domingo, novembro 30, 2008

A corda (string) da linguagem

Em Strings deparamos com uma discussão entre um casal, algo de bastante prosaico. Há a primeira troca de ideias, por vezes bastante violenta e extremada, em que se digladiam pontos de vista diferentes (argument). Segue-se uma fase menos conflituosa (argument2), em que se põe em cima da mesa um possível ponto de acordo, contudo nenhuma das partes quer ceder. É cedo para isso, mas a presença de um maybe deixa em aberto uma reconciliação...

As lexias seguintes [flirt e flirt (cntd)] representam isso mesmo. Os argumentos que a princípio se contrariavam e entravam em colisão, depressa se fundem numa mesma razão, o amor. O par parece que se esquece dos motivos que conduziram à discussão e entra no campo da brincadeira e do companheirismo (haha). É nesta fase que se fazem as juras de amor e se apela à união do casal, como forma de combater as divergências próprias de uma vida a dois (youandme).

Your arms (around) me, é a frase que marca a lexia seguinte desta obra hipermédia. É fácil visualizar o casal, após a discussão e a reconciliação, abraçado, sem pensar em mais nada e contente por ter ultrapassado a crise. Dan Waber conclui a sua obra com o seguinte epíteto: words are like strings that pull out of my mouth. Pretende-se mostrar como tudo aquilo que dizemos está interligado com o que acabámos de dizer, isto é, há como que uma corda invisível que liga todas as nossas palavras e frases. Aliás, essa ideia está presente em Strings na forma como as palavras aparecem escritas com a mesma linha, ou corda. A linguagem funciona como um todo, unido e racional, e esta sua continuidade é essencial para a sua compreensão.

terça-feira, novembro 25, 2008

Rui Torres,Amor de Clarice...(aulas anteriores)

Rui Torres tentou reconstruir o poema de Clarice inspector como um conto contínuo verbal,numa tentativa de interpreta-lo e reescreve-lo através de expressões retiradas do texto que se sucedeu utilizando meios em é combinado o hipertexto,a voz a música e o vídeo.
Rui segmentou o texto e fraqmentou todas as frases e expressões de palavras que ocorreu no conto que foram retirados do contexto original,recombinando por fim todos estes fragmentos.Este processo de leitura no modo digital trabalha essencialmente com a aletoriedade destes fragmentos que estão encadeados numa ordem pré defenida,prefilando uma espécie de índice introdutório deste conto ao qual,o leitor pode clicar e arrastar as palavras para ouvir o texto.Nesta sequencia, a frase que se ouve,é aquela em que posso defenir das palavras de uma forma descontínua,contrariando a forma linear do texto numa liberdade de escolha.
A passagem do início para o fim deste poema hipertextual é acompanhado também pela sequência temporal da narrativa original em que temos o início formado pelas "compras",depois a referência a apresentação das personagens nas primeiras linhas, e depois há "uma perigosa hora da tarde"a partir dalí , há outro grande momento que está la fora que é desencadeada pelo resto da história deste conto.
Encontramos de facto no próprio texto uma leitura da interpretação de centro através destes momentos, a que desapareceram muitas ligações de onde as frases foram transformadas em pedaços de frases,onde elas não deixam de ter uma certa repetição sonora desta narrativa transformada neste fantástico poema.

segunda-feira, novembro 24, 2008

A ligação como essência da narrativa...

Hegiroscope é um poema hipermédia, em que cada lexia está temporizada. O poema abarca uma infinidade de lexias, sendo que, cada uma delas contém quatro hiperligações. Todas as narrativas hipermédia problematizam o fenómeno da ligação, uma vez que, as ligações são o garante da percepção do sentido. A ligação é a essência da narrativa, logo a possibilidade de produzir sentido depende das hiperligações.O poema Hegirascope, sem as respectivas hiperligações seria imperceptível para o leitor.
A experiência do sentido é como que a criação de um puzzle: para conseguirmos criar algo com sentido, é necessário juntar os vários fragmentos. Uma vez que, o nosso modo de produzir sentido não é fragmentário, torna- se mais complicado entender a poesia hipermédia.

Enigma N - Jim Andrews

“Do Latim; Signficatu. Palavra ou frase equivalente em outra forma de linguagem.”
Jim Andrews, em seu poema, Enigma N, propõe nos diferentes formas de linguagem para desmistificar a palavra MEANING (significado) que está exposta como a questão do problema. Interagindo na obra, o leitor tem total poder de movimentar as letras da tal palavra através de variados movimentos, podendo pará-las a hora em que bem entender. Dessa forma, o leitor consegue criar o seu significado através do significado; pois tal palavra não é sólida, não está somente definida para definir, é muito mais ampla e consiste uma dimensão.
O significado vai além de sua tradução. Ele que está presente em tudo aquilo que nos rodeia; o sentido existe no sistema; na leitura, nas imagens, nos sons, nas cores, enfim, tudo é o sentido. Ele movimenta, modifica, renova nossa linguagem, nossas codificações, ele é aquilo que cada um quer que seja. Com esse “jogo de letras” com a palavra “meaning”, Jim Andrews tenta nos mostrar que cada qual é capaz de criar o seu sentido, pois este não é sólido, estável, é maleável. Ou seja, através de seu poema, o autor nos permite “N” possibilidades para a construção do nosso sentido, “N” este que nada mais é do que infinito.

