terça-feira, janeiro 20, 2009

Apresentação oral dos projectos digitais

Local: Sala de Seminários do Instituto de Estudos Ingleses (6º piso)
Data: 23 de Janeiro de 2009, sexta-feira, entre as 14h00 e as 18h00

Andrea Daniela da Silva Vale, 14h00
Camilo Clemente Soldado, 14h20
Carolina José Abreu de Freitas, 14h40
Cristiana Raquel Almeida Domingues, 15h00
Diogo Agante da Silva, 15h20
Emílio José Lopes Fuentes, 15h40
Fábio André Valente dos Santos, 16h00
João André de Almeida Ruela Ribeiro, 16h20
João Pedro Pinto Gaspar, 16h40
Maria Eduarda Oliveira Eloy, 17h00
Sara Cristina Tomásio Cruz, 17h20

quinta-feira, janeiro 01, 2009

A mais recente matéria-prima do mundo actual

No dia em que me inscrevi na faculdade e fui informado de que teria de escolher mais uma disciplina, dentro de um leque de seis, como minha opção transversal, não me preocupei e escolhi Literatura e Media na Era Digital pelo simples facto de a palavra digital estar relacionada com a era em que vivemos, a era dos computadores e de esse ser um meio do qual uso e abuso bastante.
No entanto, e neste preciso momento em que estou a escrever o meu último post para o blog da disciplina, chego à conclusão que valeu a pena.
Ao longo deste semestre que agora acabou, tive a possibilidade de ver as mais variadas obras digitais, algumas delas bastante estranhas e confusas, admito...mas muitas delas bastante interessantes, apelativas e dinâmicas. Destaco algumas obras como Strings e Cidadecitycité não só pela forma como foram feitas, mas também pela mensagem que pretendem transmitir.
Este novo meio (digital) é uma nova porta que se abriu...um novo mundo a descobrir...e pelo que já se viu, considero que o caminho a seguir é o da inovação e aposta nesta nova matéria-prima.
Relativamente ao futuro, penso que esta nova forma literária tem pernas para andar, uma vez que, actualmente, eu e outros jovens adultos da minha idade somos designados de geração dos computadores ou geração digital.

Cidade = Aparato/Confusão/Correria

A obra digital Cidadecitycité, de Augusto de Campos, demonstra algo que é muito comum no nosso dia-a-dia caso vivamos numa cidade – a confusão.
Na sociedade em que vivemos e principalmente nas cidades, apercebemo-nos que as pessoas vivem numa constante correria, um género de luta contra o tempo, sem se aperceberem do que se passa à sua volta. E esta obra digital é bem exemplo disso, uma vez que o autor coloca, ao longo de uma linha recta imaginária, um determinado número de letras que estão em constante movimento, fazendo lembrar uma fila de trânsito criada pelo número excessivo de carros. À medida que as letras se vão movimentando ouve-se uma voz de fundo que fala de uma forma muito acelerada, dificultando, deste modo, a sua compreensão.
Portanto, o principal objectivo do autor é dar a entender, através de uma simples obra digital, no que se tornou o nosso quotidiano, nomeadamente nas cidades.

Bomba – Augusto de Campos

O poema-bomba, de Augusto de Campos é uma obra digital que comporta som, imagem e texto. O autor pretende passar a ideia do que acontece quando algo explode, daí que inicialmente esteja tudo calmo, as letras estão juntas, contudo, e após a explosão, as letras começam a ser projectadas em todas as direcções, dando a sensação de confusão e aparato.
Para além do texto (as letras) e dos movimentos do próprio texto, a autora recorre ao som, que por sua vez é o ruído, o estrondo da explosão.
Logo, podemos concluir que Augusto de Campos recorre ao meio digital não só como uma forma de escapar às formas mais tradicionais mas também porque pretende dar a conhecer as vantagens que este novo meio tem para oferecer.

quarta-feira, dezembro 31, 2008

O pedido de ajuda de Augusto de Campos

sos não é apenas um poema electrónico de Augusto de Campos. É um apelo, em nome de todos nós. Sobre um fundo negro (como "a noite que anoitece") aparecem letras amarelas ao som de um ruído que rapidamente associamos aos filmes de ficção científica passados no espaço. As letras agrupam-se formando um círculo que vai rodando e constituindo frases lidas por uma voz séria, lembrando um robot.

Frases como "Que faremos após", "sem sol sem mãe sem pai", "vagaremos sem voz" giram à volta de um núcleo que, no final do poema, culmina com um "vagaroso SOS". Tudo neste poema aponta para a solidão da sociedade contemporânea, cada vez mais só, cada vez precisando de mais ajuda, mas sem voz que a possa pedir. Augusto de Campos representa a Humanidade como um grupo de crianças "sem mãe, sem pai" que se sentem sozinhas numa noite escura, sem terem como pedir ajuda.

Por mais que se pudesse escrever sobre a solidão que presenciamos todos os dias e que é um flagelo que nos persegue, Augusto de Campos consegue em sos dizer tudo o que há para ser dito...

terça-feira, dezembro 30, 2008

Afinal o que é a Poesia Digital??

As sucessivas e intensas pesquisas nos meios de comunicação, realizadas nas últimas décadas, têm permitido o surgimento de novas obras hipermédia, marcadas pela sua imprevisibilidade, concedendo-lhes uma subjectividade e liberdade de criação. De certa forma, estas novas características dão uma nova forma de criação da poesia contemporânea afectando, directamente, a própria literatura e a forma como esta se estrutura.
A poesia digital obrigou à superação de três elementos que dão sustentabilidade à poesia tradicional - autor-texto-leitor - sendo substituídos por um outro grupo associado na construção destes textos poéticos, nomeadamente, programador-poeta-máquina-texto-leitor.
Podemos considerar que o ciberespaço define as experiências sociais e cognitivas actuais, numa sociedade onde existe uma constante justaposição entre o real e o virtual, permitindo ao Homem, a vivência de um novo Mundo transponível ao espaço físico.
Toda esta dimensão particular, oferecida pela poesia digital, confere-lhe uma vertente, deveras, atractiva e o nascimento de novas estruturas espaciais com o rasto de espaços análogos que se cruzam, se complementam e, por vezes, se opõem.
O caso da interactividade é um outro parâmetro que a poesia concreta oferece ao seu público, integrando um número infindável de sequências do qual o leitor tem liberdade de optar, exigindo a sua permanente participação.
Assim, podemos considerar que o meio da tecnologia poética permite uma abertura de horizontes e aprofundados conhecimentos, verdadeiramente, interessantes, contribuindo, eficazmente, para o desenvolvimento da criatividade humana, numa realidade social onde se dá demasiada importância ao mundo das tecnologias, atravessando todas as idades e mentalidades.
Para terminar, na minha opinião, o desenvolvimento de todas estas obras têm como verdadeiras inspirações, grandes obras literárias, o que possibilita um conhecimento generalizado já que o meio digital é mais atractivo que o meio convencional, convencendo um maior número de indivíduos a aderir a esta mesma leitura. Contribui, de certa forma, para um fortalecimento da literatura e para uma maior aproximação desta com a própria sociedade que, naturalmente, é o alvo pretendido.
Todos estes novos conhecimentos relativos a este tema só foram possíveis graças às aulas de Literatura e Media na Era Digital que, na minha perspectiva, nos possibilitou uma nova percepção relativamente à própria essência da Literatura que, à semelhança do Mundo em que vivemos, atravessa uma permanente evolução e transformação.

99 maneiras diferentes de olhar o mesmo mundo

Os Exercícios de Estilo de Raymond Queneau demonstram de modo surpreendente que é possível (mesmo que tangencialmente) relacionar poemas japoneses, com Matemática, “helenismos”, a língua dos Pês, “francesismos”, “inglesismos” e possivelmente tudo o mais que possamos imaginar. A premissa é a mais simples possível: descrever um único acontecimento no maior número possível de maneiras.

Se há algumas descrições que são acessíveis aos leitores, outras requerem algumas ferramentas de interpretação e/ou uma pitada de imaginação (por exemplo, o texto Translação: “No Y, num horizonte de grande mozés, uma tipolitografia dos seus trinta e dois anoféles, chapuz de femeeiro com um cordial a substituir a fitobiologia, pespego comprido como se lho tivessem esticado”). No entanto, há sempre algo que se aprende em cada texto, quer a nível de algum pormenor que permita imaginar uma parte do acontecimento, ou em termos de vocabulário, ou simplesmente em relação ao modo como o autor (e os tradutores) foram capazes de reproduzir determinado universo temático/ linguístico.

Lendo vários dos textos é posssível encaixar o puzzle do acontecimento (ou conjunto de acontecimentos circunstanciais) que é retratado, como se se estivesse a recolher depoimentos de testemunhas diferentes e com dialectos distintos (em suma, habitantes de Babel). O que inicialmente parece problemático rapidamente se torna interessante e estimulante e a cada leitura aprendemos uma nova possiblidade de moldar a língua.

Finalmente, este conjunto de textos deita por terra a noção de que uma imagem vale mais do que mil palavras. Assistir ao conjunto de ocorrências descritas seria porventura muito menos interessante que ler acerca delas descritas de várias maneiras originais. Além disso, uma imagem revelaria apenas uma visão e nunca permitiria o exercício mental que este conjunto de textos produz. Podemos observar o Mundo com dois olhos mas pensá-lo em 99 linguagens diferentes consegue dar-lhe cores que o cérebro nunca conseguiria interpretar (à primeira vista).

A escrita como arte

Bartolomé Ferrando demonstra através das escrituras superpuestas a beleza oculta da caligrafia. Numa das suas obras, sob um fundo cinzento sobressaem os contornos marcados pela tinta dourada, como um enlace entre prata e ouro.

