segunda-feira, abril 30, 2007

"Nonsense"

Para leitura e respectiva boa compreensão de um qualquer texto é necessário saber descodificar o seu código.
Relativamente a alguns textos que foram alvo de análise e estudo na aula revelaram-se difíceis de compreender exactamente porque o código em que eles se apresentavam não era um código pouco vulgar pois as regras sintácticas, semânticas são bastantes das usuais pois estas obedecem á completa imaginação e vontade do autor.
Este tipo de textos, “Nonsense”, embora se revele de difícil leitura, depois de descodificado o seu código revela-se um texto bastante interessante pois consegue pôr á flor da pele de forma bastante interessante emoções, sentimentos, opiniões, crenças!
Com este tipo de textos o seu autor explana de forma livre e despreocupada o que quer pois o mais importante neste tipo de textos a é a sua forma e apresentação.
No fundo estes tipos de texto são um hino á originalidade e á liberdade imaginativa de quem escreve, melhor de tudo isto é que também através destes textos podemos a vontade abordar questões e situações do dia-a-dia!!!!

domingo, abril 29, 2007

Técnicas de escrita automáticas

A escrita pode ser, nalguns casos, altamente automatizada. Os processos automáticos podem ser utilizados com intuitos estéticos, ou seja, para fazer arte, embora não em todos os casos. Tudo depende afinal do que se pretende fazer. Em todos os casos será sempre um recurso ao dispor do criador literário, portanto, uma técnica, embora, nalguns casos, uma técnica desadequada.
O uso de processos automáticos pode sugerir combinações de sentido nunca sugeríveis ou dificilmente sugeríveis pela nossa lógica e assim criar-nos o prazer da surpresa. Essa é pelo menos a forma como encaro a utilidade dos programas geradores de texto que trabalham com algoritmos num maior ou menor grau de aleatoriedade na combinação de segmentos linguísticos. Há uns anos descobri um gerador de insultos automáticos na net que me dava "pérolas" como «tens a cara como uma bola de ténis mal barbeada», e a partir dessas frases construí uma estória bastante absurda. Limando umas arestas, poderia ter sido uma boa história, não foi, mas podia ter sido. O que o programa fez foi sugerir-me associações imprevistas de ideias que eu, com limitado bom-senso, reorganizei. Claro que a comicidade das frases do programa que utilizei já estavam previstas e foram procuradas pelos criadores do programa: a máquina é criativa só dentro dos parâmetros em que foi programada. Tentar dotá-la de uma criatividade espontânea capaz de se metamorfosear, isso já levantaria uma série incrível de problemas que dizem respeito à investigação da inteligência artificial.
Todavia ao ler os meus poetas ou filósofos preferidos o meu sentimento é bastante diferente: a experiência é de a realidade me estar a ser dada a conhecer de um modo novo. O texto traz sinais através dos quais eu consigo chegar a novas formas de olhar, pensar e sentir o real (pelo menos eu penso que é o real) que me fazem sentir mais rico. Há uma aprendizagem que em último grau é sobre o sentido da vida, e textos assim não creio que uma máquina os possa criar. Isto porque a minha apreensão do seu sentido está muito ligada à semelhança da estrutura da minha sensibilidade com a do autor: o facto de termos ambos carne, sangue, ossos, sexo, razão, sentimentos, em suma, o facto de sermos humanos, faz com que eu me reconheça no modo de experienciar que o texto revela e determina que o que lá está escrito é relevante para mim.
Há pois, julgo, limites para o uso criativo dos processos automáticos. A reflexão sobre as possibilidades combinatórias da linguagem é uma reflexão puramente formal sobre as potencialidades das estruturas linguísticas que termina a partir do momento que o agente criador determina uma intenção que está subjacente ao texto. Se a intenção do texto for apenas jogar ludicamente com as possibilidades combinatórias, então o texto produzido pela máquina pode ser indiferenciável do humano, mas eu lerei de um modo diferente um texto (idealmente idèntico) caso ele tenha sido produzido por um humano ou uma máquina. No caso de um bom texto automático, eu admirar-me-ei antes de mais com o engenho humano que o tornou possível.
A abordagem à literatura como um conjunto de formas passíveis de serem combinadas e recombinadas chama-nos a atenção precisamente para as técnicas que podem ser utilizadas na criação literária, e para as regras que estão ímplícitas nessa prática. Tais técnicas e regras passam por um conhecimento das estruturas gramaticais da linguagem que nos permite a construção de máquinas poéticas. Todavia essas máquinas, exceptuando a possibilidade de uma inteligência artificial muito avançada (hipótese que extravasa e muito a teoria literária), a partir do momento em que é terminada a sua programação perdem a capacidade de descobrir novas regras, seja, novas formas de composição estética, ou, no limite, uma nova forma inovadora de ordenar sintacticamente a produção de sentido.

"Robotumanização"

Na sua obra "Cibernética e fantasmas", Calvino afasta a teoria romântica da inspiração e do génio e mostra que é possivel fazer literatura a partir de um computador.
Pretende mostrar que a convergência da literatura e da informática traz uma série de fantasmas à realidade cibernética.

Quando falamos nesta possibilidade de a máquina dominar o homem, há sempre um certo cepticismo.
Poderia Deus ter sonhado criar um homem superior ao próprio Criador?
Teremos de dar às "criaturas cibernéticas" a possibilidade de nos derrotar?
Estaremos perante uma "humanização das máquinas" ou uma "robotização dos seres humanos"?

Quando lemos uma obra literária, seja ela de qualquer género, há sempre sentimentos, momentos, pensamentos que são estimulados em nós. Muitas vezes conseguimos compreender o estado de espírito do escritor/narrador através da linguagem usada e da própria maneira de escrever.
Será possível continuarmos a ter esta percepção ao lermos uma composição literária feita por uma máquina sem sentimentos?
Se assim for, a escrita vai deixar de ter o mesmo significado para algumas pessoas...

sábado, abril 28, 2007

Chamar-lhe-ia manifesto.