A vida como um labirinto...

Luís Borges, autor do Jardim dos caminhos que se bifurcam, construiu uma trama que tem tanto de magnifico como de complicado. Não é fácil decifrar a mensagem por detrás das suas palavras. O conto começa com o relato da perseguição a Yu Tsun- encetada por Richard Madden. Em toda a obra está presente a noção de labirinto, no tempo e no espaço. " Ninguém pensou que livro e labirinto eram um único objecto". A ideia da semelhança estrutural entre um livro e um labirinto é expressa no conto. Há uma bifurcação dos desenlaces possíveis. "(...) sempre que um um homem se defronta com diversas alternativas,opta por uma e elimina as outras(...)". A noção de tempo, sendo assim, é algo infinito; é como se todos nós já tivessemos sido outras pessoas no passado. As nossas escolhas não são fixas,nem imutáveis. O que somos hoje, podemos não o ser num futuro próximo.

O Edifício de Melo e Castro (PO.EX)

Edifício é um anipoema interessante criado por Melo e Castro e digitalizado por Rui Torres. O autor assume que o edifício é a união entre o cimento e o ferro.
No decorrer do anipoema o cimento e o ferro parecem fundir-se, enquanto saboreiam uma cúmplice dança. Essa dança é a fusão dos dois, o seu "casamento". Podem ser movidos para os lados, arrastados para a frente ou para trás, contudo continuam unidos pelo voto que fizeram, como se fosse impossível separar os dois daquela dança. Essa dança que Melo e Castro constrói é o Edifício, que surge da união do cimento e do ferro, é esse o fruto da sua relação dançante, um edifício, em que a compleição e união entre o cimento e o ferro é perfeita, impossível de se desintegrar.
É a visão de poeta (única, mágica), que transforma a ligação tão especial, tão avassaladora que nos passa ao lado. Mostra que nem tudo o que é óbvio não possa ter a sua magia, a sua beleza... Este casamento entre o cimento e o ferro, a sua forte ligação, é o eixo do edifício, a sua força. Um edifício não é só cimento ou ferro, é a simbólica e bela união entre os dois... Uma ligação tão forte, tão coesa, tão eterna...

sábado, novembro 22, 2008

Shelley Jackson - Marcas do Corpo, Marcas da Vida...


Shelley Jackson em "My Body - a wunderkammer" mostra toda a beleza da hipertextualidade e as possibilidades que ela nos dá.
Um corpo de mulher é estampado no meio do nosso ecrã, encontra-se "dissecado". Shelley Jackson mostra-o aos leitores como um índice, em que as mãos, os joelhos ou a pele são apenas páginas de um corpo transformado em livro.
Com esse livro, Shelley tenta chegar ao leitor, contar-lhe a história de cada parte do seu corpo, explicar o porquê de cada marca, o porquê de cada parte ser-lhe tão especial, tão merecedora de uma história.
Contudo, a meu ver, o grande objectivo de Shelley Jackson com a criação de "My Body - a wunderkammer" é mostrar que a história do seu corpo é a história da sua vida, a construção do seu corpo é a construção do seu ser... Ao lermos cada história do seu corpo, vamos conhecendo Shelley Jackson, vamo-la descobrindo.
O que marca o corpo de Shelley não são preferencialmente sensações agradáveis, mas marcas de sofrimento, de agonia. As dores de cabeça, as cicatrizes, o sangue, as feridas. São tudo amostras de dor. Porquê? Porque é que Shelley Jackson conta a história do seu corpo baseada em sensações agonizadas?
A vida é um misto de boas e más sensações, mas quais são aquelas que nos constroem? Quais são aquelas que nos marcam e nos ajudam a formarmo-nos enquanto pessoas? É com essa visão que Shelley Jackson nos deixa. As marcas do nosso corpo, aquelas que nos fazem crescer, são assentes na dor. As marcas que não nos abandonam são aquelas que "sangraram", são marcas do nosso corpo, são marcas da nossa vida...

O Labirinto de Jorge Luís Borges


O conto "O Jardim dos Caminhos que se Bifurcam" é um autêntico labirinto, onde o espaço e o tempo fazem de sebes altas, contornando os caminhos desse jardim, alimentando o trama que se vai desenvolvendo ao longo do conto.
A história desenvolve-se durante uma guerra, onde o clima de grande instabilidade e insegurança revela que esta pode terminar a qualquer momento. Uma informação importante pode ser revelada, delineando o desfecho da guerra e o fracasso de uma das partes. É nesse momento que Jorge Luís Borges dá o poder às personagens de desenvolverem inúmeras possibilidades que o destino da informação pode tomar. Essas possibilidades transformam-se nas sebes do labirinto criado, dando cada uma, um desfecho totalmente diferente.
Jorge Luís Borges acaba por demonstrar que um simples e pequeno gesto, pode determinar o destino de algo de maior importância. São os pequenos detalhes que elaboram a História, podendo determinar o fim ou início, a verdade ou a mentira, a vida ou a morte. Jorge Luís Borges eleva esses pequenos detalhes e transforma-os em passos decisivos para o final de uma história, para o final de uma guerra. São esses detalhes que pautam o nosso presente, mostrando-nos o caminho a seguir, eliminando caminhos desse labirinto que é a vida. São esses detalhes que desenham a nossa vida, a vida do Homem.

