Lugares Comuns.
Ao viajarem entre "Amor" de Clarice Lispector e "Monotone" de João Miguel Queirós, os nossos olhos descobrem lugares inevitavelmente comuns. Talvez isso suceda de facto por ambos os textos serem retrato exímio de uma mesma realidade quotidiana. Realidade que irrepreensível e repetidamente conhecemos dos nossos dias.
Nesse ponto, é como se as palavras- tanto as que surgem sobre a forma de prosa como as que surgem sobre a forma de verso- não remetessem para nenhuma realidade a não ser a realidade que nós mesmos conhecemos e em nós recriamos no momento em que entramos em contacto com uma sua representação linguística. Este problema, porém, aproximar-nos-ia de questões que não são talvez as prementes questões a tratar por agora.
Tanto o texto estudado em aula como o texto que aquele me suscitou, (a)parecem irremediavelmente interligados não só na já referida medida em que abordam a mesma questão, como também pelo facto de essa abordagem ser em tudo similar. Se não vejamos, a monotonia aparece em ambos os escritos como um cansaço que, todavia, não é representante do esgotamento total mas sim de um "meio-cansaço" que impele por conseguinte à sua própria superação. A ideia de derrota não existe em nenhum dos dois textos, o que existe, direi, é uma "quase-derrota". Porém, também a vitória não é possível. E a monotonia impera por isso mesmo, não pelo facto de triunfar ou ser derrotado, mas por os sujeitos estarem definitivamente submetidos a uma irremediável e mediana estagnação nas suas vidas.
No sentido de emitir uma valoração positiva, afirmaria que ambos os textos supramultireferidos pretendem ser lidos enquanto dormimos na reconhecida monotonia que as suas palavras trazem, ou então pretendem habitar cada um dos nossos simples e despropositados gestos quotidianos.