A lógica onírica da mediação (a propósito de Gary Jules, «Mad World», e The Church, «Under the Wilky Way»)
Admitamos, com Jay David Bolter e Richard Grusin, que a remediação e a hipermediação são as características essenciais do momento tecnocultural digital: por um lado, os meios seriam sobretudo re-meios, isto é, meios que medeiam outros meios; por outro, a intensificação e a autenticação da experiência dependeria da sua tecnomediação. Isto significaria que manipular o meio enquanto meio (desfazendo a confusão ontológica entre representação e objecto) e, ao mesmo tempo, participar corporalmente nessa imersão sensorial (diluindo a distinção entre mundo virtual e mundo natural, ou seja, tornar indistinta a fronteira entre representação e objecto) constituiria o paradoxo da experiência digital. O sonho cartesiano de reduzir o mundo material a uma descrição matemática criou representações e tecnologias de tal forma poderosas que o modo abstracto e modo concreto de representar o real convergem no meio digital. A escrita alfabética pode assim aliar-se ao som, à imagem e à imagem animada, redefinindo a literacia. Saber ler e saber escrever passam portanto a significar saber manipular e interpretar todas as formas que enxameiam e constituem o espaço electrónico. O dilema parece ser este: como usar o cibernético para conhecer o real sem reduzir o real ao cibernético? A digitalização do mundo é apenas uma tecnologia de simbolização ou será sobretudo uma forma de controlo e de vigilância?