terça-feira, junho 19, 2007

"Strings" - palavras de amor

Em strings, apenas com a utilização de uma única linha (cordas, do inglês "strings") que se transforma em distintas palavras, o seu autor conseguiu reproduzir uma discussão (amorosa, provavelmente) entre uma homem e uma mulher de uma forma em que a simplicidade se alia à sobriedade.

A primeira "string", marca o início da discussão.. ninguém quer ceder: aos "sim" opõe-se os "não" (argument). Lentamente os "talvez" começam ocasionalmente a surgir (argument2"), o que deixa antever uma reconciliação (os "talvez" substituem definitivamente os "não" em "flirt" - ou o início da conquista) que se verifica totalmente em flirt2, onde um tímido sim acaba por se emancipar.

Depois seguem-se os risos (cada vez mais constantes em "haha"), as primeiras manifestações de dependência emocional (youandme), onde se está mesmo a ver onde isto vai acabar : nos braços um dos outro, num longo, e reconciliante abraço! (arms). A última string deixa a frase, que não é mais do que a auto-explicação da obra : "as palavras são como cordas que saiem da minha boca"

E não é que são mesmo?

"My body" / "hegirascope" - hipertextualidades

"My body: a wunderkammer", de Shelly Jackson utiliza o formato hipertextual para nos mostrar como a própria identidade, está intimamente relacionada com a descoberta.

Com um simples clicar de rato, a autora dá-nos a possibilidade de a descobrir-mos, não directamente (ou fisicamente, para ser mais preciso), mas através das memórias que ela atribui a determinadas partes do corpo. O corpo no geral, não passa de um armazém para tais memórias, para tais elementos (partes do corpo), as maravilhas referidas no título, aquando da alusão à Wunderkammer (a sala das curiosidades, desordenada e instável como o próprio género hipertextual que a autora escolheu para acolher a sua obra).

Todo este conceito remete-nos para a forma como a identidade passa, não só pela descoberta, mas também pela evolução e auto-consciência das mesmas.

Aliás, a forma como o processo de auto-consciência evolui é representado na apresentação das narrativas: Escolhemos uma parte do corpo e somos brindados com um texto que, num momento inicial nos apresenta uma descrição no presente que serve de ponto de partida para a lembrança que se segue (e que, obviamente, está ligada à parte do corpo representada). No mesmo texto encontramos diversas ligações para outras partes do corpo, algo que vai modificar constantemente a evolução da narrativa.

É a experiência hipertextual por excelência, que se repete no texto "hegirascope", de Stuart Moulthrop, com a diferença que neste texto pode existir uma leitora pre-determinada (embora aleatória), devido ao auto-refresh a que páginas são sujeitas

Ao dar uma vista de olhos ao "prefácio", para além do título sugestivo do mesmo ("WHAT IF THE WORD STILL WON'T BE STILL?" - uma alusão à natureza da obra), é curioso reparar como de 175 páginas se conseguem fazer 700 hiperligações, algo que ilustra a forma como a falta de uma narração linear altera por completo a nossa percepção do texto.

Hiper... coiso

Não há muito tempo, o hipertexto era algo desconhecido e assustador (no fundo tudo o que é desconhecido assusta um pouco), e aparte de alguns especialistas poucos sabiam o seu verdadeiro significado. Hoje em dia o termo vulgarizou-se, mas no entanto, continuam a ser poucos a saberem defini-lo correctamente.

Tudo começou em 1945, quando Vannevar Bush idealizou a "Memex" (conceptualizada na imagem que ilustra este texto), aquela que seria a primeira máquina hipertextual da história, que só viria a ser identificada desta forma quando Ted Nelson utilizou o termo "hipertexto" pela primeira vez, durante os anos 60 (se seguirem esta ligação hipertextual, terão acesso ao artigo). O texto imprenso apresentava uma série de limitações que só a informática poderia quebrar, através do salto físico e técnico até à hipertextualidade abrindo uma porta para uma mundo cheio de possibilidades.

