Afinal, No Fim do Arco-Íris Não Existe Nenhum Pote Com Tesouro Dentro- É Sem Saída
Depois de produzidas diversas interpretações pessoais acerca do poema hipermédia "sem saída", de Augusto de Campos, tanto em aula, como aqui no espaço sala-digital, julgo vislumbrar uma interpretação mais ou menos geral e aceite por todos como sendo a mais próxima de uma possível representação da realidade que lhe subjaz.
Assim, tenta servir o presente texto como particular chamada de atenção para a importância das cores utilizadas no referido poema de Augusto de Campos.
Sendo o seu conteúdo marcado por toda uma carga "negra" derivada dos traços tão profeticamente pessimistas que o texto assume, há um encaminhamento imediato do nosso pensamento para um tom monocromático. Porém, as cores utilizadas nos caracteres que lhe dão forma vêm desconfigurar e desmintir a convenção ligada a esta simbologia das cores. Assim, cores alegres e chamativas são utilizadas na transmissão de sentidos negativos para a caracterização do caminho do "eu poético" (se é que podemos considerar que na poesia concreta existe de facto um "eu" delineado e/ou delimitado), metáfora da vida particular de cada um dos homens que constitui a sociedade, e, possivelmente, metáfora do caminho da sociedade no seu sentido aglomeratório.
Tal como Campos ousa construir o seu poema de um modo diferente do habitual: num suporte diferente, com um diferente conjunto de signos: parece que também as cores servem o poema numa diferente direcção.
Sendo que as cores utilizadas são o verde, o vermelho, o cor-de-rosa, o azul, o rouxo, o amarelo e o cor-de-laranja (leia-se: as cores existentes- sendo deixadas de lado as "cores" neutras da ausência de luz, que por isso nem cores são) podemos corroborar a ideia de que há sobremaneira, em "sem saída", uma metáfora da vida, um compêndio daquilo que vivemos e do que fica por viver, quando chegados ao fim desta "estrada"- metáfora, de resto, bastante utilizada como significante representativa da vida, desde a sabedoria popular do senso comum até aos grandes nomes da literatura, dos quais Fernando Pessoa é talvez um dos casos mais repetidamente flagrantes- não existe saída possível de entre todas as hipóteses coloridas que (não) se nos colocam.