Vislumbram-se palavras no emaranhado dos veios de tinta, mas é necessária alguma preserverança e múltiplos artifícios do olhar para encontrar o poema escondido à vista desarmada. As letras interligam-se e, como o nome do conjunto de obras indica, a escrita sobrepõe-se, quase como se escrevêssemos uma frase sem qualquer espaço entre as palavras.

Sangre aerea arterias incoloras sobre un libro de paginas de luz

Parece uma frase enigmática. Talvez seja uma metáfora para uma leitura pulsante, o livro como motor da vida, uma escrita divina. A estória que ganha corpo e alma através de cada linha escrita: a tinta corre e forma as letras, palavras, frases, linhas... como o sangue flui pelas arterias. Em poucas palavras a escrita consegue materializar-se nalgo sobrenatural e mágico, mesmo que o léxico inclua termos mais carnais e, portanto, associados ao mundo do real.

São múltiplos os sentidos que se podem procurar (e percorrer) enquanto se observa esta obra de Bartolomé Ferrando e várias as questões que podem surgir: porquê o uso específico das duas cores associadas a metais nobres, qual o significado (se é que o tem) daquela pincelada mínima a cinza/prateado no fundo da página, o que será que o autor quis realmente dizer, haverá outra palavra oculta que dê um contexto completamente diferente à frase?

Contudo, o mais admirável é o facto de Bartolomé Ferrando conseguir transformar de modo tão simples (e simultaneamente complexo) a contemplação de uma pintura no acto de leitura e levar o “leitor” (em mais do que um sentido) a ler como se estivesse a observar um quadro. As duas artes fundiram-se harmoniosamente provando que a caligrafia não serve só para revelar a personalidade do escritor ou para embelezar uma página: é também um mundo secreto, um código com significados ocultos que pode surpreender o mais desprevenido dos leitores.

"Húmus Poema Contínuo" de Rui Torres

http://www.telepoesis.net/humus/humus_index.html

O poema hipermédia de Rui Torres - Húmus Poema Contínuo - tem como base de criação, os texto elaborados por Herberto Hélder, poeta português e Raúl Brandão, jornalista e, também, escritor português.
Húmus de Raul Brandão foi documentado durante a primeira guerra mundial e a sua primeira publicação foi no ano da Revolução Russa. Esta obra tem suscitado diversificadas opiniões por parte da crítica literária, interessando salientar o seu carácter de "antecipação".
Tal como no poema reescrito por Rui Torres, Raul Brandão define-se pela reedição e reelaboração da sua própria escrita, criando uma narrativa bastante instável e fragmentária.
Por sua vez, Herberto Hélder também se caracteriza pela sua reinvenção literária e pela sua grande capacidade de criatividade e talento para a escrita. Na década de 60, o poeta criou um conjunto de exercícios hipertextuais, fazendo parte de um restrito conjunto de impulsionadores da literatura hipertextual.
Como o próprio título sugere, "Húmus" exibe a transformação, a existência de variadas possibilidades do ser humano conceber as suas próprias experiências que, naturalmente, se transformam em sequência do Mundo em que vive e da sua percepção acerca deste mesmo Mundo.
Numa primeira abordagem a esta obra digital, surgem-nos dez conjuntos repartidos de pequenos excertos poéticos que, conforme o clique do espectador, vão-se modificando e formando novos significados. Simultaneamente, surge-nos o número de possibilidades possíveis na criação destes poemas, somente com aquele conjunto de caracteres. Existe, de facto, uma enormidade de diferentes tipos de interpretação, directamente acessíveis ao espectador.
Esta carcterística, presente na obra, demonstra, na íntegra, toda a capacidade interactiva e inovadora que esta nova arte de conceber a literatura mundial oferece a uma sociedade que se apresenta, profundamente, unida às novas tecnologias e às funcionalidades que estas oferecem.
Nesta poesia aparecem, constantemente, símbolos, nomeadamente, a água, o ouro, a morte, o silêncio, a ressurreição, o tempo, o sonho, entre outros.
O silêncio surge como um elemento essencial, tendo uma dupla intenção de morte e de renascimento, revelando-se como um componente activo da linguagem. Este próprio silêncio denota-se na inexistência de qualquer tipo de som aquando da apresentação deste poema digital. Também, a imagem de primavera trás consigo o símbolo da fecundação, do nascimento e da transformação. A água é o símbolo da pureza, da vida e, de certa forma, um meio de sobervivência e transparência.
Analisando estes conceitos, podemos examinar, directamente, o próprio conteúdo dos versos onde são transmitidas mensagens puramente humanas e profundamente sensíveis e emotivas. A própria composição de cores, imperada pelo branco (a vida) e preto (a morte), demosntram esses mesmos extremos que , por vezes, podemos mergulhar em determinados momentos da nossa vida.
O texto revela um carácter intenso e bastante sensorial, transportando o leitor para um novo Mundo, podendo considerar-se como um ponto de partida para a reflexão da própria vida e do seu verdadeiro significado. Existe um sentimento de libertação e transformação que deriva da dinâmica vital do sujeito. Estar vivo é estar em transformação constante, e essa transformação implica uma reescrita. No fundo "Húmus" completa-se a partir do passado e do presente, da tradição e da inovação, do silêncio e da vida.
Na minha perspectiva, este poema retrat, de uma forma muito subtil e inteligente, a existência humana que se baseia em diversos símbolos que guiam a nossa vida e a forma como encaramos as nossa experiências. É um projecto bastante completo que conjugou, perfeitamente, o conteúdo original dos escritores Herberto Hélder e Raul Brandão com as novas concepções da escrita digital. Esta nova forma de apresentação, na minha opinião, permite uma maior aproximação do leitor com o conteúdo inerente à mensagem, podendo considerarmos que, possivelmente, terá um maior efeito no leitor em questão.

Clair de Lune&Malinowsky

Esta obra digital surge como uma componente motivadora de novas compreensões relativas ao próprio conceito da música.
Existe um forte envolvimento do som com a imagem gráfica em que as notas do piano implicam, de imediato, uma constante modificação de cores, possibilitando, ao leitor, uma forte e intensa aroximação com poema em questão.
É, precisamente, esta interactividade e dinâmica que possibilitam ao espectador, o conhecimento deste novo caminho de criar e compreender a nova poesia - a poesia digital
O poema suscita uma envolvência profunda e contínua do leitor com a música transpotando-nos para um "Mundo" tranquilo, obstante a qualquer tipo de conflitos.

"Deseo, Desejo, Desire" (aulas anteriores)

Ana Maria Uribe concebeu esta obra digital - "Deseo, Desejo, Desire", sendo visto como uma espécie de compilação de três anipoemas eróticos que, na sua essência, abordam a questão do desejo, surgindo, em três diferentes línguas.
A autora imprimiu à sua obra uma harmoniosa relação entre o som e o movimento concedendo uma dinâmica e originalidade à mesma.
O movimento que as letras manifestam e as próprias cores (cores vivas e fortes), remetem-nos, precisamente, para o erotismo envolvente ao longo desta obra. Sugere-nos a atracção física, a proximidade entre os corpos...
Na minha opinião, a concepção deste poema construi um desfecho muito bem conseguido em que a autora conciliou, perfeitamente, o som e a forma como as letras se apresentam ao leitor, atingindo o seu principal objectivo: transparecer o tema central da obra, o desejo.
O surgimento desta palavra em diferentes línguas transmite a universalidade do conceito que se apresenta como elemento presente na existência humana.

Hegirascope

Nesta obra de hiperficção Hegirascope publicada em 1995 por Stuart Moulthrop, os fragmentos textuais passam como num ininterrupto slide show, as páginas encadeiam-se de modo automático após ter decorrido um certo período de tempo (normalmente de 20 a 30 segundos), para além de os nós de texto conterem os habituais links. Em Hegirascope se adiciona uma figura temporal que pode ser vista, como uma alegoria da ausência de influência do leitor sobre o texto .Esta obra de Moulthrop não permite essa leitura contemplativa. O efeito acrescentado do ritmo temporal transforma Hegirascope numa paródia do hipertexto, numa excessiva fragmentação Hegirascope obriga a reflectir sobre alguns pontos. Por um lado, a actividade que obras como esta propõem aproxima-se mais do visionamento de um espectáculo que da leitura de um livro, em virtude não tanto da importância concedida ao visual mas da falta de controlo do leitor sobre o passar da página.
Contudo o autor de Hegirascope ,retém o controlo total sobre o conteúdo da obra mesmo após a publicação do texto,pode em qualquer ponto mudar ou acrescentar partes ao texto sem o conhecimento do leitor e é o único a ter a todo o momento uma compreensão integral da composição do texto.

...BOM ANO NOVO DE 2009...:)

Site de Arnaldo Antunes

Quanto acedemos ao síte,a primeira pagina sugere-nos um índice que nos confunde com estruturas bibliográficas em que há muitos elementos que são comuns á pagina como os seus métodos .Cada ligação que acedemos corresponde a uma ,como lógica da estruturação dos ficheiros que estes programas de sítio estabelecem .Na lógica de página este ficheiros Web na sua representação visual são uma remediação da forma de página ,que tem características que nós conhecemos da pagina de um livro.
Neste site vemos a representação discográfica do autor ,das obras representadas pelas capas e todos os conteúdos referentes as discografia do autor.
A forma gráfica tem o formato de um labirinto onde existem vários caminhos que reflectem como particularidade de um ficheiro no espaço digital.Neste site de Arnaldo Antunes existe portanto um certo número de ligações numa estrutura hierárquica em que não podemos passar por alguns ficheiros sem passar por outros.
Em suma cada leitor que vai entrar neste site vai seguir um percurso que são percursos que estão determinados não só pela hierarquia mas por ele próprio,existem muitas associações que estão construídas de escolhas que qualquer leitor deste site pode fazer um percurso diferente.