Tradicionalmente, a escritura sempre se produziu e transmitiu de uma forma sequencial, e os suportes apenas permitiam a leitura linear. Com a "chegada" do hipertexto, essa concepção sofre um forte abalo, visto o texto deixar finalmente se ser uma "linha recta".

Para além de oferecer uma nova forma de organizar a informação (com consequências lógicas ao nível da concepção do documento), o aparecimento do hipertexto tem enormes consequências na concepção clássica dos conceitos de "autor" e "leitor".

O hipertexto permite diferentes leituras e diferentes níveis de profundidade de leitura, e também abre a porta para a interactividade. O leitor passa de receptor passivo de informação, a utilizador de dada informação, e a obra, outrora inflexível, converte-se em instável.

Hoje em dia, o hipertexto tornou-se algo omnipresente, provavelmente pela necessidade actual em "mostrar" em vez de "contar", e converteu-se em algo tão habitual que se tornou invísivel...

... Não acreditam?... mas então...

... afinal de contas o que é este blogue se não parte dessa ferramente hipertextual por excelência, denominada World Wide Web?

quarta-feira, junho 13, 2007

Apresentação dos projectos finais

A apresentação oral dos projectos finais terá lugar no próximo dia 20 de Junho, quarta-feira, na sala de seminários do Instituto de Estudos Ingleses, 6º piso, a partir das 10h00.

Bp Nichol - Poem Poem

Gravado em 1972, ainda bem distante da era "Internet" e "web 2.0", nesta obra sonora sobressaiem algumas semelhanças em relação a alguns poemas analisados nas aulas.
A vontade de criar algo novo, diferente, e especialmente, espontâneo, era uma característica dos "the four horseman", grupo onde actuava Bp Nichol.
No YouTube, encontra-se um clip retirado de uma actuação ao vivo em 1981 (a quem estiver interessado em ouvir algo realmente demencial aqui está o endereço completo: http://www.youtube.com/watch?v=ahUdQd_YtwM).
De regresso ao Poem Poem, trata-se de um poema curto e repetitivo(aqui está a letra http://scorecard.typepad.com/photos/uncategorized/nv15002.jpg ), cujos versos traduzem a omnipresença do poema em todo os orgãos do corpo humano.
Esta espécie de celebração da poesia foi também recriada pela poesia concreta de Augusto de Campos uns anos mais tarde e com recurso aos meios digitais.

quinta-feira, junho 07, 2007

Hegirascope de Stuart Moulthrop

Quando visualizamos a pagina aparecem – nos duas coisas; um poema (em inglês) e quatro links á volta desse poema (com títulos de outros poemas que também estão escritos em inglês). Este trabalho é muito parecido com o texto my body de Shelley Jackson. A única diferença reside no facto de haver um temporizador pré – definido que faz com os poemas passem automaticamente. Isto pode por um lado levar a que o leitor se concentre mais no poema mas por outro também pode levar a que leitor fique frustrado por não ter acabado a leitura a tempo. Para alem disto o leitor é capaz de escolher o poema que quer ler através das hiper ligações anteriormente mencionadas.
Em suma, este texto, apesar de ter sido organizado de forma semelhante ao do da Shelley Jackson, apresenta alguns defeitos.

Shelley jackson - my body

O texto My body (de Shelley Jackson) é, na minha opinião, bastante interessante. A primeira coisa que vemos quando abrimos a pagina é um corpo feminino. As diferentes partes do corpo estão identificadas e para além disto tem cada parte um chamado link. Se entrarmos num desses linkis, vai nos aparecer uma história (relativamente a parte do corpo que foi anteriormente seleccionada) de forma muito pormenorizada (as vezes são tão pormenorizadas que ate provocam arrepios). Dentro desse link poderá eventualmente haver um link para outra parte do corpo, dado que em certas situações ela estabelece relações entre vários membros do corpo. Desta forma a autora partilha com os leitores as experiencias e sensações que sentiu com cada parte do corpo ao longo dos anos.

