A Violência Imposta Na Multiplicidade de Sentidos Oferecidos
Ao longo da leitura dos diversos textos abordados em aula, com especial incidência nos últimos textos lidos, temos constatado- e isso é já ponto de acordo geral- que a mutação da forma de um texto em relação aos conceitos pré-convencionados proporciona- em grande escala- modos de leitura mais abertos e até, por vezes, modos de leitura em tudo diferentes daqueles que seriam, à partida, ditos "normais".
Aqui, neste espaço que não existe fisicamente mas que está ao serviço e em representação do espaço-sala e por isso o é também [como se, agora, enquanto escrevo, falasse perante a turma e perante o professor, e os meus signos escritos (ortográficos) fossem as articulatórias ondas sonoras do timbre da minha voz (signos sonros)], muito se tem comentado a "fisionomia" textual da poesia concreta (e hipermédia) e muito se tem tentado esboçar possíveis interpretações sugeridas como conteúdo por essas mesmas formas. Porém, aqui, ainda não se escreveu fria e cruamente acerca da importância para a poesia (concreta ou não) da multiplicidade de interpretações surgeridas. Factor importante de explorar por si, independente de exemplos textuais.
Num poema concreto existirá com certeza um sentido mais completo e próximo do sentido que lhe foi impresso pelo poeta (repare-se no paradoxo da palavra "impresso") aquando da criação. Todavia, já na fase de produção, podemos imaginar que o hipotético poeta terá, propositadamente, dotado as suas palavras de alguma ambiguidade e polissemia, permitindo que o conjunto final de signos por ele produzidos possam vir a despoletar por si mesmos uma pluralidade de interpretações, inúmeros caminhos por percorrer.
Quanto mais aberto for o texto final, e isso sabemo-lo na literatura e na arte poética no global, maior número de sentidos poderá abranger, logo, "tocará" mais pessoas, fazendo com que um maior número delas se reveja no conteúdo do escrito/ descrito.
Na poesia concreta, por este ser um ponto sempre tido em conta, tal facto é flagrante e prementemente necessário, uma vez que é da violência de sentidos (isto é, da infinidade construtiva destes, da infinita possibilidade de, através de diferentes conjecturas e interpretações, chegar a diferentes leituras) que ela a si própria se cria e a cada momento rejuvenesce.