Com a revolução tecnológica e os progressivamente constantes avanços que no campo da informática têm pautado presença, o processo de escrita tem vindo a sofrer alterações de base. Essas variações muito têm alterado ao longo dos tempos as “normas” e “preceitos” teóricos de escrita, forjando mudanças estilísticas que ora arrastam consigo os preceitos teóricos, ora por eles são arrastadas.
Antes de mais, independentemente de juízos de valor favoráveis ou desfavoráveis, cabe-nos, hoje, a nós, a tarefa de pensar acerca do acto de escrita e de leitura assistida por meios informáticos; cabe-nos evidenciar as suas vantagens e as suas desvantagens. Primeiramente devemos fazê-lo de um ponto de vista científico. E depois, só depois, podemos então, partindo da matéria-prima recolhida, dar forma à nossa própria teoria, conjugação mais ou menos fiel dos preceitos adquiridos e julgados.
Contudo, a nossa divagação atinge o extremo quando nos deparamos com a possibilidade da existência, num futuro mais ou menos próximo, de máquinas capazes de produzir, por si mesmas, obras de índole literária. E aqui, as opiniões dividem-se- tal como se tolera e de certo modo se compreende que dividam.
De facto, o surgimento desta possibilidade “mexe” com todas as ideias que vêm sendo tidas até aqui acerca do processo de escrita. Há ideia vigente em grande parte dos meios é ainda a de que o acto descrita emerge numa corrente denominada inspiração, puro fluxo do tantas vezes citado “estado de alma” do autor. Sobretudo confunde-se muitas vezes o papel de escritor/ poeta com o desempenho do “sujeito poético”.
O trilho que se deve seguir, antes de formular opinião e como base integrante à opinião que será formada, deve ser a via da tentativa para compreender os dois lados em divergência, a tentativa de analisar cada uma das antagónicas parcelas em estudo. Depois surgirá a opinião. E com ela o esboço de todas as ideias em que acreditamos.


  1. todo o espaço é comum. nunca nenhum homem roubará o lugar às máquinas, nunca nenhuma máquina ocupará o lugar do homem. os homens e mulheres irão sempre escrever. não tenho a menor das dúvidas quanto a tal facto. isto, até porque, hoje, a escrita pode já ser considerada essencial e interior à existência humana.

  2. do cepticismo em aceitar ou do homem que não acredita em si mesmo, e quer continuar a não acreditar. toda a escrita é humana (até a computacional). não foram os computadores quem a inventou. e é o homem quem programa os computadores.
    existirá sempre a “mão humana” por trás de cada texto produzido por uma máquina escrevente. a criação do computador deve-se ao homem. a sua evolução deve-se ao homem.
    se algum dia um computador vier a produzir de facto um texto lírico íntegro, esse texto não deixará de conter em si uma grande componente humana- isto no sentido em que foi o homem quem produziu e programou a máquina para aquela tarefa.

  3. ninguém pede aos seres humanos para deixarem de ser seres humanos. os homens e mulheres continuarão a ter sentimentos (que partilharão consigo mesmos e entre si), continuarão a escrever e a ler. ponto assente.

  4. em tudo o que fazemos estão presentes sentimentos. mas, em tudo o que não fazemos não estão presentes sentimentos. se a escrita é uma representação do que fazemos: então é uma escrita histórica ou autobiográfica, não é arte (e o que estamos a discutir é a produção artística). se a escrita é uma representação do que não fazemos: pedaço fictício dos nossos dias ou dos dias dos sujeitos que escrevemos, então esses sentimentos não são nossos, serão, sim, pelo menos em parte, sentimentos usurpados de outrem.

    porém, ainda não foi alcançado o facto que este ponto aspira alcançar. e este é dos constituintes mais importantes e indispensáveis.
    a ideia de que o escritor escreve aquilo que sente- de forma pura e simples- não faz, hoje, sentido. de facto, nunca fez. não houve foi, saliento, durante um largo interregno de tempo, a (auto)consciência e humildade para que este assumisse tal facto.
    existe uma forte componente pessoal tanto no romance como no poema, é inegável. mas é impossível- ou pelo menos é irreal- pensar que um poema é ditado por uma entidade superior ou que um romance é inteiramente escrito sobre uma inspiração vinda sabe-se lá de onde. Eça não escreveu as seiscentas páginas d’ Os Maias sob fluxo de inspiração divina (ou divinatória)! Eça não escreveu os milhares de páginas que escreveu durante toda a sua vida sob um clima místico de inspiração; os milhões de frases que produziu não foram por ele produzidas vindas directamente da sua “alma”; os milhões de milhões de palavras que a sua pena escreveu não foram arrancados de sentimentos inteiramente sentidos e pessoais- se assim fosse, nunca a sua pena teria rasurado uma única palavra, pois todas elas seriam sentidas, todas elas seriam divinamente perfeitas.

  5. a morte daquilo que nunca existiu. a inspiração não existe mais. é urgente derrotar a sua ideia. o que converge à mente do poeta no momento em que a produção de escrita se lhe impõe é, pois, um fluxo diverso, miscelânea de sentimentos conscientes e inconscientes que o levam a produzir signos linguísticos; que o obrigam à escrita. sendo que a escrita, essa impossibilidade de comunicação, reflectirá sempre preceitos básicos e gerais de ordenação e sistematização. ou como diz Lobo Antunes: a escrita não é mais que a «estruturação do delírio».