“eis os amantes”de Augusto de Campos

O poema “eis os amantes”de Augusto de Campos faz parte da série de poemas intitulada poetamenos, inicialmente publicada em 1953.
Toda história deste poema é estruturada na relação entre as cores primárias e as cores secundárias.
Ao longo dos seis poemas nos deparamos com um tema comum: a ausência da amada, a distância física e todas as sensações oriundas dessa separação. O próprio nome poetamenos já lança ao leitor os indícios dessa incompletude. Esse sentimento apresenta-se nos poemas pelo uso da cor. Entre as cores primárias (cores puras) e as secundárias (formadas a partir de duas cores primárias) constatam-se as relações de ausência, contraste e complementaridade.
O poema é formado por duas cores: o azul e o laranja (cor complementar). Essas cores representam no poema a figura do poeta e da amada. Eis os amantes possui eixo de força central, todo poema está alinhado a partir do centro da página. O tema revela a dialéctica que se expressa nas palavras que se fundem ou se separam.
A palavra é o corpo do outro, “cimaeu baixela” e o poema encena, espacial e cromaticamente, a fusão dos amantes. O poema é estruturado através do método de criação de “palavras-valises”(palavra que faz a ligação entre duas palavras).Esse procedimento, aliado à utilização das cores complementares, dá a sensação de fusão entre as palavras, assemelhando-se ao acto sexual entre os amantes, como o próprio nome do poema já diz.

Enigma n

Este poema de Jim Andrews intitulado “Enigma n” é um poema que nos remete para a problemática do sentido,que é uma palavra escrita,de acordo com esta convenção de código escrito.Esta palavra é composta por letras e sons que estão combinados numa certa sequencia que nos remete para uma constante de possibilidades de formar sentido.As letras recombinam-se na ordem posicional para gerar palavras de sentido mas pode também oscilar numa forma virtualmente aleatória e gerar arbitrariamente um conjunto de padrões.
Estes padrões que estão a ser gerados não estão pré definidos ,nós é que clicamos nestes padrões.No momento que assumo clicar ,o texto assume essa configuração.O que este texto está a representar é a intervenção do leitor nesse mesmo texto,que está programado para que o leitor intervenha no seu campo textual e veja uma consequência da sua intervenção.
A partir da palavra “meaning” podemos gerar um número infinito desses padrões.Nos temos o sentido inicial “meaning”entretanto há um conjunto de variações com a alteração das cores mas se gerar um padrão de movimento o texto ocorre.
Em suma,esta forma nos permite representar de uma forma virtual a dimensão caótica da significação.

O Jardim dos Caminhos que se Bifurcam

O conto jardim de caminhos que se bifurcam de Jorge Luis Borges, é o título do livro labirinto de Ts'ui Pên. Neste livro o autor conta a história de um asiático em plena guerra, que precisa de informar algo. Não se sabe de que lado ele está. Cada passo, cada acção é calculada, para que não haja erro. Em um guia, encontra a resposta. De comboio, chega até a casa.
Perante a focalização deste conto descobre-se que o protagonista descende de uma linhagem real e sagrada da Ásia, especialmente de um integrante, que foi o autor de uma novela caótica perante a qual o autor sugere a imagem da bifurcação no tempo, e não no espaço".Em todas as ficções, cada vez que um homem se defronta com diversas alternativas, opta para uma e elimina as outras; mas Ts'ui Pen, opta simultaneamente para todas. Cria, assim, diversos futuros, diversos tempos, que também proliferam e se bifurcam.
Fang, digamos, tem um segredo, um desconhecido chama à sua porta; Fang decide matá-lo. Naturalmente, há vários desenlaces possíveis: Fang pode matar o intruso, o intruso pode matar
Fang, ambos podem salvar-se, ambos podem morrer, etc. Na obra de Ts'ui Pen, todos os desfechos ocorrem; cada um é o ponto de partida de outras bifurcações.
Infinitas séries de tempos, numa rede crescente e vertiginosa de tempos divergentes, convergentes e paralelos.
Essa eloquência de tempos que se aproximam, se bifurcam, se cortam ou que secularmente se ignoram, abrange todas as possibilidades.

"Tensão" de Augusto de Campos

Quando tentamos interpretar este poema concreto “Tensão” de Augusto de Campos ,a nossa primeira expectativa de leitura é que estamos pré-condicionados a encontrar sentido nos textos ao formar palavras,ou seja pré-programados de ler de certa maneira as palavras,lendo da esquerda para a direita,de cima para baixo,o que nos obriga a tomar decisões que não são de fácil alternativa .
Tensão é um dos poemas de maior densidade sonora e estrutural. O poema apresenta uma forma espelhada, a partir de um eixo central: “ten / são”. O que caracteriza o poema é a quadrícula ,a possibilidade da leitura geométrica e a exploração das intersecções sonoras.
Com um uso mínimo de palavras e letras, o poema possibilita a existência de diversos sentidos. Palavras com o mesmo número de letras desdobram-se, formando pequenos blocos quadrangulares, que, juntos, estruturam um bloco maior. A tensão age no próprio poema, ou seja, ela é o poema.
A tensão de que o texto nos fala também é a tensão entre o som e o sentido,a escrita e a leitura onde os percursos de leitura tem de ser construídos no acto de ler o texto,e também onde os percursos de leitura tem de ser construídos pelo acto de ler o texto onde está presente a correlação entre a escrita e a leitura.
O que este poema nos mostra é que o sentido é construído através do modo de ler o texto,quando leio o texto de uma certa maneira eu construo um certo sentido.

A Bíblia de Gutemberg

A Bíblia de Gutemberg ,foi de facto a bíblia oficial da igreja católica e toda uma tradição de produção de bíblias que provieram da idade media.Quando olhamos para esta bíblia encontramos certas características que são dos manuscritos ,como é o exemplo da epístola no primeiro capítulo ,as capitulares ,as colunas de texto lineares que encontramos por página ,tal como o próprio padrão de letras standard que é característico da imprensa.
Com a chegada da era digital e do hipertexto ,podemos ver representada esta obra trespassando da forma material do livro para a forma digital.Quando utilizamos o rato e viramos uma página da própria bíblia ,num acto simulado e virtual ,esta ilusão do material do objecto numa forma gráfica ,nos apresenta um conceito criado por Bolter e Grusin,designado como remediação,como sendo um processo de mudanças em que ocorrem num meio ou meios(mídia)diante do aparecimento de uma tecnologia que chega mesmo a competir e a completar tecnologias anteriores.
Contudo este conceito de remediação não se refere simplesmente a uma apropriação de especificidades de um meio por outro meios mas também à continua e permanente reorganização dos vários meios ,que vão se modificando sem que qualquer um deles necessariamente desapareça perante a visualização que vemos hoje em qualquer computador.

Amor de Clarice – Rui Torres

Amor de Clarice, de Rui Torres, é uma obra digital baseada no conto Amor da escritora brasileira Clarice Lispector e resulta de uma combinação entre som, texto, imagem e movimento.
O leitor tem a possibilidade de interagir directamente com a obra, uma vez que é ele próprio que decide onde vai começar e onde vai acabar. Para tal, tem ao seu dispor a possibilidade de seleccionar as partes da obra que deseja ler ou pode clicar sobre a parte que mais lhe interessa e ouvi-la.
Deste modo, o leitor tem a possibilidade de alterar o sentido da obra sempre que o entender, bastando, para isso, um “click”.

O piano digital

A obra digital Clair de Lune, de Stephen Malinowski pode ser definida como um piano digital. O autor recorre a um conjunto de barras coloridas que nos fazem lembrar as teclas de um piano e que se vão iluminando à medida que a música decorre. Sendo que a cada cor corresponde a uma nota musical.
Ao longo da música apercebemo-nos que há várias notas que se vão repetindo e consequentemente sobrepondo.
A interacção entre o som, a imagem, e o próprio movimento dá-nos a ideia de que está mesmo alguém a tocar piano, pois vemos as teclas a serem pressionadas. Tal não é possível quando estamos, simplesmente, a ouvir a música, uma vez que a única propriedade que temos ao nosso dispor é o som.

Deseo, Desejo, Desire

Deseo, Desejo, Desire, de Ana Maria Uribe, é uma obra digital constituída por três anipoemas acerca do desejo. Esta obra digital tem como base a palavra desejo em três línguas distintas: “deseo”, “desejo” e “desire”. Em todos os anipoemas a autora dá vida às letras (movimentam-se) que constituem a palavra como forma de representar o desejo. Outra forma encontrada pela autora para dar a entender ao leitor o significado dos anipoemas é o som. O movimento das letras é acompanhado por som, o que possibilita ao leitor compreender melhor este tipo de poesia.
Tal na obra digital El circo, Ana Maria Uribe volta a conciliar som, imagem e movimento de modo a criar uma obra bastante interactiva e dinâmica que desperte a atenção do leitor.

Strings – yes, no, maybe…

Strings é uma obra hipermédia que retrata uma discussão entre duas pessoas, possivelmente um casal.
Inicialmente, o leitor depara-se com uma discussão acesa em que nem um nem outra estão dispostos a ceder – “ yes or no”. No entanto e com o decorrer da discussão, o “no” começa a ceder e deparamo-nos com o “maybe”. Esta cedência vai-se confirmar quando o “no” acaba por concordar com o “yes” e nessa momento dá-se a reconciliação do casal. Se inicialmente a linha se dividia em duas partes distintas, agora forma um todo, representando, deste modo, a união do casal.
Em suma, Strings é uma obra cujo principal objectivo é dar a conhecer ao leitor o poder da argumentação. Ou seja, grande parte dos dilemas com que vamos sendo confrontados ao longo da vida pode ser resolvida através da exposição de argumentos e pontos de vista bem consolidados.