A literatura “labiríntica”

Segundo a lenda da mitologia grega, o labirinto era constituído por um conjunto de percursos intrincados criados com a intenção de desorientar quem os percorre. Dentro do labirinto vivia um monstro lendário chamado Minotauro que matava todas as pessoas que se atreviam a entrar no reino dele.
Aplicando isto á literatura, pode-se dizer que um labirinto é por exemplo, um romance com enredo complicado ou cuja narração não é linear, dito de forma mais simples, é quando o leitor é incapaz de imaginar a sucessão de lógica dos acontecimentos de uma determinada historia, dado que o texto esta estruturado de uma forma muito complicada. Isto pode dar origem a que o leitor se “perca” no texto. Neste contexto também se pode aplicar a teoria de muitos caminhos estarem errados e que dêem sempre a becos em saída, enquanto que haverá um caminho que leve o leitor até ao centro, até verdade e á verdadeira mensagem e correcta interpretação de texto.

Message clear

Neste texto aparecem as palavras de forma solta ou incompleta, o que permite ao leitor fazer varias combinações. Isto pode dar origem a que o sentido do texto varie consoante ao gosto do leitor, ou seja, o leitor tem um papel fundamental, decisivo e activo no que diz respeito ao desenlace do texto. Para sermos capazes de fazer tal tarefa temos que analisar o texto de forma lógica.
Neste texto dá para ver novamente que é fundamental conhecer (e, neste exemplo, é preciso conhecer muito bem) o código em que o texto está escrito. Pois sem sabe-lo seríamos, de certa forma, incapazes de produzir um texto coerente.

Augusto de Campos SOS

O cenário com que nos deparamos quando abrimos o hipertexto chamado SOS (de Augusto de Campos) é um fundo completamente preto a partir do qual vão surgindo palavras. E enquanto que elas vão aparecendo, há uma pessoa que as lê em voz alta.
Tendo em conta a maneira como esta pessoa lê as palavras (que de pouco a pouco vão formando frases), chega-se á conclusão de que ele está a fazer uma série de perguntas ao leitor. A pergunta que nos faz é o que é que faremos após de estar tudo acabado.
Após ter visto uma segunda vez o hipertexto (ou seja sabendo já o fim), somos capazes de dar uma nova interpretação a parte inicial; EU, NOS….penso que o autor quer dizer que todos, mais cedo ou mais tarde, vamos ter o mesmo destino, ou seja estamos interligados uns com os outros, e que no final vamos estar sozinhos, ou como diz o autor, sós…..

quarta-feira, junho 06, 2007

Loch ness monster's song

O poema loch ness monster’s song de Edwin Morgan, é um mistério para qualquer pessoa que o tenta ler. Pois, fora do título e da pontuaçao, somos incapazes de decifrar a mensagem que o poema nos tenta transmitir. Isto revela a necessidade de saber o código atraves do qual somos capazes de compreender textos.
Olhando para o título, apercebemos nos de que se trata de uma canção e de acordo com a pontuação a criatura deve estar-se a questionar a cerca de algo.
Depois de termos ouvido a faixa sonora, na qual podemos ouvir o próprio Edwin Morgan a ler o poema (com um tom de voz bastante agressivo), chegamos á conclusão (ou pelo menos foi esta a interpretação que eu lhe dei) de que a criatura poder-se-á estar a queixar de alguma coisa.
Em suma, este poema é muito subjectivo....dado que nao sabemos exactamente de que é que o texto fala.

