sábado, maio 06, 2006

Um texto que passa como o tempo que passa


04:51:00 - I split the full scale mark - I choked and drooled - I was memory bound - I muted analysis - I thought I'd start -

04:52:00 - I'd been aware - I'm dead I'm dead - I'm standing up - I'm what you want - I programmed it -

04:53:00 - I hit disconnect - I am not I - I caught your head - I changed my life - I was amazed -

04:54:00 - I had been feeling like a frond - I loved I died - I said I said - I went to a street - I waited -

04:55:00 - I was pressed down upon - I held it back
- I went outside - I knew what it was - I altered -

A obra «Log» de Jim Andrews, feita a partir de um texto de Brian Lennon, começa com cinco entradas de cinco frases cada, a seguir ao que parecem ser os registos digitais de cinco minutos consecutivos, entre as 4h e 51min. e as 4h e 55min. As 25 frases iniciais contêm o pronome "I". Assim que o/a leitor/a move o cursor sobre algum dos segmentos do texto inicial, estes começam a mudar muito rapidamente. As frases iniciais permanecem a branco, enquanto os novos sintagmas surgem em cinzento. Depois de passarmos repetidamente o cursor pelas várias zonas do texto, percebemos que cada segmento alterna com outros três segmentos, programados para surgirem naquele ponto. Os próprios espaços entre as cinco entradas iniciais se reconfiguram dando origem a outros blocos, até ficar só um bloco de texto, sem as horas:

vox coriolis - it does not want to know - roaming whispered - set down that anguish - reversing tone - it was the end of all - it was the light - it was all night - speeding apart - what am I then - it rose - remotely sensing - electric vex - clocks chemistry - belonging beginning on that day - lips harboring seepage - nothing began - bright chills and chokes - parsed element 01 - it was my life - it turned - lovelens - ocean and avalanche - explain and cure - small exclamations - to blink, shortshort - to stall itself - strenuous read - return - at night -

Este fotograma do texto contém 30 segmentos, ou seja, exactamente o mesmo número do primeiro conjunto, se contarmos as cinco entradas numéricas. Entretanto, com um novo clique no cabeçalho de e-mail original, na base do texto, uma nova sequência de 5 entradas e 25 sintagmas aparece, desta vez marcando os minutos entre as 4h e 24 min e as 4h e 28min. Também neste caso temos 25 + 5 fragmentos textuais:

04:24:00 - was intermittent - made contact - valued heights - done easily - milled out -

04:25:00 - loomed origin - breathed out - breathed in - had dreamed - echoed there -

04:26:00 - guessed again - drank suddenly - drank worse - standing in hallway - was late -

04:27:00 - protecting bones - made contact there - was starving there - had run - knew it was me -

04:28:00 - gave my name - had myself cut - was never there - was long ago - was ever -

Percebemos neste momento que quer os sintagmas do bloco de texto anterior (2ª sequência), quer os sintagmas destas novas cinco entradas de cinco frases cada (3ª sequência), todos em cinzento, eram os que alternavam com os 25, em branco, da primeira sequência. Qualquer movimento do cursor sobre o texto gera recombinações destes três grupos de elementos, criando a sensação de um texto que muda constantemente. Se o cursor parar, o texto pára também, e o/a leitor/a pode ler um dos resultados aleatórios dos movimentos e das paragens que fez com o cursor.

vox coriolis - it does not want to know - roaming whispered - valued heights - I muted analysis - it was the end of all -
04:25:00 - it was all night - speeding apart - I'm standing up - it rose - echoed there -
04:26:00 - clocks chemistry - drank suddenly - I caught your head - nothing began - was late -
04:27:00 - it was my life - it turned - was starving there - had run - explain and cure -
04:28:00 - to blink, shortshort - to stall itself - strenuous read - return - I altered -

Uma leitura das palavras paradas dá conta de um jogo de vozes: frases com o pronome "eu" alternam com outros sintagmas cuja semântica sugere a linguagem e a possibilidade de linguagem da máquina e do próprio processo de composição electrónico. A ligação a que o texto alude parece ser a ligação com a máquina e com a linguagem como máquina combinatória.