentam os actualizáveis caminhos no hipertexto que o dizemos móvel, fluído. Também porque linear sugere uma coisa atrás da outra, sugere o concreto, a sequência, a hierarquia, as palavras impressas dos textos escritos. No hipertexto, o leitor segue por caminhos inéditos e, desta maneira, contribui como um verdadeiro escritor para a construção infinita do texto. Através dos sentidos que o texto o faz produzir, o leitor vai produzindo sentidos num escrever que se torna colectivo.
E o primeiro indício da virtualização - como já mencionamos anteriormente - é a sensação de desassossego que sentimos frente às constantes mudanças. A velocidade do sistema online torna o tempo para tudo mais estreito. A rapidez com que uma ideia se actualiza e é substituída por outra, parece ser a mesma que faz com que tenhamos que nos reconstruir dia a dia. Reflecte claramente a descartabilidade das coisas no mundo actual.