O Jardim dos Caminhos que se Bifurcam…

Este conto, da autoria de Jorge Luís Borges, alerta o leitor para a multiplicidade do sentido, isto é para as inúmeras bifurcações que este pode ter. É também um conto labiríntico uma vez que existe um grande número de bifurcações entre tempo e espaço. A trama em si desenvolve-se num clima de grande instabilidade; estamos no meio de uma guerra em que há alguém que possui uma informação bastante importante, que condicionará o desfecho desta guerra, e que foge de Richard Madden, o capitão. Com toda esta agitação as personagens começam a pensar em várias possibilidades que o seu destino pode tomar. Estas possibilidades não são mais que o resultado da escolha de determinadas bifurcações do “labirinto” e condicionam todo o desfecho, pois uma escolha pode revelar-se crucial e criar assim vários desfechos.
Assim, podemos concluir que as selecções de caminhos que vamos fazendo ao longo da nossa vida têm implicância no nosso futuro, se é que ele existe. Este labirinto, que é a vida, é o resultado de todas as opções que vamos tomando, dos caminhos que seguimos, e quando esta vida termina a única lembrança, o único rasto dela é deixado pra os nossos descendentes, ou para alguns deles e “não a todos”, tal como o disse Ts’ui Pen.

terça-feira, novembro 18, 2008

Um espelho de si mesma

A obra digital Mybody: a wunderkammer, é um retrato físico e psicológico da própria autora, Shelley Jackson. Ela utiliza a imagem do seu corpo como meio de dar a conhecer ao leitor um pouco de si própria. Essa mesma imagem funciona como um espelho da sua alma pois, ao visitarmos as diferentes partes do seu corpo, temos a possibilidade de descobrir um pouco mais da sua vida, como aquilo que a faz chorar, sorrir...
A forma como Shelley Jackson construiu esta narrativa, ou seja, a forma como conta a sua vida repartindo as fases pelas diferentes zonas do corpo, permite ao leitor escolher por onde quer começar e onde quer acabar. Deste modo, cabe-lhe deambular pelas partes mais interessantes da fisionomia da autora, traçando o seu próprio percurso.
Sendo o texto semi determinado, a materialidade textual varia de leitor para leitor, dependendo da relação que cada um estabelece com o próprio texto. Assim sendo, Mybody: wunderkammer é uma obra ergódica.

O Jogo do Sentido

O poema de Jim Andrews resume-se essencialmente à explicação do que é o sentido. O sentido não é algo concreto e intocável, mas sim algo que está sempre em transformação, uma vez que cabe a cada um de nós a tarefa de atribuir sentido às coisas.

Neste poema, o leitor tem a possibilidade de escolher a forma como o quer ler ou interpretar, pois o autor disponibiliza-lhe um vasto leque de opções que lhe permitem colocar o poema em movimento, com maior ou menor velocidade, entre outras.

A crença do autor de que o sentido é um enigma é expressa pelo mesmo, tanto no título do poema – Enigma N-, como no jogo que faz com a palavra meaning. Assim, cada um dos leitores vai interpretar o poema de forma diferente, construindo o seu próprio sentido com a ajuda da palavra meaning.

O sentido é uma pintura abstracta, na medida em que depende de nós próprios a sua descodificação.

domingo, novembro 16, 2008

My Body, Shelley jackson

My body é uma história sobre o corpo humano.
A autora contrói uma narrativa, tendo como referência os acontecimentos relacionados com cada parte do seu corpo. O auto-retrato da narradora é dado através da segmentação de diferentes partes do corpo. Temos a possibilidade de explorar o seu íntimo, uma vez que, associada a cada parte do seu corpo, existe uma ligação a uma memória. Cada lexia tem pelo menos uma ligação, logo, o leitor é livre de navegar entre os diversos relatos.
Geralmente, pensamos o corpo como um todo, a consciência das suas partes, acontece quando o corpo é marcado por alguma experiência de dor e\ou prazer. No nosso corpo estão "escritos" alguns dos acontecimentos que marcaram a nossa experiência pessoal, tais como: uma cicatriz de uma operação, as marcas de uma gravidez, a amputação de um membro, entre outros.
Este é um poema sobre a interpretação que cada um faz do seu corpo,bem como o sentimento que cada parte provoca no seu íntimo.

