"My body" / "hegirascope" - hipertextualidades
"My body: a wunderkammer", de Shelly Jackson utiliza o formato hipertextual para nos mostrar como a própria identidade, está intimamente relacionada com a descoberta.
Com um simples clicar de rato, a autora dá-nos a possibilidade de a descobrir-mos, não directamente (ou fisicamente, para ser mais preciso), mas através das memórias que ela atribui a determinadas partes do corpo. O corpo no geral, não passa de um armazém para tais memórias, para tais elementos (partes do corpo), as maravilhas referidas no título, aquando da alusão à Wunderkammer (a sala das curiosidades, desordenada e instável como o próprio género hipertextual que a autora escolheu para acolher a sua obra).
Todo este conceito remete-nos para a forma como a identidade passa, não só pela descoberta, mas também pela evolução e auto-consciência das mesmas.
Aliás, a forma como o processo de auto-consciência evolui é representado na apresentação das narrativas: Escolhemos uma parte do corpo e somos brindados com um texto que, num momento inicial nos apresenta uma descrição no presente que serve de ponto de partida para a lembrança que se segue (e que, obviamente, está ligada à parte do corpo representada). No mesmo texto encontramos diversas ligações para outras partes do corpo, algo que vai modificar constantemente a evolução da narrativa.
É a experiência hipertextual por excelência, que se repete no texto "hegirascope", de Stuart Moulthrop, com a diferença que neste texto pode existir uma leitora pre-determinada (embora aleatória), devido ao auto-refresh a que páginas são sujeitas
Ao dar uma vista de olhos ao "prefácio", para além do título sugestivo do mesmo ("WHAT IF THE WORD STILL WON'T BE STILL?" - uma alusão à natureza da obra), é curioso reparar como de 175 páginas se conseguem fazer 700 hiperligações, algo que ilustra a forma como a falta de uma narração linear altera por completo a nossa percepção do texto.