o poema a surgir não obsessiva mas naturalmente.
Em «Pome, poem», bp Nichol afirma que o poema existe em todo o nosso corpo, mais pormenorizadamente em cada uma das partes pelas quais este é constituído. Afirma também, que o poema existe de igual forma e com igual intensidade em cada um dos estados de 'alma' que nos possam acolher. Esta essência poética da vida vem suportar a ideia de que o poema não precisa de existir num só lugar, não precisa corresponder obsessiva e inevitavelmente a um só estado de alma.
O poema pode sair, sentimentalmente, do nosso coração, num estado apaixonado. O poema pode sair da nossa cabeça (ideia de racionalidade), impondo um ideal e/ou uma argumentação. Em ambos os casos, bem como nas demais situações, o poema não tem obrigatoriamente de sair directamente de um dado lugar para o papel. Existindo uma pluralidade de origens que podem ser a origem do poema, existe também uma pluralidade de meios onde o poema pode surgir.
Assim, é dismistificada (ou talvez seja antes mistificada) a ideia de o poema não tem de seguir as formas rígidas que o papel lhe dita, podendo adaptar-se a outras realidades que melhor sirvam o seu propósito. O poema, bem como toda a literatura, pode, pois, surgir no papel (conto "Amor"), mas pode também, se assim o desejar, revelar-se no meio audio ("Pome, poem") ou até num simultanemente plural conjunto de suportes ("Amor de Clarice "). O poema pode surgir onde nós queiramos que ele surja. Mas, se existe no ar que respiramos, não poderá ele surgir por si mesmo?
(ouça duas vezes, e fique com o poema na cabeça,
nos dedos, no umbigo, no coração, nos olhos, no nariz, nos dedos dos pés, nos ouvidos, nos lábios, )