  6. a pergunta (ou leitura como base de toda a produção escrita).

    exigimos textos com sentimentos. mas, como é que nos apercebemos de que esse texto está dotado de um sentimento pessoalmente vivido pelo autor? a resposta é: somente nos poderemos aperceber (ou isso inferir) através da leitura – isto partindo do difícil pressuposto de que o escritor escreve "aquilo que sente".
    será que um texto produzido por uma máquina escrevente que nos cause um verdadeiro momento de prazeiroso fruir estético (componente emocional intrínseca) deixa de ser tido como belo para nós próprios- quando descobrimos que foi produzido por uma máquina- para passar a ser tido como pestilento lixo?

    o que é o sentimento verdadeiro de um poeta? conseguimos percebê-lo no poema colado ao papel? ou será que nunca poderemos ter acesso a ele, sendo a beleza que possivelmente podemos encontrar no seu poema uma beleza reflectida de nós mesmos, uma “revisitação” de nós mesmos nos enunciados produzidos por outrem?

    porque é que gostamos de um poema, de um romance, de uma música, de uma escultura, de um quadro, de um desenho, de uma obra arquitectónica, de um objecto de design, de uma peça de vestuário: porque é que gostamos de uma obra ou objecto artístico? é porque “nos vemos nela” ou é porque “nela vemos os outros”?


p(re)c

A Automatização da Escrita

Ao longo dos últimos séculos, a história da escrita tem conhecido avanços tecnológicos determinantes.
Já reconhecemos os progressos ao nível dos suportes materiais, da acessibilidade da informação a todas as camadas sociais, do crescente número de utilizadores e de saberes divulgados... mas uma questão fica por resolver.
Se o Homem cria, gradualmente, inventos fabulosos, máquinas capazes de elaborar tarefas humanas e, também, sobre-humanas, atingindo uma quase perfeita capacidade de reproduzir as funções para que foram desenhadas, será então possível a criação ultrapassar o criador?
A questão Homem vs Máquina tem ocupado muitas discussões e o imaginário de muitos autores.
Muitos defendem que as “máquinas” são apenas construções físicas, insensíveis, estéreis, incapazes de produzir obras com sensibilidade, criatividade e autonomia; portanto, com vida. Outros, afirmam que o próprio Homem já é, por si só, uma máquina produtora e que a Ciência, mais cedo ou mais tarde, descobrirá formas de conseguir reproduzir características únicas, nomeadamente ao nível da escrita e da produção artística.
Isto poderá acontecer através do reconhecimento das regras que, implícita ou explicitamente, estão inerentes à existência e ao ser humano, também regido por leis, regras de produção e combinações de linguagem.
Mas esta reprodução das obras humanas apenas se mostra uma solução viável quando as regras são susceptíveis e perceptíveis, quando os autores se tornam, antes do mais, máquinas massificadas, que desenvolvem o seu repertório de forma relativamente sistemática e objectiva.
É erro comum considerar a escrita como a simples expressão dos sentimentos. Para além disso, ela engloba a difusão de conhecimentos de natureza informativa, técnica e científica, nomeadamente, nas quais reina a impessoalidade: o autor distancia-se do que escreve.
Deste modo, parece ser uma realidade perfeitamente praticável. A escrita pode ser automatizada a diversos níveis, mas que não poderão superar o engenho e a arte, das quais o Homem é o grande responsável, por excelência.
O fundamental é desvendar uma forma de as combinar pacificamente, tornando-as uma mais- valia para o progresso, evitando choques e confrontos.
O ideal seria libertar o espaço da produção artística, literária, filosófica, cultural e social para o ser humano, e reservar um espaço relativo à fabricação material, objectiva e em massa para essa entidade artificial que é, obviamente, também ela resultado da intervenção humana. Na verdade, não é justo serem dissociados ou serem considerados eternos e incompatíveis inimigos.
Mas evitar que cada um permaneça no seu lugar é, em si, uma concepção questionável e ambígua e, além do mais, o Homem é, por natureza, um ser insatisfeito e curioso, que continuará com as suas descobertas científicas e aproximando a cada vez mais ténue distância entre criação e criador.
Cabe às gerações futuras ajudar a desvendar este mistério...

sexta-feira, abril 27, 2007

Máquinas VS Sentimentos

Nós, enquanto Seres Humanos, somos seres pensantes e com sentimentos, e podemos exprimir os nossos sentimentos das mais variadas formas, seja através da pintura, da música, da linguagem ou da escrita.

Se estes mecanismos existem para exprimirmos algo, será então possível criar qualquer um deles sem nenhum sentimento neles presente? Será o Ser Humano capaz de se distanciar de algo que nos está tão intrínseco como os sentimentos?

Fernando Pessoa, em Autopsicografia, sugere que o poeta é um fingidor, levando-nos a pôr em causa toda a leitura que um dia nos estimulou sentimentos positivos. Para mim não faz sentido a ideia de escrita sem sentimentos, pois eu acho que em tudo o que fazemos estão presentes sentimentos, desde um duche quente pela manhã à chuva fria que nos apanha desprevenidos num dia de Inverno.

A evolução tecnológica trouxe técnicas que tornam possível a um computador, elaborar textos, como se fosse uma pessoa, mas serão estes textos capazes de despoletar algum sentimento em nós? Serão eles capazes de nos transmitir algo?

A escrita tem a capacidade de provocar reacções positivas ou negativas nos leitores, quer seja por aquilo que transmite, pela forma como está construída ou até mesmo pela pessoa que a realizou. Serão então estas máquinas capazes de ocupar o lugar do Homem no mundo da escrita? Máquinas que no fundo não passam disso mesmo, meros objectos ligados à corrente eléctrica e programados por alguém para desempenhar essas funções.

Será possível conceber um mundo onde as máquinas tiram lugar ao Homem em tudo? Até em algo tão pessoal e sentimental (para muitos um refúgio) como a escrita?