O Circo

A obra “El circo: anipoema por entregas” de Ana Maria Uribe trata-se de um conjunto de anipoemas que permitem ao leitor ter a ideia de que se encontra num circo. A base de toda esta obra é o alfabeto, no entanto, a autora dá vida às próprias letras, dota-as do privilégio de se puderem movimentar. Daí que nos anipoemas como “Los animales” e “Columpio” o leitor tenha a ideia de que esta diante de um desfile de animais de circo e de um trapezista a realizar o seu número, respectivamente.
Logo, Ana Maria Uribe recorre as formas oferecidas pelo meio digital, nomeadamente o som, o movimento e a imagem para dar a conhecer ao leitor o que é o circo.

Strings (aulas anteriores)

"Strings" é uma obra hipermédia que retrata como, por vezes, podemos moldar as nossas relações interpessoais, marcadas pela oposição, pela concordância e pelas inúmeras cedências com que lidamos ao londo da nossa vida.
Numa primeira abordagem a esta obra, é-nos sugerida uma discussao em que dois campos, completamente diferentes, que se opõem, seguindo uma mesma linha que surge como ponto orientador e foco de ligação entre ambos.
Numa seguinte fase, existe uma éspecie de coerência, preparando-se como um momento antecedente à união e ao entendimento de ambas as partes.
É precisamente na terceira e ultima parte que podemos constatar o momento áureo desta mesma reconciliação, onde os dois lados se juntam formando um so corpo.
Todo este processo de entendimento foi acompanhado pela capacidade de argumentação, retratando, plenamente, a forma como devemos guiar a nossa caminhada vivencial, procurando, sempre, ultrapassar todas as adversidades da melhor forma, no fundo, de um modo "argumentativo".

segunda-feira, dezembro 29, 2008

Ana Maria Uribe – «Deseo, Desejo, Desir»

Esta obra consiste em três anipoemas eróticos, no meu ponto de vista, esta obra representa maioritariamente as artes da sedução, sendo representado por letras que formam palavras de significados iguais. Cada anipoema representa uma palavra escrita em diferentes línguas – Deseo, Desejo, Desir.

«Strings»

Mais uma vez vemos retratado o universo das relações amorosas. Strings, o que ao inicio é uma discussão de divisão entre o sim e o não na mesma linha temática, acaba por ter outros contornos com a concordância de uma das parte e por fim o tão esperado consenso e reconsiliaçao. É uma obra que nos mostra a temática da argumentação.

«My body – A wunderKammer»de Shelley Jackson

Na obra «My Body – A wunderKammer» de Shelley Jackson podemos observar que o corpo da autora surge mais do que em forma de desenho – em forma de índice. Através das várias partes do corpo podemos navegar pela história da descoberta dos seus pontos fracos, e a evolução do seu corpo.
Tal como um livro, em que nós vamos ao índice para ler a parte que quisermos, nesta obra podemos ir ao “índice” representado pela ilustração de um corpo de mulher (supostamente o da autora) no qual podemos clicar nas várias partes do corpo de modo a lermos e sabermos a história do corpo de Shelly Jackson.

Augusto Campos – «Coraçaocabeça»

A dicotomia – cabeça – coração – como que uma reflexão sobre a forma como cada um deles pode comandar a nossa vida.
O poema é-nos apresentado num fundo vermelho escuro, com letras amarelas que à primeira vista formam palavras sem qualquer significado dado que as duas frases lá presentes mudam de uma para outra numa fracção de segundos.
De inicio começamos por não perceber a mensagem do poema Coraçãocabeça, mas, olhando atentamente, acabamos por descobrir que as mensagens patentes nesta composição poética interactiva são - Minha cabeça começa em meu coração; e - Meu coração não cabe em minha cabeça, de certo modo o predomínio do coração quanto à cabeça, o predomínio das emoções aos sentidos, mas ao mesmo tempo, o completar de um com o outro - cabeça e coração interligados.

Augusto Campos – «Tensão»

Tensão – um poema cujas palavras acabam no vocábulo «m» dando extrema exclusividade à palavra – tensão – a representação desta palavra é feita através de todas as outras, ao descodificar o poema descobrimos que todo ele representa o vasto campo da tenção através dos sons emitidos pelas palavras e da falta de coerência, descodificação essa que também pode ser feita através da versão audível apresentada pelo autor.
Tal como muitos outros poemas concretos, este começa e acaba onde o leitor quiser visto que o leitor pode começar por ler na vertical na horizontal ou mesmo de baixo para cima, as opções de leitura são muito vastas.

Augusto Campos – «Eis os amantes»

A história de dois amantes, ligados apenas pelo relacionamento físico, tal pode ser representado não só pela própria história do poema, como também pela própria disposição de cores e letras desta composição poética.
A facto das palavras de cor diferente se apresentarem aglutinadas transparece de certa forma a grande vontade dos amantes estarem juntos, a importância do contacto físico – «os corpos»; «gemeoutrem»; «cimaeu»; «baixela».

«Enigma N»

Este poema surge apenas com uma palavra «meaning» (significado) podendo o leitor interagir com a palavra descobrindo ele mesmo a formação do significado, passando por uma mistura de letras, como que o pensamento humano, a falta de coerência.
No contexto da poesia concreta, Enigma N enquadra-se perfeitamente, todo este poema remete para a instabilidade no momento da formação do sentido.
É como que a “forma de formar” o significado das coisas, forma essa guiada pelas opções de clique feitas pelo leitor.

Bíblia de Gutenberg

Mais um bom exemplo de remediação é a Bíblia de Guntenberg.
Como que uma nova versão da “antiga” bíblia de Gutenberg, a versão digital contem os mesmos componentes e informação, as partes desta bíblia podem ser vistas on line bastando apenas um simples clik para ler as mesmas palavras da bíblia original, não fosse esta uma reprodução em forma de fotos de modo ao leitor ter a impressão da magnitude física da bíblia.
Na primeira página podemos ver uma espécie de índice que nos permite navegar directamente nas páginas desejadas. Assim sendo, com esta remediação, podemos ter acesso a um documento que até a altura era interdito a muita gente.

«Amor» de Clarice Lispector - Rui Torres

Com a remediação de Rui Torres podemos entrar na obra de uma forma mais interactiva. A combinação – música + voz + imagem + texto – resulta numa remediação perfeita da obra «Amor» de Clarice Lispector. Assim, podemos ver a obra de outro ponto de vista, como se fosse uma obra completamente diferente, com a qual o leitor inter-age escolhendo a ordem das frases e clicando nos diversos links.

«Amor» de Clarice Lispector

«Amor» de Clarice Lispector conta-nos a história de Ana, uma mulher que vive uma vida rotineira mas não tem desagrado na vida que leva.
Esta obra mostra o papel da mulher rebaixado a um simples “instrumento doméstico”.
Vivendo no mundo que deseja, Ana dedica-se aos filhos e marido, deixou a sua juventude em troca dessa rotina, e apesar de Ana acabar por cair no “mundo da revolta”, tal emoção acaba por ser reprimida, sendo que Ana acaba como a tradicional mulher que nasce e vive em torno da família e do bem estar da família
.

Strings

Na obra Strings, de Dan Waber, é utilizado um fio que vai formando palavras.

Primeiramente, o leitor depara-se com uma discussão que, com a continuação da leitura, se concluiu que é entre uma casal. O Yes (sim) e o No (não) estão muito bem definidos na primeira lexia intitulada argument. Não só a contrariedade de opiniões nos remete para a existência de uma discussão, mas também o movimento das palavras, como se cada lado estivesse a “puxar” as palavras para si, representando deste modo a luta e defesa da opinião de cada um. A discussão continua em argument2, agora mais calma. As opiniões aparecem agora como que a “flutuar”, surgindo uma nova palavra: Maybe (talvez); sugerindo já uma concordância entre os dois sujeitos. Segue-se flirt, que significa namorico, em que a palavra No se transforma noutra. Fica a dúvida se se torna em Yes ou Maybe, mas fica a certeza de que se trata de uma dessas, por outras palavras, representa o começo de algo. Flirt (cntd), é onde se confirma o início do namorico. A palavra Yes surge bem nítida, realizando variados movimentos com variadas intensidades, como se de uma dança se tratasse, transparecendo a alegria que esta palavra pode trazer. A alegria continua, agora representada pelo riso (haha) de cada um dos elementos do casal, que acaba por se tornar numa só. Youandme é a lexia que se segue, com a palavra You (tu) surgindo no centro, deslocando-se calma e horizontalmente pelo ecrã. A palavra Me (eu) surge mais agitada, rodeando o You, mostrando deste modo a importância que o You tem para o Me. Posteriormente temos arms, que pode ter duplo significado: “Your arms own me” ou “Your arms around me.” O movimento circular da linha tanto pode indicar a letra inicial da palavra “own” como pode representar o acto de rodear alguém com os braços, isto é, abraçar alguém.

Por último, temos poidog que transmite uma mensagem bem definida: “Words are like strings that pull out of my mouth.” – As palavras são como fios que saem da minha boca. Esta mensagem justifica a utilização de um cordel para formar palavras nesta obra.

What If The Word Will Not Be Still

É isto que o autor, Stuart Moulthrop na obra Hegirascope, pretende mostrar ao leitor: e se a palavra não estivesse sossegada ou quieta?

O problema desta obra hipermedia é a pré-temporização de cada lexia. O leitor depara-se com alguns avisos iniciais, os quais são de leitura obrigatória. Trata-se de uma espécie de introdução ou talvez até uma preparação para a leitura da narrativa que se segue. Por fim, o leitor é questionado “Where have you been in the Net today?” Após esta pergunta, o leitor entra numa “zona” diferente. Aqui são repetidas algumas das frases iniciais, mas a temporização é diferente e existem quatro ligações a rodear o texto. Aqui o leitor pode optar por seguir o caminho que quiser. Ao escolher uma dessas quatro ligações entra num outro espaço, em que o tempo e a cor de fundo se modificam. Continuam a aparecer quatro ligações, obviamente diferentes das que se encontravam na lexia anterior. Essas ligações são intituladas com expressões presentes no texto que rodeiam. Em algumas lexias o tempo para a sua leitura é mínimo o que consequentemente prejudica a interpretação.

