quarta-feira, abril 26, 2006

uma vez mais melo e castro...

Pêndulo de EM de Melo e Castro

Não mais recuo: o que escrevo é escassez e fendas,
é contra esse modo reto e seguro de escrever que escrevo — em desaprumo.
Bebo o gosto travado desse poema numa cobiça de ser dito:
um laivo de sangue escorre de minha boca.
O processo vital subsiste ainda na artéria, a manhã poluída prossegue sua lenta engrenagem,
seu incêndio diário,
sua assimetria — apesar do azinhavre
no garfo
do pêndulo,
do cotidiano cigarro
igual ao trabalho noturno da morte num corpo.
Mas pra nomear o que respira secretamente por trás dessa vida de veias
nervos assombros penhoras e sofre desfiladeiros poços terrenos baldios,
a mais inexplicável vertigem — nenhuma palavra é possível: nenhum selo.

Agreste de Luís Inácio Araújo