Conseguimos imaginar máquinas que escrevam? (1)
A máquina de escrever, inventada na segunda metade do século XIX, é a primeira tentativa bem sucedida de colocar a letra de imprensa nas mãos do/a escritor/a. A dactilografia é, de certo modo, uma precursora do processador de texto. O dedo e a letra de imprensa passam a estar directamente ligados através do interface do teclado. Esta mediação susbtitui progressivamente a relação caligráfica com a escrita. A máquina de escrever introduz portanto mais um nível de mediação entre o/a escritor/a e o papel. Os efeitos desta tecnologia sobre a criação literária são visíveis na poesia e na ficção modernistas, já que a utilização do espaço da página adopta certas propriedades dactiloscritas. A máquina de escrever ainda não escreve sozinha, mas escreve-se com ela. Ou seja, uma vez adoptada como instrumento de composição, este dispositivo mecânico gera um conjunto de novas propriedades da escrita. Os programas de processamento de texto e os motores textuais actuais redefinem o espaço de escrita e alargam o campo semântico da expressão "máquina de escrever", introduzindo novas propriedades nesse espaço.