Augusto de Campos Sos & poema-boma
Nos primeiros segundos do sos e do poema-bomba deparamo-nos instantaneamente com uma das principais características da poesia de Augusto de Campos: há uma vontade do autor em quebrar a tradicional forma de interpretação do leitor, obrigando-o a recorrer não apenas ao sentido visual, mas também ao sentido auditivo.
Existem algumas similitudes entre o sos e o enigma n de Jim Andrews. Tal como no enigma n, as cores usadas são sombrias, enigmáticas, e uma vez mais, a cor negra é a que mais prevalece.
As letras que brotam sugerem a presença de estrelas, e o movimento das palavras que posteriormente surgem assemelham-se a um sistema planetário (é uma outra semelhança com o poema de Jim Andrews.), em que cada planeta surge com um código dialéctico distinto (eu, ich, i).
Por toda esta animação, perpassa uma sensação de alienação. Esta alienação é reforçada não apenas pelas cores utilizadas e pelo som, mas também por algumas palavras (eu, sem sol, noite, sos) que têm uma conotação sombria.
A espacialidade (uma outra característica dos poemas de Augusto de Campos) colocada entre as palavras é um outro elemento do poema.
A forma como as palavras são evocadas pelo autor sugere um pedido de ajuda ao leitor, na esperança que este consiga aproximar as palavras conferindo às mesmas um maior sentido.
No poema-bomba há uma desintegração das palavras e uma consequente dispersão das letras constituintes. Estas letras, fruto da explosão, vão sofrer uma mudança nas suas formas.
Que tencionará o autor com este festim de cores, sons e formas?
Trata-se meramente de um exercício meramente estético ou haverá um significado implícito?
Na minha opinião, o autor através destas duas construções poéticas aponta para uma crítica.
Será o SOS uma crítica do autor ao actual estado literário e poético (uma condição linguística que se encontra menosprezado por grande parte do público?)?
Será a bomba que redefine as palavras "poema e bomba" como vimos no poema, a solução para a revitalização da poesia?