quarta-feira, dezembro 10, 2008

Hegirascope, um labirinto caleidoscópico

Ao iniciar Hegirascope, a cor viva do fundo da página é o primeiro elemento a sobressair. Enquadra palavras que aparentemente não têm qualquer nexo e que, antes que as consigamos ler completamente, desaparecem, dando lugar a um novo fragmento de cor e texto. A primeira impressão é confusão absoluta. Durante minutos sucedem-se as partes desta história da autoria de Stuart Moulthropp, moldando continuamente cores e palavras na retina. A obra avança ao seu próprio ritmo, lento ou rápido, mas sem parar. O leitor pode tentar travar o cronómetro invisível, recorrendo às hiperligações, que abrem novas páginas, ou então pode deixar o tempo seguir o seu curso e tentar ler o mais rapidamente possível.

A história começa e acaba, mas a narrativa é aparentemente desprovida de continuidade no espaço que ocupa o desenvolvimento. O leitor pode escolher o seu caminho através das hiperligações e, assim, como através de um rasto de migalhas ganhar consciência do espaço que percorreu para atingir a conclusão. A interpretação é individual, mas não é dependente do percurso de leitura. Cada um pode tentar atribuir alguma coerência às sequências de episódios aparentemente desconexos, mas vista a obra na sua globalidade não há qualquer alteração ao conteúdo. O sentido que se atribui a Hegirascope é ditado pelas experiências de vida do leitor e nada mais.

Em suma, esta criação literária em hipertexto permite-nos uma reflexão sobre o labirinto que percorremos para compreender o sentido das coisas. Podemos esperar passivamente até sermos guiados até à saída ou podemos encontrar o nosso próprio caminho. O que encontramos do outro lado é igual para todos, apenas visto e interpretado por olhos e experiências diferentes.