Reflexões sobre a linguagem
Na última aula, observamos uma peça animada de Tiago Gomez Rodrigues. Intitulada de "concretus" (2002), esta animação digital serve como uma homenagem a vários autores.
Para além de enaltecer alguns dos poemas desses autores, o "concretus" proporciona-nos uma viagem a uma outra dimensão composta unicamente por palavras.
Nesta dimensão, assim como em outras obras digitais, abundam vários elementos "multimedia" como o som, o movimento e a cor. Nesta obra, aparecem formas físicas, como a cascaca, aranhas, um cubo e uma esfera. Todas estas formas são sugeridas pela próprias palavras que definem os objectos acima citados (à excepção da esfera). Para além destas formas que o autor coloca em cena, há uma outra sensação que o autor evoca que é a tontura.
Esta evocação surge através da colocação da palavra tontura num movimento contínuo e esférico, o que dificulta a descodificação do leitor.
Que quererá o autor transmitir com esta animação? Será um mero exercício estético?
Terá substituído o autor os objectos pelas palavras a fim de nos facilitar a identificação dos objectos? Criar uma nova arte, através da reutilização das palavras (usando-as como formas físicas virtuais, e não como mera criação linguístico).
Lembro-me de uma história que li há tempos de Bernard Werber integrado num livro chamado "A árvore dos possíveis". A história desenvolvia-se em torno de um psicológo que em determinados momentos via as palavras em vez dos objectos (por exemplo, o livro descreve um encontro com um pombo, que em vez da forma física, o homem via um pequeno texto que continha todas as características da ave. O livro narra outros encontros com outros animais e outros objectos.). Quando vi a projecção do "concretus" lembrei-me imediatamente da tal história de Werber, tal eram as semelhanças entre ambas as obras.
O que mais se revolucionou na transição da escrita em papel para o meio informático foi o comportamento do leitor perante a criação do autor.
A leitura tradicional é uma abordagem insatisfatória na maioria das obras digitais.
A interpretação de "concretus", "my body", "nigma n" transcende a simples leitura.
É necessário activarmos os outros sentidos se quisermos encontrar as mensagens desses poemas.
Se calhar o psicológo da história de Werber via apenas um pombo, e não o que existia para além da simples forma física..