espírito dadaísta
actualmente é-nos ainda muito difícil imaginar um mecanismo automatizado de escrita criativa. não do acto de escrever em si, pois desse temos inúmeros exemplos - desde a correcção ortográfica e sintática do word, com base num dicionário pré-existente e passível de ser completado, ao textos digitais que se constroem automaticamente, a partir de vocábulos e regras de significação estabelcidos pelo autor digital, até aos meios de tradução automática.
porém, não imaginamos um computador que escreva, filosofe, crie espotanea e subjectivamente qualquer tipo de texto literário de dita qualidade. a questão parta talvez daquilo que consideramos como literatura.
os dadaístas, por exemplo. o movimento de dada, extremo do aleatório, procura do non-sense, acabou por se tornar numa das mais mediáticas escolas artísticas da vanguarda do início do séc. XX. também eles recortavam fragmentos vocabulares ao acaso, misturando-as, combinando-os num jogo criativo de signos. também eles, os computadores, o fazem, talvez nós não lhes demos ainda o devido valor. aliás, "automático" não é de todo um termo dos nossos dias. já os surrealistas o utilizavam, e mesmo relativamente à escrita. procuravam, numa cadeia de significações escritas espontaneamente, sem a preocupação de lhes ver um sentido, uma expressão do subconsciente. a máquina combinátória que é o computador consegue igualmente o mesmo resultado, com base num dicionário - tal como nós, com base nos vocábulos que conhecemos... mas quem se interessaria pela psicanálise de um computador?
nesse sentido, a máquina tem tanto espirito criativo como o escritor dadaísta.