Para mim, esta é uma ideia inconcebível, pois quer seja através de uma caneta ou de um teclado de um computador, o acto de escrita para realmente significar algo, deve ter sempre a mão Humana.

quinta-feira, abril 26, 2007

Oulipo

Em 1960 foi criada, por Raymond Queneau e o matemático François Le Lionnais, a associação Oulipo (Ouvroir de Littérature Potentiel), isto é oficina de literatura em potencial, que buscava descobrir novas estruturas e padrões para a literatura.
Na verdade, as ambições e as práticas do Oulipo evidenciavam, desde o início, o carácter lúdico e humorístico de um grupo que pretendia inventar (ou reinventar) regras de tipo formal que pudessem ser propostas a amadores desejosos de produzir textos. Revigorando técnicas da antiga retórica, capazes de romper com a crença na inspiração, queriam principalmente encontrar estruturas inéditas e promover pesquisas sobre as potencialidades da linguagem, estabelecendo relações entre matemática e literatura.
Um bom exemplo da obra deste tipo é Os Exercícios de Estilo em que um episódio insignificante é “repetido” noventa e nove vezes numa série de noventa e nove estilos diferentes: "Retrógrado", "Logo-rallye", "Hesitações", "Narrativa", "Vulgar","Filosófico", "Auditivo", "Macarrônico", "Botânico" são alguns títulos desses exercícios.

quarta-feira, abril 25, 2007

Labirintos temporais

Quando falamos em "labirinto" pensamos nun lugar, num espaço onde vários caminhos se cruçam e resulta fácil perder-se. A literatura já usou em algumas ocasiões esta figura, como na lenda grega do "Labirinto do Minotauro" ou no romance de Lewis Carroll, "Alice no país das maravilhas".
Na maioria dos casos, a figura do labirinto é usado como um conceito espacial. Porém, o argentino Jorge Luis Borges apresenta um novo conceito de labirinto no texto "O jardim dos caminhos que se bifurcam". O escritor mostra ao leitor o labirinto como um conceito relacionado com o tempo. Isto é apresentado através do próprio argumento da história , onde as linhas temporais e de acção forma um jogo combinatório, de maneira que se cria um labirinto temporal. As personagens morrem, voltam a aparecer no parágrafo seguinte, encontram outras personagens diferentes... O que seria da nossa vida se tudo fosse um labirinto de labirintos onde passado, futuro e presente se misturam?

"Qu´est-ce que l´OuLiPo?"












Oulipo (Ouvroir de Littérature Potentielle) pode traduzir-se como Oficina de Literatura em Potencial.Fundada em França por escritores e matemáticos, entre eles Raymond Queneau e François Le Lionnais, em 1960, esta associação pretendia libertar a literatura, utilizando na criação literária mecanismos de carácter matemático que condicionam a construção do texto, sem lhe tirar a liberdade e a imaginação.
Os autores oulipianos produzem diversos tipos de textos: textos que utilizam estruturas já existentes, textos produzidos a partir da aplicação de restrições (contraintes*) inventadas por eles, exercícios de estilo e textos de “literatura combinatória”
Esta literatura “potencial e combinatória” tem como base operações lógicas como repetir e distribuir elementos iguais e diversos, deslocar unidades semânticas num sentido diferente do normal e permutar determinadas unidades. A partir destas, surgem vários artifícios linguísticos (contraintes) : “A literatura definicional” : substituir palavras pela definição encontrada no dicionário; “S+7”: substituir cada substantivo pelo sétimo que aparece no dicionário depois dele; “Lipograma”: texto onde alguma letra deve ser suprimida; etc
Um bom exemplo de uma obra inserida nesta corrente literária é “Exercícios de Estilo” de Queneau, que conta uma história simples em 99 maneiras diferentes, demonstrando assim a enorme variedade de estilos que pode existir na construção de um texto e as diferentes perspectivas e interpretações que podem suscitar ao leitor.
Também Ítalo Calvino foi um importante percursor deste tipo de literatura, publicando obras como "Se um Viajante numa Noite de Inverno" ou "O castelo dos destinos cruzados".
Actualmente, grande parte das pesquisas do Oulipo estão ligadas á informática, sendo que em 1981 dois membros fundaram um novo grupo: o ALAMO, Atelier de Littérature Assistée par la Mathématique et les Ordinateurs (Oficina de Literatura Assistida pela Matemática e pelos Computadores) que se dedica exclusivamente à literatura e á informática.


*A nomenclatura e definição de todas as “contraintes” podem ser consultadas aqui.

sábado, abril 21, 2007

A literatura habitando a margem extrema do dizível, com alicerces no inconsciente.

