quinta-feira, abril 20, 2006

Ser mais artificial do que homem não há ou Quando aquilo que importa é o movimento de fusão que faço com as palavras

Saber se a máquina poderá gerar poesia...
Saber se poderá ser considerada como boa poesia...
Saber se será o início do fim da poesia feita pelo homem... Se somos assolados pelo medo da ideia maniqueísta de artificial / natural, respondo: ser mais artificial do que o homem não há. Artificial quando é autómato, quando aceita sem reflectir, sinto-o como algo que me constrange. Mas artificial por que se constrói, porque elimina velhos preconceitos, porque mata as partes necessárias para se melhorar, então aí, sinto-o como um dádiva.
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Neste campo de batalha há-de existir sempre um lugar para o homem, pois este estará sempre em vantagem em relação à máquina: ela não tem particularidades, estados de alma, ansiedades, imaginação, consciência da sua mortalidade, erotismo...
Mas aqui, neste espaço, o que realmente me importa, é que com a poesia concreta e depois com a poesia digital, a minha consciência sobre o poder das palavras agudizou-se. ”A palavra lançada na mente, ao acaso, produz ondas de superfície e de profundidade, provoca uma cadeia infinita de reacções, transportando na sua queda sons e imagens, analogias e recordações, significados e sonhos num movimento que interessa a experiência e a memória, a fantasia e o inconsciente. ”Gianni Rodari in Grammatica della Fantasia
Uma palavra isolada pode funcionar como uma palavra mágica, mas na realidade não basta um polo eléctrico para fazer faísca, são precisos dois.
A palavra isolada contem nela expressão, mas quando encontra outra que a provoca, que a obriga a sair dos caminhos do hábito, a percorrer outras artérias, aí sim, começa a luta