"My Body - A Wunderkammer"

"My Body - A Wunderkammer" define-se como uma caracterização corporal, bastante permonorizada, da autora.
Acedendo a este poema, o leitor tem a oportunidade de encontrar as várias partes do corpo de Shelley Jackson acompanhadas com uma caracterização permonorizada acerca dessas mesmas partes.
A autora relaciona as suas partes do corpo com determinados momentos da sua vida, nomeadamente, a sua infância e o momento em que realmente conheceu o seu corpo.
A existência deste paralelismo entre o corpo da autora e a sua própria vida, permite ao leitor um conhecimento mais profundo de Shelley Jackson e atribuiu ao poema um carácter autobiográfico. A forma como o poema nos surge permite, também, ao leitor, uma liberdade de leitura e interpretação acerca da obra.

"Enigma n" de Jim Andrews

"Enigma n" de Jim Andrews revela-se como um excelente retrato quando nos referimos à tranformação literária em consequência da evolução tecnológica.
Ao analisarmos esta obra deparamo-nos com um conjunto de sete letras que, possivelmente ordenadas, constituirão uma palavra, um significado. E é precisamente neste momento que se inicia a acção do leitor enquanto interveniente e participante desta obra.
Ordenando estas sete letras formamos, entao a palavra meaning - significado em português.
Penso que não existe melhor palavra para podermos inserir neste poema de Jim Andrews já que, não só nesta obra como em tudo aquilo que nos rodeia, está patente a ideia de que o Mundo é resultante das interpretações que cada individuo faz e está dependente da representação individual acerca desse mesmo Mundo.

" O Jardim dos Caminhos que se Bifurcam"

A forma como toda esta obra literária é estrturada sugere, ao leitor, uma ideia de labirinto, onde se verifica a existência de tempos paralelos, pelo simples facto de o individuo não ter a capacidade e possibilidade de se encontrar em vários espaços ao mesmo tempo - a bifurcação.
O facto de existir uma fonteira entre o tempo e espaço leva o ser humano à construção da sua própria realidade, formando-se vários conceitos acerca do mesmo Mundo.
Na minha opinião, o principal objectivo desta obra, que se insere nas narrativas combinatórias, é dar a possibilidade ao leitor de elaborar a sua própria interpretação perante aquilo que observa, tendo como base o seu "Mundo", e dar-lhe a possibilidade de intervir, activamente, na obra.

"My Body - a wunderkammer"

"My Body - a wunderkammer" de Shelley Jackson revela como a autora foi ficando consciente das diferentes zonas do seu corpo. Inicialmente, o leitor depara-se com uma ilustração de um corpo feminino, representando a narradora. Tratando-se de um hipertexto, a ilustração encontra-se repleta de destaques às diferentes partes do corpo que dão acesso às respectivas narrativas. É aqui que o leitor fica a conhecer como a autora ficou consciente de cada zona do seu corpo. Para tal, a narradora recorre a descrições, comparações e recordações do seu passado, onde a dor, o prazer e todo o tipo de sentimentos são a causa para esta consciencialização.

Relativamente à forma da obra, podemos considerá-la labiríntica, na medida em que permite realizar movimentos recursivos e progressivos. Na imagem inicial do corpo feminino, que podemos comparar a um mapa, o leitor vê-se livre para escolher a parte do corpo que deseja desvendar, sem qualquer ordem ou sequência obrigatória. Após essa escolha, o leitor continua a ter à sua disposição diferentes caminhos: tanto pode voltar à imagem inicial, como pode optar pelas hiperligações a outras partes do corpo relacionadas.

A obra encontra-se semi-determinada, a autora disponibiliza uma multiplicidade de percursos, mas cabe ao leitor a escolha do caminho, provocando deste modo mudanças no texto.

sábado, novembro 15, 2008

Shelley Jackson: “My Body - A WunderKammer”

“My Body – A WunderKammer”. É exactamente sobre o corpo da autora que nos fala este poema. Construído tendo por base o hipertexto, neste poema Shelley Jackson apresenta o seu corpo ao leitor como um todo e repartido pelos diferentes membros. No entanto ela vai mais longe ainda e dá a conhecer ao leitor pequenas histórias relacionadas com cada membro do seu corpo, isto é, pequenos acontecimentos, maioritariamente da sua infância, a partir dos quais tomou consciência das diferentes partes do corpo. Estas pequenas narrativas são como que uma biografia da autora uma vez que o seu conteúdo diz respeito a algumas vivências da sua infância. No entanto para aceder a elas o leitor necessita intervir na obra, como é típico em obras de ficção ergótica, como é o caso
Todo o poema consiste num elevado número de hiperligações que transportam o leitor de uma parte do corpo para outra, seguindo uma sequência à sua escolha. Essas hiperligações tanto podem estar sobre os diferentes membros do corpo como no pequeno texto que, de certa forma, caracteriza cada membro; a sequência de leitura, apesar de escolhida pelo leitor, é limitada, uma vez que este está condicionado pelas opções de leitura fornecidas pela autora, ou seja, pelas hiperligações por ela criadas. Sendo assim existem várias sequências de leitura mas nem todas são exploradas.
Com este tipo de poema, a autora, além de dar a conhecer ao leitor alguns dos seus dados biográficos, faz com que este se reveja em alguns aspectos e desenvolva um processo de “auto-conhecimento” das partes do seu corpo.

quinta-feira, novembro 13, 2008

O labirinto corporal de Shelley Jackson

Na obra " My Body: a Wunderkammer", Shelley Jackson faz uso do hipertexto para dar a conhecer as mais variadas histórias que fazem parte do seu corpo.

