sábado, outubro 25, 2008

Remediação: Modernização, Adaptação, Interacção

É perceptível a "remediação" referida por Jay David Bolter em quase todos os espaços web. Tal facto deve-se à necessidade de ser criado um formato visual baseado àquilo a que estamos acostumados: os livros e, a sua essência, o papel. A Bíblia Digital de Gutenberg, o site do artista brasileiro Arnaldo Antunes e o anipoema "Amor de Clarice" de Rui Torres são exemplos dessa remediação.

Bíblia Digital de Gutenberg

Desenvolvida na Universidade do Texas, a Bíblia Digital de Gutenberg é um excelente exemplo da "Remediation". A bíblia mais antiga do mundo, concebida pelo pai da máquina de imprensa, é apresentada completamente adaptada à era digital. Isso é visível no índice de que se dispõem para navegar na bíblia, na selecção da página que se quer visualizar, assim como no virar de páginas. Estas facilidades acabam por tornar a bíblia digital mais prática, mais dinâmica, "remediada"...


Site de Arnaldo Antunes

O site deste artista multifacetado brasileiro é outra prova da digitalização do nosso mundo, da adaptação à web. No site de Arnaldo Antunes é notável a forma como dispõe toda a sua obra, todos os seus trabalhos. Em vez de termos à nossa frente apenas uma biografia, uma amostra da sua vida e obra, temos todo o trabalho realizado por este artista, o resumo dos seus livros, o conteúdo dos seus discos, imagens das suas exposições de arte. Toda esta janela para a obra de Arnaldo Antunes está organizada para ser prática, eficiente, interactiva. Podemos viajar pelo mundo deste artista brasileiro, visualizando obras de arte, lendo a sua biografia, ouvindo "previews" dos seus álbuns. A facilidade com que dispomos para obter informação aliada à animação e interacção criadas, torna o site num espaço remediado, completamente adaptado ao mundo modernizado, tecnológico, digital.

"Amor de Clarice" de Rui Torres

Este anipoema desenvolvido por Rui Torres transpõe o conto de Clarice Lispector para um mundo abstracto, mágico, alucinante. O leitor entra no conto,cria o conto, refaz o conto, vive o conto. O leitor é parte integrante do corpo da história. A interacção com o "Amor" de Clarice torna-se pessoal. A voz sóbria do narrador é controlada pelas nossas "cordas vocais", as palavras de Clarice Lispector são desenhadas pelas nossas "mãos", o texto é pensado pelo nosso "imaginário". Esta interacção tão íntima, tão nossa, transforma o "Amor de Clarice" de Rui Torres numa remediação do conto original de Clarice Lispector.

A remediação é o nosso bilhete para viajar no fantástico mundo que a Web criou, que todos nós criámos.