Mar de Sophia, de Rui Torres
A constituição do poema "Mar de Sophia", de Rui Torres baseia-se na compilação de vários poemas digitais apresentados em formato hipermédia, como textos animados gerados a partir do léxico da escritora e poeta Sophia de Mello Breyner Andersen, reconstituindo a sia obra e atribuindo-lhe, naturalmente, características renovadas.
Numa primeira abordagem ao poema de Rui Torres é-nos apresentado três caminhos a seguir: «Enquadramento», «Retrato de uma Princesa» e «Poema #2». «Enquadramento» surge como um momento de apresentação deste poema e a forma como este é estruturado. Os dois poemas surgem como uma espécie de homenagem à escritora portuguesa.
Esta obra foi concebida através do programa Actionscript, tendo como colaboradores de Rui Torres, Nuno Ferreira na Programação, Nuno Cardoso na Voz e Luís Aly no som.
Neste poema é, igualmente, permitido a recriação dos poemas por parte do leitor, num eixo combinatório de linguagem, adaptando esse mesmos poemas ao seu gosto pessoal.
Naturalmente, as concepções combinatórias que o leitor vai formulando ao longo da sua leitura vão variar de pessoa para pessoa.
Analisando atentamente o poema podemos verificar a presença de várias palavras que surgem repetidamente, nomeadamente, "mar", "tempo", "noite", "luz", "dia", entre outras.
A acompanhar a parte escrita está o som. Enquanto estabelecemos o exercíco de compreensão desta obra digital, são nos transmitidos sons variados e que se intercalam, rapidamente, entre si, dando uma maior profundidade ao texto e, por vezes, cedendo-lhe um carácter mais enigmático e interessante. Percebe-se, várias vezes, o barulho das ondas a anularem-se junto à areia, aproximando o leitor do contexto onde se desenrola toda a acção da história - o mar.
A nível literário, podemos dizer que estes poemas têm como linha orientadora a norma, sendo capazes de seleccionar, aleatoriamente, palavras das listas que formam os campos significativos e lexicais presentes no texto da escritora.
Para terminar, na minha opinião, este poema demonstra-se como uma obra bastante conseguida onde o autor, apesar de introduzir as naturais alterações a que um texto está convencional está sujeito aquando da sua passagem para o meio digital, não deixou de manter a mensagem principal que Sophia de Mello Breyner concebeu na obra original.
Em suma, Rui Torres respeitou a verdadeira essência desta obra, tornando-a num projecto atractivo, onde desperta a atenção e curiosidade da comunidade tecnológica, concedendo à literatura portuguesa e às suas obras, um cariz inovador que apresenta características muito versáteis.