A imagem feminina desnudada, com a legendagem das mais variadas partes do corpo humano, num formato a preto e branco, desde a cabeça até ás unhas dos pés, é apresentada ao clicar na imagem de fundo que inicia o site.

Através de hiperligações, que se encontram pelo corpo inteiro, o leitor pode deambular por um auntêntico "Labirinto Corporal". Pois, este formato hipertextual possibilita a quem nele divaga, a descoberta de memórias que a sua autora confere ao corpo.

A partir daí, o leitor pode navegar por um mundo de memórias e recordações, que o possibilita de conhecer um pouco mais acerca da sua autora.

Viagem pelo corpo de Shelley Jackson

Um corpo, muitas estórias. Poderia resumir-se desta forma a obra de Shelley Jackson "My Body - a Wunderkammer". Com a sua própria anatomia como ponto de partida, a autora relata episódios da sua vida ao mesmo tempo que partilha sensações e emoções. É possível criar uma empatia através das histórias contadas por Shelley, pois há um imediato reconhecimento de nós próprios nelas. Quem nunca esfolou os joelhos e brincou com as feridas?

Navegando pelas várias lexias o leitor fica a conhecer um pouco mais de Shelley Jackson. Desde a cabeça até às unhas dos pés, o diagrama do seu corpo está preenchido com hiperligações que conduzem a descrições que derivam invariavelmente para histórias simples, quase infantis. "My Body" é um hipertexto profícuo em imagens. Não só em imagens gráficas que representam as várias partes do corpo humano, mas também em imagens literais. Os textos de Jackson estão recheados de belas metáforas e comparações, permitindo ao leitor atingir aquilo que a autora pretende.

Em cada texto, associado a cada uma das partes do corpo, há várias hiperligações que transportam o leitor para outras partes, sendo bastante perceptível a estrutura labiríntica desta obra. Desta forma, Shelley Jackson dota o seu corpo de uma unidade que, de outra forma, não seria possível. Das axilas podemos navegar directamente para as pernas de Shelley Jackson; com apenas um clique ficamos de imediato a saber as histórias que rodeiam as suas pernas. Em que outro corpo poderia isto acontecer?

quarta-feira, novembro 12, 2008

“My Body - A WunderKammer” de Shelley Jackson

Ao contrário do que se passa com os livros, que apresentam uma sequência narrativa lógica e ordenada, a hiperficção assenta na estrutura labiríntica, dando assim ao leitor a possibilidade de criar o seu próprio percurso de leitura.
“My Body – A WunderKammer” assenta então nessa estrutura labiríntica. O leitor é confrontado com o desenho de um corpo feminino e, a partir daí, pode aceder a um conjunto de textos que estão ligados a cada parte do corpo. No entanto, ainda dentro desses textos, o leitor encontra hiperligações que o podem levar para outras partes do corpo, ou seja, para outras narrativas.
Podemos encarar esta obra como autobiográfica, pois a autora associa cada parte do seu corpo a um episódio da sua infância; cada parte representa para ela uma sensação, e é essa sensação que está associada à sua vida. Pois foi com as diferentes sensações que cada parte do corpo lhe proporcionou, que ela tomou consciência do seu corpo, não só como um todo, mas também cada parte por si só; pois cada parte significa uma sensação diferente, que resulta aqui como uma recordação. Há então a descrição de uma parte do corpo associada a uma sensação, que ela remete para lembranças.
O corpo surge-nos fragmentado, dividido, e á medida que o leitor vai clicando nas suas diferentes partes, é como se acedesse a diferentes episódios da vida da autora. No entanto não podemos definir um espaço temporal, pois não sabemos exactamente que momentos da sua infância ela dá a conhecer, toda a obra se pode resumir a um único dia, a um mês, ou até a um ano.
Penso que a obra não está assim representada por mero acaso, com esta estrutura a autora mostra-nos que o próprio corpo pode funcionar como um livro, onde o leitor pode escolher a parte que quer desvendar primeiro, é ele que traça o rumo da narrativa. Esta forma de narrativa permite ainda intensificar o conceito de fragmentação que está subjacente a toda a obra, pois cada parte existe em separado. Apesar de todas as partes poderem estar interligadas, nomeadamente através das hiperligações, podem também existir separadamente, o leitor tanto pode optar por ler todas as narrativas, como pode ler apenas algumas.