As narrativas expostas desta forma são difíceis de apreender devido ao número elevado de ligações. A possibilidade de fazer sentido é muito relativa, pois depende das ligações que cada leitor faz.

Trata-se de uma obra semi-determinada, o autor determinou previamente alguns aspectos, como o tempo de cada lexia e as várias ligações disponíveis em cada uma delas; mas o leitor é quem, dependendo das opções dadas pelo autor, escolhe a sequência da narrativa.

A Escrita Sobreposta

Tal como o próprio nome indica, a escrita sobreposta é um tipo de escrita em que as palavras estão parcialmente sobrepostas. Bartolomé Ferrando, escritor espanhol, produziu um conjunto de obras baseadas nesta mesma escrita. Uma delas é a seguinte:

Não é fácil entender o que aqui está escrito. O leitor é obrigado a reflectir sobre a escrita, pois trata-se de um código diferente do normativo. Prossegue-se a descodificação em que são compreendidos os signos de acordo com determinado código. Após distinguir as palavras, o leitor necessita de criar um percurso entre os signos que leva à interpretação e à produção de um sentido para o texto. No final obtém-se a seguinte frase: "lo que tu piensas roza los huecos de sus palabras hechas viento". As restantes obras remetem igualmente para as palavras e para o acto da escrita.
O objectivo do autor é chamar a atenção do leitor para a natureza da escrita. As suas obras pretendem representar a escrita e o seu modo de funcionamento.

Hegirascope - Stuart Moulthropp

Stuart Moulthropp é o autor da hiper obra "Hegirascope". Aqui, o leitor interpreta a obra apresentada de forma indídual, ainda que, essa interpretação seja dependente da obra em si.
Dependente porquê? Porque o leitor pode intervir na sequência dada a obra, ou, simplesmente, deixar-se levar pelo formato original desta. A intervenção do leitor, deve-se às hiperligações apresentadas, com um conjunto de novos textos principais, levando o leitor para uma outra conjuntura da história. Os textos apresentados, vão aparecendo numa sequência temporal pré-definida. Essa sequência, pode ser de ritmo, ora rápido ora lento. Ao mesmo tempo que novos textos surgem, também novas cores de fundo brotam.
A forma como o leitor intervem na obra, permite-lhe interpretar esta de forma diversa. Dependendo, claro, das hiperligações que opte.

sexta-feira, dezembro 26, 2008

Releitura dos Poemas encontrados de António Aragão




Uma vista de olhos por um jornal e encontramos títulos alarmantes, más notícias, previsões desanimadoras ou artigos preocupantes. Dá vontade de cortar o jornal e espalhar o que resta! Pois António Aragão cedeu a esse impulso e criou Poemas Encontrados: um conjunto de recortes de jornais juntos aleatoriamente formando frases que nada têm a ver com os tradicionais títulos e notícias jornalísticas.




Mais tarde, graças ao milagre multimédia, o grupo de Poesia Experimental Portuguesa (PO-EX) reescreveu estes Poemas Encontrados. Com um simples clique pode-se fazer um "recorte" dos principais títulos das edições on-line de jornais como o Público, o Expresso (Portugal), o New York Times (E.U.A.), o Folha de São Paulo, o Google News (Brasil) e o La Vanguardia (Espanha), e estes agrupam-se automaticamente formando frases aleatórias.




É uma maneira extremamente original de ler um jornal, não se primando pela informação, mas privilegiando uma leitura muito mais interessante e abstracta, sem dúvida. O leitor é tentado a construir as suas próprias notícias através das palavras chave que aparecem. E, quando é confrontado com os verdadeiros artigos, surpreende-se a si próprio com a sua imaginação, apercebendo-se de como é fácil edificar uma nova realidade...

Literatura Digital e Hipertextual

A Literatura Digital viu-se em grande desenvolvimento a partir dos finais do séc. XX e inícios do séc. XXI, devido à forte digitalização do mundo em que vivemos, onde os suportes digitais suplantaram os suportes tradicionais, onde a tecnologia pauta o ritmo das nossas vidas e o desenvolvimento da sociedade.
Apenas tive conhecimento deste tipo de arte ao frequentar a cadeira de Literatura e Media na Era Digital, deparando-me com formas de escrever e de apresentar a escrita completamente diferentes das experiências que tinha tido até então. Foi um tipo de literatura que me fascinou imediatamente pela interactividade que desenvolve com o leitor e pelo exercício do nosso intelectual, apelando bastante ao nosso sentido cognitivo.
"Mar de Sophia", "My Body, a wonderkammer", "Deseo, Desejo, Desire", "Enigma n" e "Strings" foram, certamente, os anipoemas que mais me agarraram a este conceito de arte, obrigando-me a pensar, a reflectir. São exemplos de uma literatura digital que apesar de sublime, se consegue desvendar o seu segredo, a sua mensagem. Apesar de a mensagem subliminar estar quase sempre presente neste tipo de Literatura, o que mais me interessou foi, sem dúvida, a ligação que os artistas digitais conseguem criar com o leitor, tornando-o interveniente na sua obra. Creio que se trata de uma vertente da Literatura que se poderá desenvolver e expandir. Contudo, será difícil a sua aceitação e suplantação à Literatura convencional. A sociedade moderna, infelizmente, tende para um consumo rápido, de fácil compreensão e comercial, uma "fast-art", cultura criada para as massas e a pensar nas massas...
Apesar de ter gostado de algumas obras digitais, penso que muitas delas são demasiado eruditas e intelectuais, tornando-se tremendamente confusas, emaranhadas em pensamentos "pseudo-artísticos", onde por vezes a arte nem é evidenciada e sim, a digitalização e as hiperligações... Muitos artistas digitais transformam as suas obras em algo tão complexo, que acabam por retirar todo o interesse que a sua criação poderia ter. A evidenciada necessidade de alguns desses autores de se mostrarem complexos e complicados intelectuais desfaz as suas obras e torna-as numa arte demasiado digital, demasiado codificada, demasiado escondida...
Um tipo de Literatura que poderá continuar a ser deixada a um canto, se muitos dos seus artistas persistirem num elitismo desnecessário e sem cabimento...

Mar de Sophia - Mar de Palavras

Assombroso! O anipoema elaborado por Rui Torres é feito com uma rara mestria, conseguindo destacar-se, a meu ver, de muitos outros artistas digitais. A união é perfeita, os poemas, elaborados aleatoriamente, estão repletos de uma beleza com a marca de Sophia de Mello Breyner Andersen, a voz profunda do narrador dá alma à poesia e o visual está também muito bem tratado.
Como é possível, através de uma base de dados de poemas de Sophia de Mello Breyner, criar novos poemas com os traços da famosa escritora portuguesa? Como é possível, através de uma escolha basicamente aleatória, onde apenas comandos de computador entram, criar algo tão naturalmente poético? Como é possível que a interferência do computador, da digitalização, crie obras que aos olhos de um leigo, são perfeitamente "humanas"?
É toda essa perplexidade com que o leitor se depara, que transforma este anipoema, numa obra, para mim, única, onde Rui Torres encarna a pele de um génio, demonstrando que através de um computador, de uma base de dados, algum Flash, uns poemas de Sophia de Mello Breyner, uma escolha relativamente aleatória das palavras e a inclusão de umas vozes consegue criar poemas "novos", recheados de qualidade e erudição, balançando num mar de palavras...
Depois de uma bela adaptação de "Amor de Clarice", Rui Torres demonstra com o "Mar de Sophia" que o computador, pode afinal de contas, ser um "poeta"....

Strings de Dan Waber

Dan Waber apresenta-nos um anipoema assombroso: "Strings". As palavras são cúmplices da animação, levando a anipoesia para um campo superior, havendo uma ligação inquebrável entre a digitalização e a literatura...
O anipoema começa com uma transformação constante do "yes" em "no", mostra a ténue linha entre uma afirmação e uma negação, a verdade é subjectiva e pode ser alterada facilmente... De seguida o "maybe" torna-se interveniente aparecendo tímido, como se tivesse medo em afirmar-se, é uma incerteza. A transformação visível na seguinte fase do anipoema é ainda mais interessante. Há uma miscelânea entre o "yes" "no" e o "maybe", como se nenhum fosse certo, como se todos os argumentos se tivessem fundido... De seguida há um "yes" saltitante e alegre. Terá ganho o argumento ou será uma forma de demonstrar a satisfação de uma relação que teve os seus frutos? É mostrado ao leitor duas visões, duas perspectivas heterogéneas. A satisfação é observável e ainda mais convincente na seguinte fase do "Strings". A gargalhada, o riso demonstra a felicidade do argumento vencedor, ou da relação promissora e afortunada...
A seguir o leitor observa que todo o anipoema se insere numa relação amorosa... O "you" caminha calmamente, sendo abordado inúmeras vezes pelo "me" que tende a aproximar-se, a fazer a sua investida. Surge então a frase "your arms around me", é um sinal de que a investida foi feliz, há uma união. Concluo então, que toda a animação tem a ver com as relações amorosas, repletas de incertezas, de argumentos, de contrariedades, de oposições...
O anipoema acaba com uma frase devaneadora: "words are like strings that pull out of my mouth". Com este anipoema Dan Waber demonstra uma forma de escrever bastante peculiar, como se todas as palavras saíssem de uma única linha. E essa linha é a nossa boca...

