terça-feira, novembro 04, 2008

Desvendando o "Enigma n" de Jim Andrews

Meaning, significado. É esta a palavra que nos aparece sobre o fundo negro.
Através de várias opções que Jim Andrews põe à disposição do leitor, é possível descontruir, desmontar, separar, baralhar, colorir, centrifugar a palavra meaning. Há um número quase infinito de combinações que o leitor pode produzir, visualizando o resultado final. Em "Enigma n" o papel atribuído ao espectador é de grande importância na (des)construção da obra, característica principal dos poemas ergódicos de que este é exemplo.

Não é por acaso que a palavra escolhida por Andrews é "meaning". Com este poema demonstra-se o quão instável é o sentido das palavras, isto é, como hoje uma palavra tem um significado, no futuro pode ter outro. A vida está longe de ser imutável e fixa, nada do que conhecemos é assim. As palavras, produto histórico-cultural da nossa vivência, muito menos. O que aparentemente está coeso e imutável, como observamos quando vemos "meaning" estática e cinzenta, por acção do leitor, depressa ganha uma vida: as letras giram, misturam-se, rodam, variam de velocidade, e a imagem que tínhamos inicialmente depressa se desvanece, dando a origem a uma miríade de novas possibilidades. Andrews faz o elogio ao movimento e à vivacidade da palavra. As palavras têm outras dimensões além das tradicionais. Porque é que água significará sempre água? Não é o poeta um fingidor? Que o sejam as palavras também!

É esta a beleza de "Enigma n" e é esta a beleza da palavra viva.