"O jardim dos caminhos que se bifurcam"

“Deixo aos meus porvires (não a todos) o meu jardim dos caminhos que se bifurcam.”
O labirinto de Ts’ui Pen surge nesta trama de espiões como alegoria à divisão do espaço e do tempo em múltiplas realidades. O que é possível numa realidade não o será noutra, porque as circunstâncias dos acontecimentos variam de universo para universo. O próprio Stephen Albert, personagem que descobriu o segredo da obra de Ts’ui Pen, refere-se a diferentes possibilidades de desenlace do mesmo evento em tempos paralelos: “Neste [tempo], que um favorável acaso me proporciona, você chegou a minha casa; noutro, você, ao atravessar o jardim, deu comigo morto; e noutro, eu digo estas mesmas palavras, mas sou um erro, um fantasma.” (…) “Num deles sou seu inimigo.”
Tal como Ts’ui Pen, ao referir que não deixa (ou não pode deixar) o seu legado a todos os futuros, Stephen Albert afirma que um indivíduo pode não existir em todas as realidades. O tempo bifurca-se a partir das escolhas de cada indivíduo, dando origem exponencial a outros tempos, num continuum infinito.
Mesmo antes de ser confrontado com a obra do seu antepassado, Yu Tsun, personagem principal, caminha pelo seu próprio labirinto espaço – temporal. Ao dirigir-se para a casa de Stephen Albert, o espião depara-se com as sucessivas bifurcações ao longo do percurso. Poderia escolher qualquer outro curso para a sua história, mas opta por completar a sua missão final para os alemães, no ano de 1916.
O conto de Jorge Luís Borges permite-nos, portanto, reflectir acerca da importância da escolha no desenho da vida e do labirinto invisível que se tece a cada passo que se dá. A obra acaba por ser uma metáfora para ela própria, ao suscitar no leitor a reflexão sobre os vários tempos possíveis e é também um óculo que nos permite contemplar um labirinto dentro de outro labirinto.

terça-feira, novembro 11, 2008

“Enigma N” – Jim Andrews

“Enigma N”, de Jim Andrews, é um poema concreto que chama a atenção do leitor para a instabilidade e multiplicidade do sentido. É um poema que tenta responder à questão “O que é o sentido?” e que consiste no movimento e interacção das letras da palavra “MEANING”, através da intervenção do leitor. Assim o enigma do texto é o sentido, a possibilidade de gerar sentido.
O poema inicia-se mesmo com essa palavra, “MEANING” - anagrama do título do poema, “Enigma N “, sobreposto, ao centro, num fundo de cor preta. Para que o leitor compreenda o poema, o autor deu-lhe uma sequência de leitura através de três opções. Com a exploração do texto vão aparecendo novas opções que operam novas alterações no poema, alterando assim o movimento e o aspecto deste: a intensidade e a trajectória dos movimentos das letras modificam-se bem como as cores destas. Uma das opções (0/1) pára todos os movimentos das letras formando mais do que um padrão. Esses padrões não estão predefinidos, dependem do momento em que o autor clica com o cursor sobre o poema, permitindo que o leitor veja a consequência da sua intervenção; estes padrões são em número infinito, tal como o sentido é mutável.
Neste poema apesar de ser o leitor a dar o sentido ao texto este está condicionado àquilo que já está instituído pelo autor (conteúdo do poema). Deste modo o sentido está no acto de parar o movimento e criar um padrão e no próprio movimento da palavra/das letras.

Enigma n de Jim Andrews

O poema de Jim Andrews joga com o sentido das palavras e exemplifica o processo de construção de significados.
Partindo da palavra "meaning" (significado) e através de uma desordem, voluntariamente infligida pelo "leitor" da obra digital, as letras que constituem a palavra inicial são misturadas. Em movimentos circulares orientados para a esquerda ou para a direita e de modo mais lento ou mais rápido, consoante a vontade do utilizador, forma-se o caos.
Sobressai o enigma n, ressignificação de meaning, que para o olho desejoso de atribuir sentido ao que vê, parece a solução mais lógica. No entanto, as letras perpetuam o seu movimento e, apesar da sensação de familiaridade, o que vemos já não é o que víamos.
Tal como no poema, o sentido das palavras é mutável, dependente da vontade dos indivíduos, contínuo e permanente. Esta analogia com a realidade é precisamente o que torna o (aparentemente simples) poema tão brilhante e é também o que nos faz olhar para esta obra de Jim Andrews e ver para além do tal enigma...

sexta-feira, novembro 07, 2008

“Tudo está dito” – Augusto de Campos

“Tudo está dito”, de Augusto de Campos, é um poema concreto que joga com a percepção humana da forma uma vez desconstrói o processo de funcionamento da língua.
Esta desconstrução deve-se em parte ao aspecto e construção do poema: este baseia-se numa sobreposição de duas cores, o preto e o branco, que assumem diferentes formas, consoante a cor a que o leitor dá relevo durante a sua leitura, em duas colunas, e a junção das letras. Toda esta construção do poema dificulta a leitura e interpretação por parte do leitor pois obriga-o a afastar-se do seu código de leitura dito “normal” e a interiorizar o novo código para conseguir interpretar a mensagem que o poema pretende transmitir.
Devido à complexidade do poema podemos afirmar que neste caso a produção do sentido é relativa uma vez que os leitores podem criar novos códigos de leitura e fazer interpretações diferentes, ou seja, o leitor pode afastar-se dos padrões de leitura e interpretação que o autor, quando criou o poema, pretendia transmitir.

