terça-feira, maio 15, 2007

Leitor cyborg para obra cyborg?

Aparentemente trata-se de uma obra simples: um pequeno desenho criado por quadros, dentro dos quais encontram-se outros menores e a cores.
Carrega-se no rato, e aparece uma outra nova imagem.
Repete-se a operação e de repente o ecrã enche-se com imagens, pequenos textos, linhas, e todo tipo de elementos em movimento. Das colunas saem diferentes sons, estranhos e assustadores. Entretanto no ecrã continua a aparecer toda essa série de elementos que na opinião do humilde leitor não tem lógica nenhuma...
E se essa ciber-obra poética fosse interpretada por um cyborg leitor? É isso preciso?
Na minha opinião, não é. O responsável por esse resultado é um computador, mas é claro que atrás do projecto encontra-se uma pessoa. Um programador que inseriu certos dados numa máquina de maneira que através de operações e combinações várias resultara uma obra que tivesse rasgos parecidos com a literatura tradicional. Ou seja, encontramo-nos perante uma literatura elaborada a partir da mistura das actividades de um indivíduo e um computador.
Ora bem, se essa ciber-obra é uma combinação aleatória de elementos que responde a determinados padrões lógicos parecidos com a literatura tradicional, porque é que não somos capazes de perceber o sentido ou o significado da mesma?
A resposta é simples: está a acontecer o que aconteceu noutras alturas com outros tipos de estilos literários. Estes guardavam certas semelhanças com estilos anteriores, mas as inovações que estes incluíam, em muitos casos, não eram facilmente percebidas. Um leitor qualquer não conseguia encontrar o significado da obra. Era preciso um certo estudo do estilo. Descobrir as regras, os padrões... Era preciso tempo, um periodo de adaptação e aceptação do estilo dentro da sociedade. É isso que acontece com as ciber-obras. Não precisam de cyber leitores. O que é preciso é tempo para que os leitores se habituem.