Jim Andrews criou um ideograma animado sobre o mistério do sentido. Graças à linguística e à filosofia da linguagem do século XX, sabemos de forma razoavelmente precisa como funcionam os significantes. Saussure e os estruturalistas, por exemplo, descreveram a língua como um sistema de diferenças. O sentido desdobra-se em referente e em conceito, mas o recorte operado pela linguagem no espaço extra-linguístico e no espaço mental depende das relações que os signos estabelecem entre si e, obviamente, das interacções que os seres humanos estabelecem com o meio ambiente e social. Estas relações estão convencionadas pela convenção que a língua e os discursos constituem, mas estão sujeitas constantemente aos mecanismos turbulentos que definem a linguagem e que permitem ao sujeito construir-se dentro dela. Mesmo admitindo certos universais linguísticos como resultado evolucionário, as categorias mentais podem ser recortadas e recombinadas de múltiplas formas. A cultura e a ideologia, por exemplo, constroem associações privilegiadas entre significantes, estabilizando certos modos de referência e de significação.
Para Derrida e os pós-estruturalistas, a instabilidade das correspondências entre significante e significado é ainda maior, uma vez que a significação resulta do movimento de substituição na cadeia dos significantes. No exercício semiótico que nos é proposto por Andrews, fazer sentido é justamente parar o movimento das letras. Essa paragem pode resultar na palavra "meaning", isto é, na cadeia fonológica e grafemática que reconhecemos como palavra com o significado "significado". Mas pode também resultar numa outra combinação aleatória de sons/letras, elas próprias, aliás, variáveis em muitos dos seus parâmetros gráficos, ainda que a sua identidade não seja perturbada, a não ser nas variações de escala que as tornam, em certas configurações, quase invisíveis.
Paradoxalmente, fazer sentido parece consistir em parar o movimento do sentido, que seria a característica definidora do próprio sentido. O sentido parece ser sugerido, em parte, como uma redundância e uma tautologia: a coincidência da palavra sentido consigo mesma. Por outro lado, o "enigma n" pode ser precisamente essa capacidade de movimento, o sentido elevado à potência n, isto é, o movimento quase imparável dos significantes, que a todo o instante nos dá a possibilidade de habitarmos a casa da palavra e entrar no intervalo entre significante e significado, descobrindo e construindo aí outros sentidos. Sentidos que não coincidem com o sentido.