a pintura da literatura
O grupo fauvista tentou captar a atenção para a materialidade dos meios utilizados na pintura. Os poetas concretos usam(vam) a palavra como um objecto plástico em si mesmo.
Até ao séc. XIX todas as técnicas de representação pictórica procuravam criar uma ilusão que permitisse confundir a obra com o objecto representado.
Com modernismo surge a consciência de que aquilo que a arte faz é uma representação do mundo, mas que reflecte sobre si mesma.
Os artistas tornam-se mais conscientes do meio enquanto matéria, de características que são determinadas pela sua materialidade e não procuram esconder essa mediação.
Do ponto de vista da cor, esta é usada de forma expressiva e não como um simulacro daquilo que se quer representar. Há uma utilização da cor no sentido da libertar, da emancipar. A matéria é susceptível de se tornar independente da percepção do real.
A perspectiva tinha esse objectivo, de criar um ponto de vista fixo, que se parecesse com o ponto de vista de quem estivesse a olhar para o que está a ser representado: “a tela era a janela para o mundo”.
O que os modernistas fizeram foi multiplicar, distorcer as perspectivas. A ilusão da terceira dimensão era muitas das vezes desfeita ou sugerida por manchas de cor. A pincelada sugere-nos o movimento do pintor, a sua tensão ou delicadeza, e aliada às diferentes manchas de cor acrescenta algo mais à nossa percepção. As manchas de cor criam ambientes dinâmicos, não estáticos. Como se as manchas de cor se ligassem directamente ao estado emocional daquele ser que está perante nós, um ser que tem várias temperaturas.
Porquê esta relação com a poesia concreta? Porque se processa essa experimentação na linguagem através da sua estrutura de som e grafismo, libertando-a de uma leitura convencional. É olhar para a palavra como um objecto plástico em si mesmo, para lá das convenções sintácticas.