terça-feira, novembro 04, 2008

coraçãocabeça de Augusto Campos

À primeira vista deparamo-nos com um emaranhado de sílabas e palavras desconexas.
Num pulsar, a percepção altera-se e, aos poucos, começamos a decifrar o código. De repente, as palavras formam-se na nossa mente e as frases ganham sentido.
O conflito entre razão (cabeça) e sentimento (coração) está latente em todo o poema. No entanto, há indícios que sugerem um vencedor neste feudo.
Sem atentar nas palavras, o próprio pulsar/ latejar do poema, com a cor vermelha como fundo, remete para o batimento cardíaco, para o fluxo sanguíneo e, em sentido figurado, para o órgão vital associado à emoção.
Por outro lado, as palavras do poema parecem indicar que a razão depende do sentimento, que há uma ligação ou uma complementaridade entre os dois aspectos aparentemente distintos, mas com o coração/ sentimento numa posição dominante (o próprio título coloca o coração em destaque, mas unindo-lhe a palavra cabeça).
A expressão “Minha cabeça começa em meu coração” também poderá estar relacionada com o mecanismo fisiológico da circulação – que, através de um batimento, permite que o sangue arterial flua desde o coração para todo o corpo incluindo, logicamente, a cabeça. Remete-nos figurativamente para a influência do sentimento na razão.
“Meu coração não cabe em minha cabeça” pode ser interpretado como a impossibilidade de pensar racionalmente acerca de uma emoção e para o quão avassalador é sentir, em comparação com o acto de pensar.
Tal como noutros poemas concretos, as palavras em coraçãocabeça ganham uma força e uma identidade únicas, devido ao modo como são dispostas. Inicialmente, aparentam existir no poema apenas duas palavras estranhas. A confusão de letras exige, por parte do leitor, uma desconstrução da leitura e uma reconstrução adaptada ao código da obra.
Tendo em conta o facto de o código ser diferente em cada poema concreto (mas considerando que todos os elementos do poema têm um simbolismo específico, não sendo colocados aleatoriamente por uma questão meramente estética) a experiência do leitor torna-se muito mais dinâmica do que na poesia tradicional.

Bíblia de Gutenberg

Segundo Jay David Bolter e Richard Grusin, os media relacionam-se uns com os outros numa forma de remediação, isto é, os media complementam-se uns aos outros. Este conceito designa o processo através do qual uma forma que tem origem num determinado meio é transposta para um novo meio, adaptando-se a ele, mas não perdendo as suas características iniciais.
A Bíblia de Gutenberg, em formato digital, é um bom exemplo prático de remediação. Estamos perante um site composto por uma digitalização de todas as páginas deste livro e dotado de instrumentos adicionais que permitem explorar a bíblia como se fosse um livro, uma vez que as digitalizações das páginas do livro estão feitas à escala e podemos ampliá-las para facilitar a leitura. Deste modo temos a sensação que estamos a consultar a Bíblia de Gutenberg, mas na realidade trata-se de uma representação digital da mesma o que faz com que não tenhamos acesso directo ao objecto mediado, no caso a Bíblia de Gutenberg.
Esta nova forma de apresentar livros e outras obras na internet, usando o processo de remediação, é bastante vantajosa para o leitor uma vez que este pode, por exemplo, seleccionar o conteúdo do livro que pretende explorar mais facilmente, ao contrário do que acontece com livros/obras impressos (as) em papel.

Desvendando o "Enigma n" de Jim Andrews

Meaning, significado. É esta a palavra que nos aparece sobre o fundo negro.
Através de várias opções que Jim Andrews põe à disposição do leitor, é possível descontruir, desmontar, separar, baralhar, colorir, centrifugar a palavra meaning. Há um número quase infinito de combinações que o leitor pode produzir, visualizando o resultado final. Em "Enigma n" o papel atribuído ao espectador é de grande importância na (des)construção da obra, característica principal dos poemas ergódicos de que este é exemplo.

Não é por acaso que a palavra escolhida por Andrews é "meaning". Com este poema demonstra-se o quão instável é o sentido das palavras, isto é, como hoje uma palavra tem um significado, no futuro pode ter outro. A vida está longe de ser imutável e fixa, nada do que conhecemos é assim. As palavras, produto histórico-cultural da nossa vivência, muito menos. O que aparentemente está coeso e imutável, como observamos quando vemos "meaning" estática e cinzenta, por acção do leitor, depressa ganha uma vida: as letras giram, misturam-se, rodam, variam de velocidade, e a imagem que tínhamos inicialmente depressa se desvanece, dando a origem a uma miríade de novas possibilidades. Andrews faz o elogio ao movimento e à vivacidade da palavra. As palavras têm outras dimensões além das tradicionais. Porque é que água significará sempre água? Não é o poeta um fingidor? Que o sejam as palavras também!