Em Cibernética e fantasmas, Italo Calvino defende a existência de uma nova estética literária, já vigente nos nossos dias, mas que ainda não se vinculou suficientemente para se dar a ruptura total com o anterior paradigma.
Herdeira irrepreensível dos ideais da revolução científica do século XIX, esta estética encontra o seu fundamento na argumentação de que a literatura é resultado de um processo de escrita que recorre, numa descrição geral, a combinatórias de signos linguísticos convencionados. Tal ideia não nos oferece resistência, bastando confirmar o facto de todas as palavras escritas serem rebuscadas do vasto campo lexical da linguagem.
Para fundamentar esta sua tese, Calvino recorre por diversas vezes ao longo do seu texto/ conferência ao exemplo do narrador (bardo) das antigas sociedades tribais. Este, a partir de um “catálogo” lexical restrito, produzia uma enorme quantidade de sentidos, através de um sistema de combinações lógico entre as estruturas fixas que dotavam a sua língua.
Nascera, assim, a primeira forma de literatura. Foi através da formulação de enunciados baseados nestas regras- e como afirma Calvino- que o homem começou a «compreender como se desmonta e como se torna a montar a mais complicada e a mais imprevisível de todas as suas máquinas: a linguagem».
Hoje, os enunciados encontram-se evoluídos, sobre uma forma muito mais complexa e de progressiva abrangência. Contudo, não há na maioria dos poetas nem na sociedade em geral a sensibilidade para compreender e aceitar o facto de a produção escrita ser de ordem lógica, mesmo que em grande medida o inconsciente exerça a sua influência sobre os escritos produzidos.
Calvino defende, por isso, a “morte” (da ideia) do poeta inspirado, intuitivo, imediato, autêntico, global, divino, espiritual, representante de uma voz da alma e puro auto-retratador da personalidade. Fá-lo pelo simples facto de que este poeta não existe.
O poeta é, sim, o deliberado construtor de sentidos. Construtor dos que deseja construir, e construtor dos que constrói inconscientemente. (E, aqui, “inconscientemente” pode ser lido “à letra”, significando que o poeta-bardo acaba produzindo sentidos que não tencionara produzir e que estes derivam sobretudo da influência do seu inconsciente.)
Essa emergência de significados inesperados é, sobremaneira, fruto da ambiguidade da língua e das estruturas da linguagem. Pode dar-se, tanto na oralidade do nosso quotidiano, como na literatura. Todavia, se a primeira, de índole comunicacional, a tenta ao máximo evitar, já a segunda- principalmente no respeitante às produções poéticas- persegue-a irresistivelmente. A ambiguidade não serve, de todo, os propósitos da comunicação. Mas, se falarmos de poesia ou mesmo de literatura em geral, sabemos que é necessário o efeito-espelho do leitor no texto que surge diante de si. Logo, uma linguagem polissémica alcançará mais fácil e fidedignamente o objectivo proposto.
Baseando-se nos pressupostos de que a produção literária é suportada por combinações, mais ou menos conscientes, das convenções linguísticas, Calvino defende que há alguma plausibilidade na crença de que, num futuro contíguo, poderão surgir verdadeiras e completas «máquinas de escrever», engenhos mecânicos capazes de produzir textos literários através de uma conjugação lógica das regras gramaticais, do léxico e das regras linguísticas. Já existem alguns modelos que dessa realidade são exemplo. Porém, e fazendo o paradoxo, falta-lhes ainda um pouco mais de humanidade. São capazes de uma produção desorganizada e caótica, mas não conseguem produzir enunciados amplamente ordenados e lógicos- reflectirá isto, parafraseando Nietzsche, a violentamente desorganizada essência da existência… até das máquinas?

Textos Nonsense

Para sermos capazes de ler e compreender um texto é crucial saber identificar o seu vocabulário e linguagem.
Os textos analisados na aula, que surgiam sob a forma de autênticos quebra-cabeças, questões matemáticas e enigmas de significados, continham exactamente esse problema.
O que torna tão difícil analisá-los é o facto da realidade não ser transparente e de ser possível fazer múltiplas combinações d sons, letras e palavras, de acordo com a vontade e imaginação dos autores.
Estes aplicam às suas obras estratégias de escrita semelhantes ao “nonsense” , nas quais o leitor tem a árdua tarefa de “desmultiplicar” aquilo que vê e/ ou lê, de forma a que lhe seja possível compreender as mensagens dos textos.
Geralmente, está patente um cariz humorístico, metáforico e até paradoxal. À primeira vista, não contém qualquer sentido, uma vez que não obedece às leis e regras sintácticas, gramaticais e lexicais que reconhecemos, o que, inevitavelmente, nos obriga a fazer um exercício de reflexão e de problematização extra.
Existe um conjunto de códigos e padrões que precisam de ser identificados para que se perceba o seu significado e se estabeleça uma concórdia entre autor e leitor. Mas este tipo de situações ocorre, também, no banal quotidiano de qualquer indivíduo, nomeadamente de uma criança, que possui uma linguagem específica e enigmática, que nem todos compreendem e partilham (língua dos “p’s”, por exemplo).
Apesar das dificuldades de interpretação, estes tipos de texto são particularmente interessantes e atractivos, sobretudo para as mentes mais criativas.

sexta-feira, abril 20, 2007

Trabalho Final 2007


NOTA: Este trabalho representa 50% da classificação final da disciplina e é obrigatório para alunos/as em avaliação contínua, e facultativo para os/as alunos/as em avaliação final. No caso de alunas/os em avaliação contínua, os restantes 50% resultarão dos textos produzidos para o blogue da disciplina. Alunos/as em avaliação final que optarem pelo trabalho poderão fazer apenas uma parte do exame. Neste caso, a ponderação do trabalho na nota final é de 40%. Nos termos do regulamento de avaliação da Faculdade, haverá uma apresentação/discussão oral do trabalho em data a combinar com o docente. Data limite de entrega: 1 de Junho de 2007.

Ao longo do semestre temos procurado conhecer, interpretar e analisar várias obras inter-media, produzidas quer em suportes tradicionais, quer com recurso ao computador. Vimos designadamente vários tipos de textos combinatórios, sonoros, visuais e cinéticos. Procurámos ainda descrever as propriedades específicas do meio tipográfico e do meio digital. Vimos também argumentos relacionados com questões como meio e mensagem, escrita e leitura, hipertexto e hipermédia, interactividade e participação do/a leitor/a, motores textuais e criação assistida por máquinas, etc. O trabalho que proponho a seguir pretende verificar pelo menos uma destas duas competências: a) capacidade de analisar criticamente, com recurso à bibliografia recomendada, uma obra ou um conjunto de obras literárias digitais; b) capacidade de conceber e/ou realizar uma obra de natureza digital, que deve ser descrita e explicada detalhadamente.

Escolha apenas um dos dois projectos indicados a seguir como trabalho final:

PROJECTO A.
Descreva e analise uma ou várias obras de natureza inter-media e/ou digital. Esta análise deve revelar conhecimento dos problemas teóricos tratados nas aulas e deve estar informada pelas leituras recomendadas. Serão especialmente valorizadas a capacidade de relacionamento e problematização das questões. Extensão do texto: cerca de 3000 palavras.

