segunda-feira, maio 22, 2006

Retalhou o seu corpo e aproximou-nos da sua alma

Antony Gormley

I was born with a short tail, which my parents decided not to have removed when I was a baby, since I seemed to take so much pleasure in it, curling it around my own wrist, whipping it on my buttocks when I was itchy or testy, and dragging small objects into my crib with it. When I was old enough to realize none of the other kids had a tail, though, I became furiously ashamed of it. I said nothing to my parents, who had gotten quite used to it, but when I went to school I pulled it forward and squeezed it between my thighs to stop its waggish commentary. At home I subjected it to horrors: sat on it, hung weights from it, clamped clothespins on it.

Em My Body, Shelly Jackson retalha o seu corpo para, paradoxalmente, nessa divisão nos aproximar das profundezas das suas memórias.
Neste processo faz-nos descobrir que as diferentes ligações do nosso corpo às nossas recordações podem funcionar como um hipertexto. Isto porque as nossas memórias não estão em nós de forma linear, elas podem surgir, claro está, de forma hierárquica, mas também por associação, por hiperligação.
S.J. mostra-nos a partir de uma imagem trivial (que poderia servir um professor de inglês) que somos mais do que a soma das partes. Nós não somos um conjunto de órgãos, cada parte do nosso corpo possui como que um pequeno cérebro que nos liga às nossas vivências, analogias, recordações, imagens, significados e sonhos.
A autora leva-nos numa vertigem que nos faz redescobrir a infância no nosso corpo, tal como actuava o sabor da madeleine de Proust.
Cioran diz que quando um órgão tiver consciência de si próprio deixará de trabalhar. O órgão não é uma unidade autónoma, a consciência de si aliená-lo-ia da sua função de trabalhar para um bem comum. O joelho, por exemplo, só existe quando sentido e idealizado pelo espírito, isto é, desde a sua forma, mobilidade, rigidez ou vulnerabilidade.