quinta-feira, dezembro 25, 2008

Mar de Sophia, de Rui Torres

A constituição do poema "Mar de Sophia", de Rui Torres baseia-se na compilação de vários poemas digitais apresentados em formato hipermédia, como textos animados gerados a partir do léxico da escritora e poeta Sophia de Mello Breyner Andersen, reconstituindo a sia obra e atribuindo-lhe, naturalmente, características renovadas.
Numa primeira abordagem ao poema de Rui Torres é-nos apresentado três caminhos a seguir: «Enquadramento», «Retrato de uma Princesa» e «Poema #2». «Enquadramento» surge como um momento de apresentação deste poema e a forma como este é estruturado. Os dois poemas surgem como uma espécie de homenagem à escritora portuguesa.
Esta obra foi concebida através do programa Actionscript, tendo como colaboradores de Rui Torres, Nuno Ferreira na Programação, Nuno Cardoso na Voz e Luís Aly no som.
Neste poema é, igualmente, permitido a recriação dos poemas por parte do leitor, num eixo combinatório de linguagem, adaptando esse mesmos poemas ao seu gosto pessoal.
Naturalmente, as concepções combinatórias que o leitor vai formulando ao longo da sua leitura vão variar de pessoa para pessoa.
Analisando atentamente o poema podemos verificar a presença de várias palavras que surgem repetidamente, nomeadamente, "mar", "tempo", "noite", "luz", "dia", entre outras.
A acompanhar a parte escrita está o som. Enquanto estabelecemos o exercíco de compreensão desta obra digital, são nos transmitidos sons variados e que se intercalam, rapidamente, entre si, dando uma maior profundidade ao texto e, por vezes, cedendo-lhe um carácter mais enigmático e interessante. Percebe-se, várias vezes, o barulho das ondas a anularem-se junto à areia, aproximando o leitor do contexto onde se desenrola toda a acção da história - o mar.
A nível literário, podemos dizer que estes poemas têm como linha orientadora a norma, sendo capazes de seleccionar, aleatoriamente, palavras das listas que formam os campos significativos e lexicais presentes no texto da escritora.
Para terminar, na minha opinião, este poema demonstra-se como uma obra bastante conseguida onde o autor, apesar de introduzir as naturais alterações a que um texto está convencional está sujeito aquando da sua passagem para o meio digital, não deixou de manter a mensagem principal que Sophia de Mello Breyner concebeu na obra original.
Em suma, Rui Torres respeitou a verdadeira essência desta obra, tornando-a num projecto atractivo, onde desperta a atenção e curiosidade da comunidade tecnológica, concedendo à literatura portuguesa e às suas obras, um cariz inovador que apresenta características muito versáteis.

Amor de Clarice (aulas anteriores)

O texto hipermédia de Rui Torres tem como fonte de inspiração o conto de Clarice Lispector, "Amor". O poema original surgiu nos anos 60 e tem como principal tema a abordar, os conflitos psicológicos e as crises existênciais que, por vezes, nos deparamos ao longo da nossa vida. De certa forma, a autora procurou traduzir com dramatismo e uma riqueza metamorfósica, a crueldade do Mundo em que vivemos, onde imperam vários sentimentos que atormentam o ser humano diariamente. No fundo, podemos considerar "Amor" como um espelho e um foco de reflexão acerca do Mundo em que todos nós vivemos.
Este poema conta-nos a história de uma mulher profundamente abatida pela vida que levava marcada,essencialmente, pelo seu carácter rotineiro e inútil. Um dia, Ana resolveu trocar essa angústia que vivia por um estado de conformação com a vida que levava, uma vida de adulta que ela própria tinha obrigação de suportar, considerando que podia sobreviver sem qualquer tipo de felicidade.
Acompanhada pelas suas tarefas domésticas e pelo cuidado que dedicava aos seus filhos, Ana não esperava mais nada da vida, considerando-a preenchida, sendo uma espécie de compilação entre a tranquilidade e a estabilidade.
No entanto, um dia depara-se como um cego na rua a mascar uma chiclete. Esse momento revela-se como um foco desencadeador de uma incessante vontade de viver e atribuir algum sentido à sua vida. Era o amor que ali renasceria. Podemos concluir, então, que Ana ao conter os seus impulsos abdicou de grandes paixões para alcançar o que denominava "vida verdadeira".
Numa abordagem digital da mesma obra, Rui Torres transmite perfeitamente esta mesma ideia de sofrimento e infelicidade.
O poema está dividido em duas séries com vinte e seis partes cada. Existe, também, uma enorme liberdade concedida ao leitor, já que pode arrastar e formar variadíssimos conjuntos de versos mudando, no fundo, a própria concepção do poema em questão.
As grandes letras vermelhas transmitem todos os sentimentos, todas as incertezas emocionais e toda a tranquilidade indesejada, vividos pela personagem, explicados pelo rompimento de dias verdadeiramente monótonos que levava, tendo como principal característica, a existência de uma imaginária felicidade e uma disposição para concordar com tudo aquilo que a vida lhe foi oferecendo.
Analisando este poema, podemos verificar que o tema abordado nunca será ultrapassado, existindo muitas "Anas" no Mundo em que vivemos. Por vezes, este facto pode explicar-se pela forma como a sociedade molda as suas mentalidades baseadas na aparência e no desejo de aproximação da perfeição e de uma imagem que agrade aos "espectadores".
O próprio som que acompanha a escrita transmite um sentimento de tranquilidade e, ao mesmo tempo, de angústia. A existência de inúmeras possibilidades na formação do léxico de Clarice Lispector no meio digital, pode considerar-se, na minha perspectiva, como uma presença de variadíssimas possibilidades de caminhos a percorrer ao longo da nossa vida. Isto não quer dizer que optamos sempre pelo melhor caminho mas são estas situações que nos ajudam a voltar a optar, deixando, em nós, marcas de amadurecimento.
Esta nova concepção da obra de Clarice Lispector, na minha opinião, está algo fora do normal, porque Rui Torres conseguiu, na íntegra, transvasar todo o sentimento adquirido pela personagem, na obra original, para suporte digital, tornando-o muito interessante e, sem dúvida muito mais interactiv. Possibilita uma participação activa e interessada do leitor que, à medida que vai aprofundando o seu conhecimento acerca deste projecto, os sentimentos de aproximação e identificação, vão ganhar, cada vez mais, sentido.

terça-feira, dezembro 23, 2008

Stephen Malinowski - O Retrato da Música

Stephen Malinowski apresenta-nos duas formas diferentes de representar a música. Em vez de uma pauta sóbria e crua, sem movimento, sem vida, Malinowski mostra que a música é muito mais que uns bemóis ou sustenidos embutidos numas tantas linhas pretas sobre um fundo branco...
Clair de Lune, música de Chopin "pintada" por Malinowski, é uma representação colorida e viva da obra do pianista polaco. Cada traço vindo de um pincel digital, habilmente manuseado por Malinowski, representa um momento da música, o seu tempo, a sua duração, o seu tom, transforma as notas em símbolos de cores e de tamanhos diferentes, mostrando toda a heterogenidade das notas e da própria música. Uma representação bastante artística da música, da sua vida, dos seus momentos, das suas pausas, das suas notas...
Nocturne (opus 27, nº2), também uma música de Chopin, é, na minha opinião, mais bem representada por Malinowski. Há ainda mais vida nesta representação da música do artista polaco. O movimento é notório, com as linhas a saltarem, a esticarem, a darem uma vida e uma dinâmica não vista em Clair de Lune.
O retrato da música, a pintura que Malinowski lhe faz é absolutamente genial, mostrando uma cumplicidade enorme entre o seu trabalho digital e as músicas. A ligação da imagem, do visual, com a música, o audível é algo muito bem conseguido, transformando essa ligação, demonstrando que o visual de uma música pode ser muito mais que uma simples pauta de pretos e brancos...

sábado, dezembro 20, 2008

Sobre LMED

Dedicado às minhas alunas e aos meus alunos

Ana Mónica, captura de ecrã de «cortado em flores» (Maio 2006).

A disciplina Literatura e Média na Era Digital foi criada em 2005-2006 com o objectivo de dar a conhecer e reflectir sobre a produção de literatura no meio digital. Temos procurado observar quer a recodificação electrónica de objectos oriundos do meio impresso, quer objectos originariamente electrónicos, isto é, produzidos com recurso às materialidades intermédia e hipermédia de aplicações informáticas e de plataformas específicas. Muitas obras digitais constituem extensões de formas da arte processual ao interrogarem a materialidade particular das suas formas linguísticas e técnicas de mediação.


Luísa Cantante, captura de ecrã de «The Raven» (Maio 2006).

A reflexão sobre processos e tecnologias de mediação tem sido feita a partir da análise de um conjunto de obras electrónicas seleccionadas, em vários géneros, que incluem poesia cinética e hipermédia, hiperficção e ficção interactiva, performance e teatro digital, geração automática de texto, literatura de código («codework»), etc. Procurámos clarificar os diferentes modos e graus de intervenção dos leitores nas obras semi-determinadas, em objectos digitais e pré-digitais, tentando compreender o alcance do conceito de literatura ergódica proposto por Espen Aarseth. Procurámos ainda compreender a ecologia das tecnologias de mediação, nas suas relações sincrónicas e diacrónicas, através do conceito de remediação proposto por Jay David Bolter e Richard Grusin.


Vera Ribeiro Jorge, captura de ecrã de «Flying: Enjoy (the) Stealing Silence» (Junho 2006).

Deste modo foi possível pôr em causa certas dicotomias entre o impresso e o digital e clarificar as complexas operações de codificação realizadas através da espacialização da escrita. A recriação digital de formas visuais (como as que caracterizam os poemas constelados) revela, por vezes, a pluridimensionalidade da inscrição que ocorre na página impressa. A recriação de poemas experimentais realizada pelos autores do arquivo PO-EX, ou a reescrita digital dos seus próprios poemas concretos realizada por Augusto de Campos constituem exemplos da dialéctica entre o código impresso e o código electrónico nas operações de escrita e de leitura. Por isso o computador tem sido conceptualizado como uma tecnologia de inscrição que alarga e reconfigura o espaço da escrita, prosseguindo o processo de abstracção e replicação permutativa que é inerente ao código alfabético.


Bruno Santos, captura de ecrã de «Pormenor da Casa» (Maio 2007).

