quinta-feira, maio 24, 2007

Hiperficção

"A página se converte na tela, a tela substitui a página. Poderíamos chamar a este movimento de substituição de ‘história’. Os textos eletrônicos se apresentam a si mesmos em meio de sua dissolução: se lêem onde se escrevem, e se escrevem enquanto se lêem" (Joyce, 1998, p. 280).


O aparecimento dos computadores pessoais e o desenvolvimento de programas específicos trouxeram novas potencialidades à narrativa. Deste modo, em meados dos anos 80, Michael Joyce, coordenador do Centro de Narrativa e Tecnologia do Jackson Community College e J. Bolter, criaram um programa, desenvolvido pela Apple Macintosh, a que deram o nome de Storyspace. Este software, integrando já a tecnologia hipertexto, permite unir textos ou fragmentos de textos conforme o autor desejasse.
Neste contexto, a hiperficção pode ser definida como um texto com várias opções de continuação (bifurcações), através de links à escolha do leitor, que por isso acaba por ter a possibilidade de criar a sua própria história, sua própria obra. De facto, a ficção em hipertexto assemelha-se a um jogo, cuja estrutura é um labirinto a ser decifrado.Assim, cabe ao leitor participar activamente neste jogo, que começa no momento em que o hipertexto é posto na Web, fazendo da sua leitura a continuação para o jogo. Na verdade, o jogo não tem quaisquer regras, sendo ao leitor atribuída a possibilidade de iniciar e terminar onde quiser.
Um dos exemplos desta espécie de obras é a produção literária de Shelly Jackson intitulada “ My Body”, composta por imagem do corpo feminino, que permite ao leitor, ao carregar numa determinada parte do corpo, seguir a hiperligação para um ou vários textos constituidos por memorias da autora relacionadas com estas mesmas partes do corpo.