terça-feira, março 27, 2007

(In)tangibilidades

As tecnologias digitais perpassam, actualmente, pela maioria das nossas experiências vivenciais. A percepção que detínhamos em relação a determinados elementos mudou radicalmente, com a advinda das novas tecnologias.
No caso da literatura, foi e continua a ser notável, o impacto das tecnologias digitais. Com a digitalização, o livro, enquanto objecto, sofreu muitas transformaçãos, quer exteriormente, quer interiormente. Embora, discutíveis, são indubitáveis os benefícios do livro digital. Para além de proporcionar ao leitor a possibilidade de analisar e "adquirir" qualquer obra literária, sem qualquer encargo financeiro a "scannização" permite também a preservação literária de obras clássicas ( já muitas obras se perderam). A bíblia de Guttenberg digitalizada é um excelente exemplo do "contacto" que o leitor poderá ter.
A digitalização dos livros também garante a sua fidegnidade (um bom exemplo da possível deturpação a que os livros estavam sujeitos na era medieval/copista é a leitura de o "Nome da Rosa" de Umberto Eco).
A poesia concreta beneficiou largamente com as novas tecnologias. A aliança entre estas e a poesia proporcionou ao leitor/ouvinte uma experiência sensorial mais vasta.
Todavia, a digitalização também alterou a percepção e o sentido dos leitores em relação aos livros. O tacto de um livro digital é incomparavelmente diferente do tacto de um livro físico. Tactear a capa, a contracapa, contemplar as ilustrações é para mim um prazer que nunca poderá ser suplantado pelo livro digital. O odor (quem não adora o cheiro de um livro novo?) é um outro elemento que poderá ser considerado insignificante para muitos, mas é identificativo de um livro.
Daí que o ter não implica necessariamente o ser...