É esta a beleza de "Enigma n" e é esta a beleza da palavra viva.

domingo, novembro 02, 2008

Jim Andrews, Enigma N

Enigma n, à partida desconexo e invulgar é extremamente rico em informação.
Ao abrirmos a primeira página deparamo-nos com a palavra Meaning e com uma série de opções. O leitor "assume as rédeas do poder", sendo que, a partir desse momento é ele quem vai atribuir sentido ao poema. A atribuição de sentido é feita através dos vários clicks que o leitor vai efectuando em cada uma das opções disponíveis, que possivelmente são um número infinito.
Cada ser humano é singular no mundo, logo a sua noção de sentido é própria e única.
Jim Andrews, ao criar este poema pretendeu demonstrar a impossibilidade da criação de uma noção de sentido.
Concluindo,o sentido não existe sem a intervenção do sujeito, portanto, este é como que um segundo autor da obra.

sábado, novembro 01, 2008

"Enigma n" - Uma outra dimensão dos sentido

"Enigma n", de Jim Andrews, procura uma outra dimensão do sentido. Através da intervenção do leitor e, de uma forma dinâmica, o poema que constitui a palavra "Meaning" ganha as mais variadas formas, cor e movimento. A palavra "Meaning" traduzida para português é significado.
O leitor ao intervir na dinâmica do poema, pode dar-lhe o significado que desejar e imaginar. Desta forma, Jim Andrews permite o uso da imaginação a todos, não havendo limites para tal!
"Meaning" como significante, corresponde a uma representação acústica da sua própria sonoridade. Mas, se pensarmos na sua representação escrita, destaca-se como significado. Partindo da ideia que todo o sistema de significação é altamente dinâmico, os significados tornam-se não absolutos, mas sim instáveis.

"Enigma n" de Jim Andrews

"Enigma n" de Jim Andrews é um excelente exemplo da literatura digital, da união da arte com a tecnologia. Este anipoema cria em nós imensas questões com apenas uma palavra: "meaning". Esta palavra, associada à animação digital, leva-nos a entrar no mundo da Psicologia, da Filosofia...
O que é o nosso significado? O que é o significado para os outros? O que é o significado das coisas? Será o significado algo concreto, inquestionável?
Jim Andrews responde que não. Ao entrarmos neste anipoema, mostra-nos que o significado é imensamente subjectivo, que tem imensas variáveis, que se torna diferente de pessoa para pessoa (ou de clique para clique...). Em "Enigma n" apercebemo-nos das infinitas formas que o significado pode ter. A cultura, a religião, a etnia, a sociedade, a personalidade de cada um, afecta o significado de tudo, torna o significado bastante pessoal, demasiado enraizado para ser considerado como algo concreto, absoluto, invariável. Qualquer pessoa que "participe" neste anipoema tornará o "meaning" pessoal, neste caso, estático ou ondulante, com letras grandes ou pequenas, veloz ou lento, com cores iguais ou diferentes... Jim Andrews com este fantástico anipoema mostra às pessoas que o significado é algo tão característico de cada um de nós, como o nosso ADN. Mostra que cada um vê o mundo e a vida, de forma diferente, dando-lhes diversos significados e sentidos...

"Greve" de Augusto de Campos

Augusto de Campos, "discípulo" da poesia concreta, deu um novo fulgor à literatura e ao seu possível futuro, ajudando a desenvolver uma ligação entre o poeta e a tecnologia. Este tipo de poesia, é um desafio para quem a lê, dando ao leitor a oportunidade de decifrar a mensagem deixada pelo poeta.
"Greve" de Augusto de Campos, é um exemplo desta forma de expressão da poesia. Este poema é-nos apresentado com a palavra "greve" a vermelho, que vai aparecendo e desaparecendo, como se tratasse de um grito mecanizado, que vai e vem, que se repete exaustivamente. O vermelho, simboliza então, a luta dos grevistas, o sofrimento, a rebeldia. À frente da palavra que dá nome ao poema, apresentam-se 5 versos: " arte longa, vida breve/escravo se não escreve/ escreve só não descreve/ grita, grifa, grafa, grava/uma única palavra". Estes 5 versos, completam então o poema de Augusto de Campos, dão outra alma à "Greve". A greve, interpretada pelo autor como sendo uma arte, é dura e temível. Associa-a aos escravos, aos trabalhadores que não têm conhecimentos, que têm que se submeter às ordens do seu patrão. Contudo, apesar de uma greve ser dura, se calhar demasiado dura para tão poucos resultados, Augusto de Campos dá força à palavra, como se ela gritasse por si só, como se a palavra desse poder aos que não têm. Esta "única palavra", marcada a vermelho, é forte o suficiente para ser gravada nas mentes das pessoas, para que todo o seu fim, para que toda a sua luta não seja esquecida...