diário do professor (versão não-autorizada)
«Talvez tenha valido a pena o esforço», pensou. Começara por falar em quebrar o gelo, mas eram tantas (e tão complicadas) as coisas que publicava, que o gelo parecia aumentar em vez de diminuir. Tentara explicar que «pensar escrevendo» era uma das melhores formas de aprender e de se crescer intelectualmente. Que o exercício regular dos músculos da escrita permitia conhecer melhor o mundo e a linguagem. Permitia alimentar a curiosidade. Permitia pensar melhor. Mas como transmitir isso? E um blogue não será demasiado público para se poder escrever sem medo? Durante semanas esperou que o envolvimento fosse crescendo e se reflectisse no ritmo de publicação. Coibiu-se até de escrever, para não intimidar mais do que aquilo que um professor sempre intimida só por representar o papel que lhe cabe. Além disso, tornar possível escrever colectivamente era uma das particularidades dos media digitais, o que estava inteiramente de acordo com a reflexão que se propunha fazer. Algumas semanas foram decepcionantes. Claro que ele era por natureza reservado em relação a isso. Gradualmente, no entanto, a escrita foi ganhado momentum. «17 textos numa semana deve significar alguma coisa», pensou. Talvez fosse da primavera. Assinalou o dia com duas fotos. Dezasseis anos depois de começar, continuava a tentar responder à pergunta «o que é uma aula?» Tudo acabava sempre cedo demais. Mal parecia que tinha começado. Em que parte do corpo se guardaria esta memória?