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O poema hipermédia de Rui Torres - Húmus Poema Contínuo - tem como base de criação, os texto elaborados por Herberto Hélder, poeta português e Raúl Brandão, jornalista e, também, escritor português.
Húmus de Raul Brandão foi documentado durante a primeira guerra mundial e a sua primeira publicação foi no ano da Revolução Russa. Esta obra tem suscitado diversificadas opiniões por parte da crítica literária, interessando salientar o seu carácter de "antecipação".
Tal como no poema reescrito por Rui Torres, Raul Brandão define-se pela reedição e reelaboração da sua própria escrita, criando uma narrativa bastante instável e fragmentária.
Por sua vez, Herberto Hélder também se caracteriza pela sua reinvenção literária e pela sua grande capacidade de criatividade e talento para a escrita. Na década de 60, o poeta criou um conjunto de exercícios hipertextuais, fazendo parte de um restrito conjunto de impulsionadores da literatura hipertextual.
Como o próprio título sugere, "Húmus" exibe a transformação, a existência de variadas possibilidades do ser humano conceber as suas próprias experiências que, naturalmente, se transformam em sequência do Mundo em que vive e da sua percepção acerca deste mesmo Mundo.
Numa primeira abordagem a esta obra digital, surgem-nos dez conjuntos repartidos de pequenos excertos poéticos que, conforme o clique do espectador, vão-se modificando e formando novos significados. Simultaneamente, surge-nos o número de possibilidades possíveis na criação destes poemas, somente com aquele conjunto de caracteres. Existe, de facto, uma enormidade de diferentes tipos de interpretação, directamente acessíveis ao espectador.
Esta carcterística, presente na obra, demonstra, na íntegra, toda a capacidade interactiva e inovadora que esta nova arte de conceber a literatura mundial oferece a uma sociedade que se apresenta, profundamente, unida às novas tecnologias e às funcionalidades que estas oferecem.
Nesta poesia aparecem, constantemente, símbolos, nomeadamente, a água, o ouro, a morte, o silêncio, a ressurreição, o tempo, o sonho, entre outros.
O silêncio surge como um elemento essencial, tendo uma dupla intenção de morte e de renascimento, revelando-se como um componente activo da linguagem. Este próprio silêncio denota-se na inexistência de qualquer tipo de som aquando da apresentação deste poema digital. Também, a imagem de primavera trás consigo o símbolo da fecundação, do nascimento e da transformação. A água é o símbolo da pureza, da vida e, de certa forma, um meio de sobervivência e transparência.
Analisando estes conceitos, podemos examinar, directamente, o próprio conteúdo dos versos onde são transmitidas mensagens puramente humanas e profundamente sensíveis e emotivas. A própria composição de cores, imperada pelo branco (a vida) e preto (a morte), demosntram esses mesmos extremos que , por vezes, podemos mergulhar em determinados momentos da nossa vida.
O texto revela um carácter intenso e bastante sensorial, transportando o leitor para um novo Mundo, podendo considerar-se como um ponto de partida para a reflexão da própria vida e do seu verdadeiro significado. Existe um sentimento de libertação e transformação que deriva da dinâmica vital do sujeito. Estar vivo é estar em transformação constante, e essa transformação implica uma reescrita. No fundo "Húmus" completa-se a partir do passado e do presente, da tradição e da inovação, do silêncio e da vida.
Na minha perspectiva, este poema retrat, de uma forma muito subtil e inteligente, a existência humana que se baseia em diversos símbolos que guiam a nossa vida e a forma como encaramos as nossa experiências. É um projecto bastante completo que conjugou, perfeitamente, o conteúdo original dos escritores Herberto Hélder e Raul Brandão com as novas concepções da escrita digital. Esta nova forma de apresentação, na minha opinião, permite uma maior aproximação do leitor com o conteúdo inerente à mensagem, podendo considerarmos que, possivelmente, terá um maior efeito no leitor em questão.