sábado, novembro 22, 2008

Shelley Jackson - Marcas do Corpo, Marcas da Vida...


Shelley Jackson em "My Body - a wunderkammer" mostra toda a beleza da hipertextualidade e as possibilidades que ela nos dá.
Um corpo de mulher é estampado no meio do nosso ecrã, encontra-se "dissecado". Shelley Jackson mostra-o aos leitores como um índice, em que as mãos, os joelhos ou a pele são apenas páginas de um corpo transformado em livro.
Com esse livro, Shelley tenta chegar ao leitor, contar-lhe a história de cada parte do seu corpo, explicar o porquê de cada marca, o porquê de cada parte ser-lhe tão especial, tão merecedora de uma história.
Contudo, a meu ver, o grande objectivo de Shelley Jackson com a criação de "My Body - a wunderkammer" é mostrar que a história do seu corpo é a história da sua vida, a construção do seu corpo é a construção do seu ser... Ao lermos cada história do seu corpo, vamos conhecendo Shelley Jackson, vamo-la descobrindo.
O que marca o corpo de Shelley não são preferencialmente sensações agradáveis, mas marcas de sofrimento, de agonia. As dores de cabeça, as cicatrizes, o sangue, as feridas. São tudo amostras de dor. Porquê? Porque é que Shelley Jackson conta a história do seu corpo baseada em sensações agonizadas?
A vida é um misto de boas e más sensações, mas quais são aquelas que nos constroem? Quais são aquelas que nos marcam e nos ajudam a formarmo-nos enquanto pessoas? É com essa visão que Shelley Jackson nos deixa. As marcas do nosso corpo, aquelas que nos fazem crescer, são assentes na dor. As marcas que não nos abandonam são aquelas que "sangraram", são marcas do nosso corpo, são marcas da nossa vida...