quarta-feira, junho 07, 2006

«Mad World»


Por exemplo, o vídeo-clip que Lourenço Teixeira escolheu. «Os sonhos em que me vejo morrer são os melhores que alguma vez tive» - diz um dos versos que reflecte a visão atormentada do adolescente psicótico. A canção de Gary Jules, a partir de Donnie Darko, dramatiza as intersecções de temporalidades alternativas que a narrativa propõe. A sua montagem recapitula sequências do filme, colocando o cantor na posição de um observador que, a partir do televisor, testemunha e narra a acção que se passa no mundo exterior. Inverte-se, de certo modo, a ontologia do observador, já que é a figura telemediada que observa e narra o mundo fora do televisor. A lógica onírica da obra original, em que o mundo mental e o mundo externo se confundem, é encenada através desta estratégia de remediação do filme no vídeo-clip. A loucura do mundo, que é a loucura da personagem, é assim materializada na sintaxe do vídeo, cujas sequências emulam a confusão entre acções, recordações, sonhos e visões. As imagens que acompanham a canção são um resumo do filme, mas ao mesmo tempo reflectem a lógica onírica da montagem rápida característica do vídeo-clip. Por outro lado, mostram como funcionam a narrativa e o cérebro humano: por justaposição e associação de imagens cujo nexo advém do próprio acto de as justapor e associar.