Aquela reflexão sobre as possibilidades do meio digital prolongou-se na dimensão pedagógica do trabalho de comunicação em contexto escolar. A escrita directamente motivada pelas obras vistas e analisadas tornou-se num dos instrumentos de aprendizagem centrais da disciplina. A complexidade de algumas obras e conceitos pôde ser tentativamente explorada por cada participante na disciplina, beneficiando da reflexão dos restantes. Torna-se assim possível ver melhor o que somos capazes de pensar e de escrever. Ao dar testemunho da ligação da cognição às representações de que dispomos para conhecer torna-se mais claro o acto de transformar as representações no esforço para conhecermos.


Márcia Rocha, captura de ecrã de «Visão e Poesia» (Maio 2007).

A socialização da escrita e da publicação que o blogue constitui torna possível aumentar o grau de apropriação das múltiplas linguagens com que a cultura digital nos interpela. Aumentar a consciência da escrita e das representações enquanto mediadoras dos actos cognitivos poderia ser, porventura, a justificação pedagógica para a prática que esta experiência de escrita representa. Trata-se, no fundo, de tentar responder às perguntas fundamentais num contexto de aprendizagem: como comunicar melhor? como aumentar, para cada indivíduo, a autoconsciência do acto de construção do seu próprio conhecimento?


Camilo Soldado, captura de ecrã de «Disorder» (Dezembro 2008).

A realização de um projecto de uma obra digital procura ligar o acto de pensar e o acto de fazer como formas adicionais de desenvolver a literacia digital, isto é, a capacidade de ler, escrever e pensar com os instrumentos digitais. Enquanto prática de aprendizagem representa também a valorização da dimensão performativa do conhecimento. E é esse grau de envolvimento no próprio acto cognitivo que torna possível intensificar a consciência dos processos materais de produção de sentido.


Pedro Pinto, captura de ecrã de «Quando os pássaros morrem» (Dezembro 2008).

Nos últimos três anos, Literatura e Média na Era Digital tomou forma não apenas como um corpo de conteúdos, mas também como um conjunto de métodos de ensino e de aprendizagem que são parte do seu próprio conteúdo. É nessa consciência da sua mediação disciplinar - enquanto mediação simultaneamente teórica e escolar - que a mediação digital e literária se tornou pensável, escrevível e legível. Nesta tentativa particular de ampliar para o espaço electrónico o espaço das interacções no espaço da aula está a tentativa de responder a outra questão: é possível ensinar de outro modo? aprender de outro modo?

segunda-feira, dezembro 15, 2008

Lexia to Perplexia

Como é que nos projectamos na máquina? Esta é uma das perguntas que se impõem na obra Lexia to Perplexia. Actualmente, uma grande porção das interacções sociais são mediadas por computador, logo, ele torna-se um elemento fulcral para a sociedade. A máquina está presente em quase todas as escolas, repartições públicas, escritórios, casas particulares, ou seja, tornou -se uma tecnologia omnipresente. O desenvolvimento científico e tecnológico trouxe consigo o advento da máquina, sendo que, o computador é considerado o engenho mais complexo.

Lexia to Perplexia é uma das mais famosas obras de codework; representa uma reflexão sobre a maquinização do ser humano/ humanização da máquina. Talan Memmott criou uma série de trocadilhos, com o intuito de demonstar a dimensão narcisica do homem na sua relação com a máquina.

domingo, dezembro 14, 2008

A obra digitaL...

Ao longo do semestre, analisámos diversas obras de natureza digital; aprendemos conceitos, tais como: Literatura ergódica, remediação, poesia concreta, cibertexto, hipertexto, semiótica, hermenêutica, entre outros. A exploração das obras permitiu-nos conhecer uma realidade, cada vez mais expressiva, contudo, ainda muito desconhecida.
O computador como tecnologia de escrita, permite criar aquilo a que chamamos: literacia digital. A escrita digital tem uma materialidade completamente diferente da escrita convencional, contudo, ambas são igualmente importantes.
As obras hipermédia elevam o olhar crítico do leitor, ou seja, é necessário um maior esforço de compreensão. Logo, o leitor vai cada vez mais fundo, a cada obra consegue um pouco mais.... O homem tem tendência para desistir, por isso é que, muitos de nós não admiramos esta forma de arte.

sábado, dezembro 13, 2008

Clair de Lune & Malinowski




Stephen Malinowski, através da música clássica de Debussy tocada em piano - Clair de Lune - criou uma dinâmica obra gráfico/sonora.
No decorrer desta suave melodia, é apresentado um gráfico de barras com as mais variadas cores. As cores funcionam como um código para as notas do piano. Cada cor que aparece, corresponde a uma nota do piano implicada na sonoridade. Ao longo da melodia, as notas vão-se repetindo e, por sua vez, sobrepondo-se. Toda esta dinâmica musical, transforma-se num extenso enredo, que ganha proporções diversas. Proporções tais, que correspondem a cada parte da música em si.


Malinowski é autor de outras obras semelhantes, entre as quais Nocturno do pianista polaco Chopin. Ambas as músicas trasmitem uma sensação de serenidade, assim como a de uma ambiente romântico.

Natureza diferencial da escrita

A escrita possui uma natureza diferencial na medida em que contém um conjunto de elementos fónicos que permitem gerar combinações múltiplas, que variam de língua para língua, que posteriormente geram palavras. Esta natureza diferencial evidencia-se no processo de distinção: a caligrafia. Estas caligrafias ganham sentido através das diferenças que existem entre elas: umas letras são mais redondas que outras, algumas mais bicudas ou maiores, entre outros.
Também a relação entre fonemas e grafemas não é de equivalência: os mesmos grafemas podem representar sons diferentes e os mesmos fonemas podem ser representados por grafemas diferentes. A língua baseia-se então numa estrutura limitada de sons e posteriormente numa reorganização de palavras. Essa reorganização não tem um valor intrínseco, é de razão histórica e convencional.

quinta-feira, dezembro 11, 2008

Strings

A poesia visual de Dan Waber introduz-nos uma discussão em argument. Não sabemos o que a motivou, nem a identidade dos personagens. Observamos apenas o desacordo (Yes/ No) através de um fio (string). Cada interlocutor "puxa" a corda para o seu lado, como no jogo de crianças ou como uma partida de ténis. Não sabemos quem tem razão e à primeira vista parece que são capazes de discutir eternamente.
Sucede-se argument2, no qual um inicialmente tímido Maybe (talvez) se vai sobrepondo aos argumentos de um e de outro, até possuir o protagonismo absoluto. O sim (yes) e o não (no) já não são produto do mesmo fio, mas independentes entre si. As ideias flutuam como se nenhum dos dois saiba já quem tem razão.
Quando os interlocutores começam a flirtar um com o outro, na sequência seguinte, supõe-se uma ligação amorosa entre os dois. Em flirt, um novo fio/ string reúne todas as opiniões: o sim, o não e o talvez, numa amálgama de pseudo-letras oscilantes. As opiniões anteriormente contraditórias fundem-se e transformam-se umas nas outras, como se nenhum pretendesse ter razão absoluta. Os amantes (?) cedem progressivamente um ao outro e negoceiam tréguas.
O flirt continua e é visível um yes esfuziante, que rodopia, parece saltar e correr de um lado para o outro do ecrã. Aparenta haver finalmente consenso e felicidade. A expressão seguinte (haha) confirma-o, através de um fio de risos. Haha surge de um dos lados para se desfazer e, de imediato, ser ampliado no lado oposto e assim progressivamente até atingir o clímax ao ocupar todo o fio. No fim, restam um aha e um heh simultâneos em diferentes partes do fio, mas mais próximos do que os haha iniciais. Parece ter havido uma celebração mais íntima, feitas as pazes...
you and me mostra um you (tu) que ocupa o centro do ecrã e que se movimenta lateralmente, enquanto um me (eu) orbita e saltita em seu redor. O "eu" devota a sua atenção e procura simultaneamente atraír o "tu". Este "tu" parece um pouco hesitante. Avança a passos pequenos como se estivesse a avaliar o piso por onde caminha. Apesar de terem resolvido os problemas iniciais, podem existir dúvidas e questões que ainda ficam por resolver e este "tu" está a ser extremamente cauteloso.
Mas arms revela que existe carinho entre os personagens desta poesia em fios. Num abraço simbolizado por "your arms" (os teus braços) e um círculo imperfeito, mas que pode funcionar como elo de ligação, os dois amantes unem-se.
O poema termina em poidog com a frase (formada por vários fios, palavra a palavra): "Words are like strings that I pull out of my mouth" (As palavras são como fios que puxo para fora da minha boca). As palavras provocam, mas as palavras curam. O seu sentido e função é múltiplo e a percepção de cada uma delas pode variar conforme o contexto e as experiências de quem as ouve. Assim se podem criar as discussões e assim se podem resolver as mesmas.
De um modo divertido e simples, este poema aborda a complexidade da linguagem e do sentido. A interpretação é vista como algo inerentemente associado a ambos os conceitos anteriores e indissociável dos mesmos. Assim, os pequenos episódios que compõem esta história surgem como exemplos do processo de comunicação e do estabelecimento de ligações afectivas entre seres humanos.

Uma narrativa em Azul

Em Twelve Blue, de Michael Joyce, estamos perante uma obra de literatura ergódica. A partir de uma estrutura semi-determinada pelas hiperligações disponíveis, o leitor escolhe o seu percurso de leitura. Cada capítulo (composto por algumas lexias) inclui um pequeno fragmento da narrativa. A premissa inicial é a de um conto em oito barras, as mesmas em que vamos clicando de modo a aceder ao fragmento narrativo seguinte.