PROJECTO B.
Consiste na criação de uma obra digital ou de um projecto para uma obra digital, recorrendo a programas de computador (processadores de texto e de imagem, programas de criação de páginas web, etc., como Word, Powerpoint, Flash, FrontPage, Dreamweaver, etc.), materiais encontrados em linha, máquina fotográfica digital, telemóvel, etc. A obra digital (criada ou apenas projectada) deve ser objecto de uma descrição detalhada.

quinta-feira, abril 19, 2007

Labirinto

Um labirinto é constituído por um conjunto de percursos intrincados criados com a intenção de desorientar quem os percorre. Podem ser construções tridimensionais (como o lendário labirinto de Creta, ou um conjunto de sebes plantadas de forma a proporcionar entretenimento num jardim), desenhos (como os labirintos que aparecem nos jornais como passatempo). Na mitologia grega, o labirinto de Creta teria sido construído por Dédalo (arquitecto cujo nome tornou-se, depois, também sinónimo de labirinto) para alojar o Minotauro, monstro metade homem, metade touro, a quem eram oferecidos regularmente jovens que devorava. Segundo a lenda, Teseu conseguiu derrotá-lo e encontrar o caminho de volta do labirinto graças ao fio de um novelo, dado por Ariadne, que foi desenrolando ao longo do percurso.

quarta-feira, abril 18, 2007

O Labirinto

Um Labirinto é um complicado, perplexo aranjo de curso de coisas ou assuntos. Ou seja é alguma coisa que nos faz sentir preocupados e confusos porque é dificil de entender ou chegar a uma conclusão.
Na metologia grega, temos o Labirinto de Creta que foi construido por Dédalo para a casa do Minotauro que era um monstro com metade homem e metade touro, resultante da relaçao de Pasífae, que era a esposa do rei Minos, com um touro branco que saiu do mar. Ao Minotauro eram oferecidos jovens atenienses. O rei Minos ordenou que sete jovens e sete damas atenienses fossem devorados pelo Minotauro anualmente para vingar a morte do seu filho pelos atenienses.
Depois de alguns sacrificios, Tseu consiguiu matar o Minotauro com a ajuda de Ariadne que era filha do rei Minos e que apaixonou-se por Tseu.

sexta-feira, abril 13, 2007

Aviso (sobre o dia 18 de Abril)

Na próxima quarta-feira, 18 de Abril, não haverá aula de «Literatura e Media na Era Digital», uma vez que estarei num colóquio em Lisboa à mesma hora. Relembro que os textos para a aula de sexta-feira são os textos de Raymond Queneau. Recomendo ainda a leitura do ensaio de Italo Calvino, «Cibernética e Fantasmas» (incluído na bibliografia distribuída inicialmente).

quarta-feira, abril 11, 2007

SOS – O fim do mundo como o conhecemos

Tudo o que começa tem um fim, já lá dizia um pensador chinês da antiguidade (não me perguntem qual, porque chineses há muitos, e por estranho que pareça todos eles são propensos a pensar em coisas profundas). Com o mundo não será diferente. Como começou, um dia terá que acabar. Agora a grande incógnita reside em saber como isso vai acontecer.

Teóricos falam de um meteorito, ambientalistas prevêem alterações climatéricas mortais, vários romancistas criaram estórias de seres de outros planetas que não vêem a nossa existência com bons olhos, religiosos falam de quatro cavaleiros e de rios que sangram (chamem-me descrente mas esta teoria parece ter tanta validade como uma tangerina triangular), e alguns físicos falam da morte da nossa querida estrela: o sol.

É exactamente essa teoria que é explorada por Augusto de Campos no poema SOS. Começando por nos apresentar um cenário a lembrar o espaço exterior (pequeno pontos cintilantes brilham num fundo negro, formando palavras que orbitam de forma verdadeiramente hipnótica), o autor fala de uma noite eterna, uma noite que anoitece, sob a qual caminharemos para um fim inevitável.

O som de fundo, misturado com o registo monocórdico do narrador, criam um ambiente de profunda perturbação… de pânico… de inevitabilidade. Uma criação que apela para um súbito momento de reflexão sobre a sempre caótica resolução final.

Que faremos quando esse momento chegar?

Eu… sinceramente… espero já cá não estar…

“Sem saída” – No início…

… não havia nada. Ok, na realidade havia. Haviam os nossos pais, tios, primos… havia toda uma sociedade já construída, mas isso tiraria parte do dramatismo, e no que a este texto diz respeito (ao nosso plano pessoal) não havia de facto nada. Depois algo aconteceu. Uma pequena faísca surgiu no meio da escuridão e… ali estávamos nós. Toda uma estrada se ergueu perante nós, repleta de desvios prontos a moldar e a influir sobre a nossa existência. Tínhamos começado a caminhar para um destino que estava definido à partida (Não se enganem. Ninguém vai ficar para semente). Restava-nos saber como íam ser as coisas até lá.

É sobre isto que o Augusto de Campos reflecte no seu clip animado. Quem um dia nasceu, um dia vai ter que morrer. Não é por acaso que o clip começa a negro, e do negro começam a surgir as primeiras letras. (“a estrada é muito comprida” surge no princípio, e a analogia é relativamente simples – não é a primeira vez que a vida é comparada a uma estrada)

Também não é por acaso que as palavras se vão formando à medida que vamos interagindo, metáfora da nossa existência e de como nos vamos “criando” através das nossas acções (a própria discrepância entre os movimentos do rato, e os movimentos das palavras, pode ser entendido como um forma de mostrar que estamos longe de conseguir dominar as consequências das nossas acções).

No fim tudo se junta, e temos aquilo que somos. A soma de todas as decisões que alguma vez tomámos.

Que podemos concluir disto?... Bem… Viemos do nada… e vamos para o nada. Não sou nenhum génio da matemática (senão não teria vindo para letras), mas algo me diz que o resto é zero, independentemente do que tenhamos feito ou venhamos a fazer. E cada um tira daí as respectivas conclusões.

“O jardim dos caminhos que se bifurcam” – o Schrödinger tinha um gato

Era uma vez um gato que vivia numa caixa… Mas não era uma caixa qualquer. Era uma caixa mágica. No seu interior encontrava-se um frasco com um pó mágico* que podia ou não matar o gato. Só quando alguém abrisse a caixa é que se podia ver se o gato estava morto ou vivo… Quereria isto dizer que enquanto ninguém abrisse a caixa o gato estaria morto e vivo ao mesmo tempo?