"Hegirascope" by Stuart Moulthrop

Essa obra é um "hypertext novel", composta por estorias com diferentes temas( referências aos sonhos, televisão, medicamentos...).
Em cada pagina, o leitor tem escolha de quatro links que são colocados ao lado do centro do texto. Há várias lexias(separadas ou ligadas) e estão pré-programadas visto que se o leitor não selecionar um dos quatro links num atribuido periodo de tempo( vinte a trinta segundos), a pagina muda automáticamente para outra pagina sem o consentimento do leitor, existe uma temporalidade de leitura nessa obra. Links como "black" ou "white", leva o leitor para uma pagina que aparece vazia e a única forma de fazer o link aparecer na pagina é clicar no rato uma vez que a ceta tem transformado em mão para indicar que há um link...
E extremamente dificil saber exatamente para onde estamos a ir no texto "Hegirascope" porque parece não existir absolutamente uma ordem em que as páginas nos são apresentadas. Mesmo se permitirmos que o romance se avance sem selecionarmos os links, é dificil de se seguir e em maioria dos casos fica mais confuso do que se selecionarmos os links.

domingo, junho 03, 2007

" O jardim dos caminhos que se bifurcam"

Ao longo dos tempos existiram sempre autores que de uma maneira ou outra tentaram libertar a sua arte dos limites anteriormente estabelecidos. Com efeito, um dos bons exemplos desta tentativa é o conto da autoria de Jorge Luís Borges, “ O jardim dos caminhos que se bifurcam”.
Assim, neste conto classificado pelo autor como policial, é narrado o percurso do personagem principal, cujo nome é Yu Tsun, da cama até o jardim em que comete um assassinato como estratégia de sua missão de espionagem. A sua futura vítima chama-se Stephen Albert, e é sujeito que fora encarregado de decifrar um enigma do livro escrito por Ts’ui Pen, um antepassado do próprio protagonista, que tinha abandonado sua próspera vida (era governador de sua província, doutor em astronomia, em astrologia, enxadrista, calígrafo e famoso poeta) para compor um labirinto e um livro. No entanto, o enigma revelado por Albert é justamente que o livro e o labirinto são o mesmo objecto. A chave para a descoberta estava num fragmento de uma carta deixada por Ts’ui Pen, no qual estava escrito: “Deixo aos vários futuros (não a todos) meu jardim de caminhos que se bifurc".
Deste modo, a temática principal do conto em questão é a do tempo, sendo ao leitor apresentada uma história repleta de alusões e associações dentro dela mesma, com se fosse um labirinto num exercício de narrativa que assume formas diferentes de tempo e de espaço.
Neste contexto, este conto pode ser chamado metaforicamente de "hipertextual" porque refere-se a alguns outros textos através de conexões e associações que podem ou não ficar a cargo do leitor. É uma obra que, de certa forma, subverte a noção de texto tradicional, apontando para a actividade do leitor em seguir caminhos variados em histórias multiformes.
Em suma, podemos concluir que este texto pode ser associado à uma literatura "pré-hipertexto", porque nela o autor tentou romper com o espaço limitado da página impressa, fazendo exercícios narrativos em termos de associações do pensamento e também do próprio objecto textual.

sexta-feira, junho 01, 2007

Viagem Hegirascope

Esta obra de hiperficção apresenta-se no ecrã como um texto rodeado de 4 hiperligações laterais e cada uma delas por sua vez dará para outra página com a mesma estrutura. O texto central vai-se alterando segundo uma sequência temporal programada ou pela activação das hiperligações. O tempo de mudança automática da sequência é por vezes mais rápido que o tempo de leitura, provocando alguma desorientação ou mesmo irritação ao leitor.
É difícil ter uma percepção clara de toda a obra porque esta não é objectiva em termos de factos ou personagens e instintivamente o leitor procura no texto uma coerência ou relação causa/efeito que dê sentido à narrativa.

Não havendo uma sequência de leitura pré-determinada, a história está semi-definida, requerendo maior grau de participação do leitor e daí ser o verdadeiro exemplo de uma obra interactiva.