Amor de Clarice Lispector
A vida de uma "ordinary woman". Uma dona de casa que tem um mundo reduzido e com uma inquietação interna mas que agarra a seu mundo doméstico pelo amor ao marido e aos filhos, colocando de lado o amor próprio. A persistência da vida mesmo sem a satisfação necessária.
A Ana vive numa rotina que não trazia a felicidade mas que acalmava a sua inquietação ou perturbação. As tarefas domésticas não deixavam que a sua inquietação fosse apercebida por outros ou por ela mesma. Então quando não fazia as tarefas a perturbação interna voltava nela. Assim é o momento em que ela observe-se que há um certo vazio na sua vida."certa hora da tarde era mais perigosa."
Incluído na rotina dela, as poucas saídas do circuito caseiro, despertava nela o espírito de inquietação. No autocarro, ao ver o cego, desencadeou a inquietação e também um certo sentido de piedade. " Teria esquecido de que havia cegos? A piedade a sufocava, Ana respirava pesadamente...o mundo se tornara de novo um mal estar." Esse acontecimento fez com que ela ficasse mais perturbada até ao ponto de esquecer o caminho de retorno a casa.
Na sequência, um outro acontecimento, a chegada ao jardim botânico veio a contrariar o mundo que ela vivia ou pensava. O jardim botânico desprende -lhe dos confins da casa, da monotonia... "o jardim era tão bonito que ela teve medo do inferno". Mas lembrando nas crianças trouxe a sua mente a obrigação de voltar. O amor pelos filhos e marido prevalece.
As vezes a vida é vivida dando vida a vida dos outros esquecendo da sua própria vida.
Fazemos a vida dos outros a nossa vida e isso muitas vezes leva ao vazio da vida.