Este é o paradoxo de Schrödinger, um dos criadores da mecânica quântica, e um dos principais impulsionares da teoria dos universos paralelos.

O conto de Jorge Luís Borges assenta nessa teoria. Não existe um presente senão múltiplos presentes, consequência das várias opções que alguma vez tomámos na nossa vida. Quando nos encontramos com uma decisão, são criados paralelamente tantos presentes como o número de opções com que nos deparamos. Se multiplicar-mos a isso o número de vezes nas quais nos vê-mos obrigados a tomar decisões, obtemos um número infinito, não só de presentes, mas também de passados e futuros… Temos portanto um sistema infinito de infinitas variáveis… e isso é o tempo. Um labirinto. Um jardim onde os caminhos se bifurcam.

Eu neste momento - mas noutro universo temporal - não me encontro aqui a escrever este texto. Eu na realidade não escolhi esta cadeira. Não conheço este blog. Não estou neste curso. Aliás, eu nem sequer nasci porque os meus pais nunca se chegaram a conhecer.

Confusos? Não estejam… na realidade uma parte de vocês nunca chegou a ler este texto.

* Na verdade é bem mais que pó mágico o que se encontra dentro da caixa. Mas não vos quero maçar com todo o palavreado técnico. Deixo isso para os físicos e estudiosos que ganham a vida com isso e que realmente sabem do que estão a falar (ou pelo menos tem a obrigação)

“The Loch Ness Monster Song” – O sentido submerso

O sentido vai muito para além do alfabeto conhecido. Isso fica claro depois de se ouvir a obra do escocês Edwin Morgan, “The Loch Ness Monster Song”.

Quem vê a obra pela primeira vez não pode evitar pensar que Edwin Morgan deixou o seu gato à solta por cima da máquina de escrever, e que tentou ficar conhecido por isso. A sequência de letras não forma palavras conhecidas, por isso é natural que o leitor menos habituado a obras experimentais, fique algo desorientado. Mas o mais persistente conseguirá ver para além das palavras. Conseguirá encontrar o sentido, não no texto em si (pelo menos não naquilo a que vulgarmente aprendemos a designar de texto), mas na obra como um todo.

O texto consegue, através de uma série sinais gráficos, levar o leitor, num primeiro momento, a reconhecer alguma da narrativa. (um ponto de interrogação do fim de uma sequência de letras, produz um efeito reconhecido quase universalmente).

Se a esse primeiro momento, acrescentar-mos a audição do texto, reparamos noutros aspectos do texto, devido ao facto do som ser, por si só, um construtor de sentido, capaz de estimular a imaginação do leitor de modo a fazer com que este encontre, não apenas sentido no texto, mas uma forma de visualizar a acção. E ao fim de alguns minutos de volta dos parágrafos, à primeira vista tão ilegíveis, começamos a entender as onomatopeias, e toda uma notação ao princípio tão distante, dando por nós a questionar a razão que terá levado o monstro a mergulhar de forma tão abrupta…

… Será que não nos percebeu? Ou pior… será que não nos quis perceber?

“Pome Poem” – O que é comunicar?

Mais do que o que é um poema, a pergunta que se impõe é: o que é comunicar?

Não nos estaremos a esquecer que comunicar é algo bem mais complexo que a adopção de convenções e de estruturas previamente definidas? Em "Pome Poem", o poeta canadiano bpNichol pretende alertar o leitor (ou será ouvinte?) para a complexidade que envolve todo o processo comunicativo.

Algo como a criação de um simples poema, não se reduz ao acto de amontoar um conjunto de palavras escritas. A obra não é do seu criador, mas antes, é o seu criador: o ar que respira, as gargalhadas que solta, as lágrimas que libertou, os sons que ouviu. É fruto da mistura de sensações e vivências do respectivo autor. E se tal acontece...

... porquê não ir mais além de meia dúzia de estrofes escritas?

domingo, abril 08, 2007

Afinal, No Fim do Arco-Íris Não Existe Nenhum Pote Com Tesouro Dentro- É Sem Saída

Depois de produzidas diversas interpretações pessoais acerca do poema hipermédia "sem saída", de Augusto de Campos, tanto em aula, como aqui no espaço sala-digital, julgo vislumbrar uma interpretação mais ou menos geral e aceite por todos como sendo a mais próxima de uma possível representação da realidade que lhe subjaz.
Assim, tenta servir o presente texto como particular chamada de atenção para a importância das cores utilizadas no referido poema de Augusto de Campos.
Sendo o seu conteúdo marcado por toda uma carga "negra" derivada dos traços tão profeticamente pessimistas que o texto assume, há um encaminhamento imediato do nosso pensamento para um tom monocromático. Porém, as cores utilizadas nos caracteres que lhe dão forma vêm desconfigurar e desmintir a convenção ligada a esta simbologia das cores. Assim, cores alegres e chamativas são utilizadas na transmissão de sentidos negativos para a caracterização do caminho do "eu poético" (se é que podemos considerar que na poesia concreta existe de facto um "eu" delineado e/ou delimitado), metáfora da vida particular de cada um dos homens que constitui a sociedade, e, possivelmente, metáfora do caminho da sociedade no seu sentido aglomeratório.
Tal como Campos ousa construir o seu poema de um modo diferente do habitual: num suporte diferente, com um diferente conjunto de signos: parece que também as cores servem o poema numa diferente direcção.
Sendo que as cores utilizadas são o verde, o vermelho, o cor-de-rosa, o azul, o rouxo, o amarelo e o cor-de-laranja (leia-se: as cores existentes- sendo deixadas de lado as "cores" neutras da ausência de luz, que por isso nem cores são) podemos corroborar a ideia de que há sobremaneira, em "sem saída", uma metáfora da vida, um compêndio daquilo que vivemos e do que fica por viver, quando chegados ao fim desta "estrada"- metáfora, de resto, bastante utilizada como significante representativa da vida, desde a sabedoria popular do senso comum até aos grandes nomes da literatura, dos quais Fernando Pessoa é talvez um dos casos mais repetidamente flagrantes- não existe saída possível de entre todas as hipóteses coloridas que (não) se nos colocam.