Dentro do texto, o narrador desta história fala-nos de vários personagens cujas vidas se entrelaçam e que se influenciam mutuamente, numa narrativa de tom triste (blue, para utilizar a expressão de língua inglesa) mas que poderia ser real. Por vezes enquadra momentos que podem ser considerados reflexivos e uma ou outra imagem por entre os capítulos. No entanto, o que permanece gravado na memória é sempre o azul que emoldura fundo de página e que confere o tom à história.

quarta-feira, dezembro 10, 2008

Ver música

Stephen Malinowski associou a melodia Clair de Lune, de Debussy, a uma representação gráfica das notas que a compõem. O resultado é uma excelente combinação de música e cor, em que, literalmente, "vemos" as notas e a sua execução. O código musical está, neste trabalho, representado pelas barras coloridas que mudam de cor quando está a ser tocada a nota respectiva. Estas barras lembram o pianista que está a interpretar a música, criando um efeito interessante. As próprias pausas foram levadas em contas por Malinowski, que fez algo similar com Nocturne de Chopin.

Esta obra demonstra como dois códigos diferentes, como a notação musical e a cor, podem ser traduzidos, sem que esse processo desvirtue a música ou a imagem. Stephen Malinowski prima pela criatividade e, sobretudo, pela harmonia nestes trabalhos, numa agradável homenagem à música clássica e a dois dos seus grandes vultos.

Strings, Dan Waber

Strings, de Dan Waber, é uma obra que, de certa forma, retrata os diferentes momentos pelos quais um casal passa durante a sua relação. Inicialmente deparamo-nos com um conjunto de opções intituladas “argument”, “argument2”, “flirt”, “flirt (cntd)”, “haha”, “youandme”, “arms” e “poidog”. Cada uma destas opções transporta o leitor para um momento diferente dessa mesma relação: na primeira, “argument”, estamos perante uma discussão em que nenhuma das partes cede, daí as palavras “yes” (sim) e “no” (não); num segundo momento, “argument2”, parece já haver algum entendimento na medida em que aparece um “maybe” (talvez); de seguida temos “flirt” em que existe uma certa confusão de ideias, pois “yes”, “maybe” e “no” fundem-se quase que numa palavra só; num quarto momento, “flirt (cntd)”, deparamo-nos com uma vitória do “yes”, o que evidencia que o casal se juntou de novo, reatou a sua relação; num quinto momento temos “haha” que representa a alegria em que o casal ficou após reatarem; de seguida temos “youandme” e “arms” que representa a união do casal, a comunhão perfeita que existe entre eles; para finalizar surge “poidog” em que a corda forma a frase words are like strings that pull out of my mouth, que sugere que tudo aquilo que dizemos está interligado com algo que já foi dito antes, talvez num outro contexto.
A partir desta análise podemos concluir que Strings, de Dan Waber é uma obra que faz uma reflexão sobre o processo de significação e a natureza da própria escrita, pois todas as palavras que a constituem provêm da mesma linha, da mesma corda, mas no entanto todas elas têm significados diferentes; corda, essa, que, no contexto da relação do casal, não se vê mas sente-se.

Strings - Dan Weber

Dan Weber, em strings, retrata, em primeiro plano, uma discussão, tendo um lado afirmativo (yes) e o negativo (no). A discussão passa-se numa linha contínua, visto que o debate é sobre o mesmo assunto.
Em segundo plano, surge, porém, o talvez (maybe), que torna o assunto em discussão mais leve, sem aquela tensão inicial, podendo agora chegarem a um consenso.
Em terceiro plano, vemos um “fraco” que o “no” agora tem com relação ao “yes”, ele agora parece estar sendo convencido pela opinião contrária e já pensa na possibilidade do talvez.
Em um outro plano, a opinião positiva vem agora como quem hipnotiza seu adversário, apontando questões que possam mudar a opinião deste. Parece que chegam a um senso comum e agora, o “vencedor”, “yes”, parece gozar de sua vitória com gargalhadas e mais gargalhadas (hahaha).
A obra continua com o surgimento de novas oposições, mas que agora vem com a intenção de um acordo maior; “youandme” aparecem entrelaçados como se tivessem, finalmente, chegado a um senso comum e terminado a discussão em paz, ou não, visto que “arms”chegou a aparecer nas mãos de ambos.

Hegirascope, um labirinto caleidoscópico

Ao iniciar Hegirascope, a cor viva do fundo da página é o primeiro elemento a sobressair. Enquadra palavras que aparentemente não têm qualquer nexo e que, antes que as consigamos ler completamente, desaparecem, dando lugar a um novo fragmento de cor e texto. A primeira impressão é confusão absoluta. Durante minutos sucedem-se as partes desta história da autoria de Stuart Moulthropp, moldando continuamente cores e palavras na retina. A obra avança ao seu próprio ritmo, lento ou rápido, mas sem parar. O leitor pode tentar travar o cronómetro invisível, recorrendo às hiperligações, que abrem novas páginas, ou então pode deixar o tempo seguir o seu curso e tentar ler o mais rapidamente possível.

A história começa e acaba, mas a narrativa é aparentemente desprovida de continuidade no espaço que ocupa o desenvolvimento. O leitor pode escolher o seu caminho através das hiperligações e, assim, como através de um rasto de migalhas ganhar consciência do espaço que percorreu para atingir a conclusão. A interpretação é individual, mas não é dependente do percurso de leitura. Cada um pode tentar atribuir alguma coerência às sequências de episódios aparentemente desconexos, mas vista a obra na sua globalidade não há qualquer alteração ao conteúdo. O sentido que se atribui a Hegirascope é ditado pelas experiências de vida do leitor e nada mais.

Em suma, esta criação literária em hipertexto permite-nos uma reflexão sobre o labirinto que percorremos para compreender o sentido das coisas. Podemos esperar passivamente até sermos guiados até à saída ou podemos encontrar o nosso próprio caminho. O que encontramos do outro lado é igual para todos, apenas visto e interpretado por olhos e experiências diferentes.

Clarice Lispector, Amor.

Na narrativa de Clarice Lispector prevalecia a existência de uma mulher comum de seu nome Ana ,que era casada, mãe de filhos. A sua vida era normal, "os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira e sumarenta. Cresciam, tomavam banho, exigiam para si, malcriados, instantes cada vez mais completos."
A vida de Ana era rotineira e feliz em seu apartamento no nono andar, costurava para os meninos, recebia o seu marido de volta em casa todas as tardes e os movéis empoeirados todas as manhãs "como se voltassem arrependidos". Um dia, foi às compras e, depois, cansada, subiu no bonde para voltar à casa. Recostou-se no banco, procurando conforto, num suspiro de meia satisfação. Revê a sua vida: plácida, sem tempestades, tudo no lugar. Com o saco de tricô que ela mesma tecera ao colo, cheio de ovos frescos, Ana é apenas uma mulher que vai às compras. Mas vê, com o bonde parado, um cego que, indagando, no escuro de si mesmo, com as suas mãos estendidas para a frente, sorri.
Por fim, Ana tem como realização,a revelação da sua vida. Descontrolada emocionalmente, perde o ponto onde deveria descer. Desce no Jardim Botânico e lá permanece, com a alma em estado de sobrelevação, por toda a tarde, até que anoiteça e se veja sozinha. Grita para que abram o portão e arfante chega à casa, onde faz um jantar às pressas para a família. Durante o jantar, não presta atenção a nada, a vida está modificada, o homem mascando chiclete, a cegueira e a vida, a certeza de que a humanidade sofre. Aperta o filho a ponto de assustá-lo e, quando todos se vão, diante do espelho, ouve o fogão dar um estouro. Era um defeito do fogão, mas que a traz de volta para a vida quotidiana. Abraça o marido, diz que não quer que ele sofra (ela mesma estava sofrendo por ter descoberto o mundo). Ele ri,e ela, antes de dormir, sopra a flama do dia.

Michael Wesch,The Machine is Us/ing Us

Perante a visualização do vídeo “The machanine is us/ing Us”,Michael Wesche nos vai demonstrar o potencial do texto digital que liga especificamente hípertexto. Através de um movimento retórico que opera tanto visualmente e verbalmente: o ponteiro do rato para clicar na frase "here" e "here" e "here", que se deslocará para uma nova localidade do ecrã com cada clique, como faz com a palavra "anywhere". Claramente Wesch faz questão de sublinhar a dimensão espacial do hipertexto, a sua capacidade de transportar-nos para qualquer lugar.
Apesar de estarmos a presenciar esta evolução, a Web 2.0 pode ser entendida, acima de tudo, como um conceito. Numa perspectiva educativa, a dinâmica que está associada à web 2.0, permite uma interacção, uma construção do conhecimento baseada na partilha da informação. Aqui todos os participantes actuam e são autores neste processo. Vejamos o caso dos blogs (falo dos educativos), wiki's e foruns de discussão disponiveis em várias comunidades. Um outro aspecto que me parece bastante relevante e que trás algo de novo, é a preocupação com a acesibilidade. Estaremos a caminhar para uma cultura de inclusão?

Shelley Jackson, My Body

Perante a visualização hípertextual dos vários fragmentos do corpo de Shelley Jackson ,vemos em cada secção do seu corpo na sua maneira de mostrar o que ela gostou em sí própria.Embora em alguns pontos ela pense criticamente no que ela gosta mais,e no que está a fazer com o seu corpo,perante a leitura dos textos,eu não pensei por um momento que esta mulher fosse igual a muitas outras que se comparam como modelos,o que demonstra que existem diferenças.

Na secção sobre os seus braços,ela comenta como as outras mulheres queriam ser como ela e perguntam-lhe como ela conseguiu os seus braços sendo tão apertados e fortes, e estavam com ciúmes quando ela afirmou que isto é como ela é naturalmente.Acho que shalley Jackson foi capaz de ver as suas próprias falhas,defeitos que o público a olho nú vê que ela tem ,mas eu penso que ela foi capaz de encontrar uma maneira de aceitar todo seu corpo,porque ela gostou do que ela realmente é.

De uma certa forma ela estava a demonstrar na sua forma de arte,a outras mulheres que imperfeição é sinal de beleza,contrariando a tradicional concepção da beleza exterior na sua unicidade.