sexta-feira, abril 06, 2007

"Sem Saída"

O poema "Sem Saída" de Augusto de Campos é uma obra deveras interessante isto porque é uma obra que pode ter várias leituras.
Quanto a mim a leitura que melhor se aplica a esta obra é a sua conotação com o destino pois penso que em tudo esta obra o reflecte, desde logo os vários caminhos percorridos até se chegar ao "fim da linha".
A vida é feita de opções, diferentes caminhos com diferentes características e óbstáculos, uns com saída, outros nem por isso no entanto todos eles terminam no mesmo a morte!
"Sem Saída" revela aquilo que pode ser o labirinto a ultrapassar pelo ser humano na sua "rota vital" até chegar ao final dessa mesma "rota", a morte!
Augusto de Campos consegue mais uma vez criar uma obra muito ampla naquilo que diz respeito ás leituras a aplicar, e ao mesmo tempo uma obra com variadissímas mensagens implícitas embora quanto a mim a mais forte seja a conotação com o destino como atráz referi!
Parece-me também claro que ao escrever esta obra nos seus últimos anos de vida, esta obra parece reflectir um período de meditação, isto é reflectir nas suas acções e opções tomadas ao longo da sua vida!

quinta-feira, abril 05, 2007

O Fim do Caminho


O conto de Jorge Luis Borges, O Jardim Dos Caminhos Que Se Bifurcam e o poema de Augusto de Campos, Sem Saída, são, de certa forma, análogos.
Ambos reflectem sobre a mesma ideia de labirinto, da enorme encruzilhada de caminhos possíveis de serem tomados ao longo do percurso existencial mas que, no fundo, não têm saída.
Quanto a mim, denoto que surge aqui a dolorosa sensação de morte, a nostalgia, o fim do caminho, o fim da oportunidade de criar – sendo esta a actividade por excelência que alimenta os artistas – ou simplesmente o fim da oportunidade de continuar a viver. Quão terrível...
Apesar de elaboradas em suportes e com estruturas diferentes (sendo uma um conto impresso e outra um clip- poema, formado numa estrutura gráfica e digital díspar, o conteúdo destas obras abalam as consciências e mostram o sentimento dos autores, nomeadamente de Augusto de Campos, quando nos seus últimos anos cria este poema, composto por várias expressões que retractam o que repousa na sua memória e as reflexões que o atormentam: “Não posso voltar atrás”, “Não posso mais adiar”, “O caminho é sem saída”.
Este é um tema que impressiona qualquer leitor enquanto ser humano, que não deixa de ser semelhante ao artista nas suas preocupações, medos e claro, no seu fim.

segunda-feira, abril 02, 2007

"Sem Saída"

Sem Saída de Augusto de Campos é uma reflexão simultaneamente sobre a Vida, o Tempo, a Criação Artística e a própria Literatura Digital.
Sobre a Vida no sentido de too many ways to a dead end pois independentemente de a vida continuar após a morte ou não, esta existe pelo menos fisicamente e é algo do qual não podemos fugir. Para além de que, na continuação do post anterior, por mais diversos que sejam os caminhos que tomemos, estes serão sempre na mesma linha individual e seremos sempre nós. É nesta medida de impossibilidade material de realidades paralelas que reflecte também sobre o Tempo.
Sobre a criação artística enquanto descoberta e invenção, uma vez que não podemos voltar atrás quando criamos algo, podemos oprimi-lo ou anulá-lo mas nunca impedi-lo de existir. Da mesma forma, podemos desenvolver ou continuar, mas não re-inventar, no sentido literal da palavra, algo que outrém tenha trazido ao mundo.
No campo da Literatura Digital, o papel mediador que o computador tem entre o leitor e o poema é fulcral e imediato, já que este existe apenas perante a acção física do primeiro sobre o segundo, salientando a interactividade característica. É visivel também na distribuição e forma como são utilizadas as frases, tanto pela cor (analogia ao arco-íris), fonte (lembra o mecânico) e disposição do ecrã (aleatória de umas perante as outras), típicas do meio digital.

O Tempo - linear e infinito (?)

Do ponto de vista da nossa civilização tecnológica, se há algo comum a todos os seres humanos, é uma mesma unidade temporal, uma vez que na nossa experiência ainda não foi materialmente reconhecida a possibilidade de temporalidades disjuntas. Ao contrário do que aconteceu, e acontece, em algumas civilizações mais rudimentares, temos uma noção linear do Tempo, percepcionado numa continuidade única de Passado --> Presente --> Futuro, como se nos dirigíssemos em direcção a algo, incerto. Esta dimensão de temporalidade contínua complementa-se com a dimensão cíclica base, de dias, noites e estações do ano, que se repetem progressivamente, transmitindo-nos a ideia de que o tempo é infinito. Existem sim, sem dúvida, diferentes temporalidades para cada indivíduo, com diversas linhas de acção alternativa, tal como Jorge Luís Borges procurou metaforizar em O Jardim dos Caminhos que se bifurcam.
Surge assim um dualismo temporal, universal, mas não absoluto, na medida em que, cientificamente, o futuro não está traçado.
É esta dimensão labiríntica presente na obra, com a capacidade combinatória de signos e símbolos que geram uma multiplicidade de significações, e na vida, com a proliferação constante de caminhos com que nos deparamos, de portas que se abrem umas a seguir às outras dependendo das anteriores, que constituem uma das grandes problemáticas individuais, comum também a todos nós, cidadãos da sociedade moderna.
Porém não se aconselha a reflectir demasiado sobre o infinito, pois tanto quanto se sabe, todos os que o fizeram enlouqueceram ...